28 novembro, 2007

Encontrámo-nos em Estocolmo (via Porto, Salamanca, Madrid, Paris, Bruxelas, Frankfurt, Malmö e Jönköping)

Quando era pequeno e tinha que me deslocar a pé entre minha casa e a escola ao amanhecer (e vice-versa ao anoitecer), num percurso que a minha ingenuidade infantil me fazia supor que teria 10 quilómetros de comprimento (e que mais tarde vim a saber ser uma distância substancialmente mais reduzida), lembro-me de todos os dias dizer mal da minha vida por ter que fazer aquele percurso sinuoso a pé com a mochila pesada a atirar-me para baixo e a obrigar-me a ter que fazer o dobro do esforço que faria se não tivesse que transportar dezenas* de livros pesados dos quais apenas precisava de umas páginas por dia (os livros escolares deviam vir em fascículos coleccionáveis, não precisamos de todas as páginas de cada livro no mesmo dia ao mesmo tempo).

Uma das coisas que me faziam esquecer o peso ridículo da pasta e as dores dos músculos das pernas no seu esforço quase inútil contra a gravidade, eram os comboios que insistiam em continuar a sair da estação sobrevoada pela ponte onde me empoleirava para ver os comboios partir.

Imaginava para onde iriam todas aquelas pessoas, algumas com o seu ar atarefado e aborrecido, outras com uma felicidade que chegava a iluminar as cabines do meio de transporte mais místico e barulhento de todos.

Mas, apesar de toda aquela imaginação, pensava que todo aquele conjunto de ferros que encaminhavam as carruagens teriam um fim, algures numa aldeia próxima.

Hoje sei que isso não é verdade, que as estradas de ferro se prolongam e entrelaçam por milhares de quilómetros, só acabando lá longe, numa montanha gelada da Sibéria, ou numa linha inutilizada de Trás-Os-Montes, ou até, se quisermos, nem chegando a acabar, porque todas essas linhas perdidas não têm que ser o fim da nossa viagem, mas o início da viagem pelo mundo de alguém dessas terras aparentemente perdidas.



As Músicas
Não é impossível, se bem que possa ser demorado, ir de comboio até à Suécia e parar em Estocolmo para absorvermos os novos sons que vêm desse local longínquo e frio. Porque está frio, mas existem sítios piores, três músicas de duas bandas de Estocolmo.

Os Shout Out Louds começaram a carreira com o nome Luca Brasi, mas felizmente viram-se forçados a mudar de nome porque já existia uma banda com esse nome. Foi em 2003 que lançaram este Howl Howl Gaff Gaff na Suécia, mas foi só em 2005 que o exportaram para o mundo.


Everyone's got someone I've got none
Everyone's got someone, I've got no one
But I try to find out what to do with my life
Here it comes at last and my heart beats faster than some, faster than the train in my mind
Everyone can see me when I'm numb
And tell me what I look like when I stumble
While I try to find out What I do to your life




Esta é do segundo álbum dos Shout Out Louds, Out III Wills que foi lançado este ano, apenas com cinco meses de diferença para o resto do mundo, o que até é muito para a geração MP3 (raios! isto soou a subtítulo de novela juvenil da TVI). Nota-se uma grande evolução do álbum anterior para este, mas continuam aqueles pormenores nórdicos como as guitarras e os pequenos pedaços de electrónica minimalista.


The words came like a hard rain.
And your smile changed like a hurricane.
Your breath smells like cardamom.
And the words came just like a hard rain.

I recall you said you missed me.
I was afraid I acted desperately.
I recall you said it for hours.
Then again it doesn't matter.

I never tried, I never dared, I wish I'd said something.
But I've been standing outside your door,
at least that's something.
Your breath smells like cardamom.
And the words came just like a hard rain.

I try to tell myself at night when the dusty old pictures are all out of sight that I think I will be alright. Just don't come closer morning light.




Os Last Days Of April são então outra banda de Estocolmo que já existe desde 1996, mas que só fiquei a conhecer a partir deste If You Loose It de 2004 e que se têm tornado na minha mais recente paixão em termos musicais. Entretanto já saiu outro álbum este ano, chama-se Might As Well Live e do qual não vou meter aqui nenhuma música mas podem pesquisar por ele nos sítios do costume, que não se vão arrepender.


Tears on hold
That's what it feels like coming home
Thought i had to go away to get the gold, never thought i could find it here at home

The disease is traveling through my bones, but soon i'll be healing where i was born
Where everything is far and you need your car, but where it is fine to be who you are

It's something but not much comparing to...

So instead of going some place i don't belong, i'll stay at the same place i get along
I can't compare you to places that i go
And if i leave you, it's for the joy of coming home



* Exagero para um maior efeito dramático
 

 
     

26 novembro, 2007

Mundo Ao Contrário


?ohlepse oa otsiv é odnauq oirártnoc oa acif odnum o euq mararaper áJ
.oirártnoc oa odnum eleuqan reviv a uotse euq otniS







As Músicas
Por ocasião da celebração dos 20 anos dos Xutos & Pontapés (há quase 10 anos, para o ano eles já fazem 30 anos de carreira), reuniram-se 20 bandas para lhes prestar homenagem em 20 covers das músicas originais. Esta foi a versão dos Ornatos Violeta para a Circo de Feras de 1987! (A versão original está mais abaixo)


A vida vai torta
Jamais se indireita
O azar persegue
Enconde-se á espreita

Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo

Enquanto esperava no fundo da rua
Pensava em ti e em que sorte era tua
Quero-te tanto...
Quero-te tanto...

Do modo que a vida
È um circo de feras
E os entretantos
São as minhas esperas

Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo

Enquanto esperava no fundo da rua
Pensava em ti e em que sorte era a tua
Quero-te tanto...
Quero-te tanto...




A vida vai torta
Jamais se indireita
O azar persegue
Enconde-se á espreita

Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo

Enquanto esperava no fundo da rua
Pensava em ti e em que sorte era tua
Quero-te tanto...
Quero-te tanto...

Do modo que a vida
È um circo de feras
E os entretantos
São as minhas esperas

Nunca dei um passo
Que fosse o correcto
Eu nunca fiz nada
Que batesse certo

Enquanto esperava no fundo da rua
Pensava em ti e em que sorte era a tua
Quero-te tanto...
Quero-te tanto...
 

 
     

23 novembro, 2007

Cartas De Amor

O rádio saltou-me para as mãos numa aceleração mais a fundo. O meu amigo, que ia a conduzir, estava mais interessado em observar o rabo de uma transiente d0 que no que se estava a passar no trânsito ou com o rádio que presumo saltar para fora sempre que necessita de atenção.

Tentei colocar o rádio no sítio e carreguei acidentalmente no botão mágico que escolhe a rádio na frequência a seguir. Era uma rádio local onde uma espécie de psicólogo (Frasier, és mesmo tu?) estava a falar de cartas de amor.

O meu primeiro comentário (incendiado pela voz nasal do senhor que falava na rádio) foi de dizer com aquele sorriso sarcástico: “Quem é que escreve cartas de amor hoje em dia?”.

Depois calei-me ao reflectir que eu escrevo cartas de amor...

Enquanto pensava nas poucas cartas de amor que escrevi, naquele romantismo inútil que me caracteriza, pensava também que nunca tive uma resposta a nenhuma delas.

Não é que a minha vida romântica seja assim tão má (ou se calhar é, e eu não quero admitir), mas na verdade, quer a minha amada estivesse ou não apaixonada por mim, nunca ninguém se deu ao trabalho de me responder.

Eu acho isso bastante estranho, mas isto sou eu que sou estranho e escrevo cartas de amor quando o resto do mundo anda a enviar SMS com palavras abreviadas.



As Músicas
Encontrei esta música quando andava à procura de coisas do António Variações no YouTube. Esta música foi tocada ao vivo aparentemente numa gala da TVI para ajudar criancinhas com fome em África. Hum... Não, isto não está bem. Bom, não sei para que era a gala, nem quero saber, só sei que a versão dos Toranja para a Canção de Engate do Variações está muito boa, e até tem uma orquestra a acompanhar! (Como se nota pelos 40 segundos orquestrais no início, não desesperem, vale a pena)


Tu estás livre e eu estou livre
E há uma noite para passar
Porque não vamos unidos
Porque não vamos ficar
Na aventura dos sentidos

Tu estas só e eu mais só estou
Tu que tens o meu olhar
Tens a minha mão aberta
À espera de se fechar
Nessa tua mão deserta

Vem que o amor
Não é o tempo
Nem é o tempo
Que o faz
Vem que o amor
É o momento
Em que eu me dou
Em que te dás

Tu que buscas companhia
E eu que busco quem quiser
Ser o fim desta energia
Ser um corpo de prazer
Ser o fim de mais um dia

Tu continuas à espera
Do melhor que já não vem
E a esperança foi encontrada
Antes de ti por alguém
E eu sou melhor que nada




Adoro o ambiente retro destes senhores escoceses que foram buscar o nome a um conto francês para crianças chamado Belle et Sébastien que conta a história de um rapazinho de 6 anos chamado Sébastien e do seu cão Belle.


I wrote a letter on a nothing day
I asked somebody, “Could you send my letter away?”
“You are too young to put all of your hopes in just one envelope”
I said goodbye to someone that I love

It’s not just me, I tell you it’s the both of us
And it was hard
Like coming off the pills that you take to stay happy
Someone above has seen me do all right
Someone above is looking with a tender eye
Upon her face, you may think you’re alone but you may think again

If I could do just one near perfect thing I’d be happy
They’d write it on my grave, or when they scattered
my ashes
On second thoughts I’d rather hang about and be there with my best friend
If she wants me

And far away somebody read the letter
He condescends to read the words I wrote about him
And if he smiles, it’s no more than a genius deserves
For all his curious nerve and his passion

I’m going deaf, you’re growing melancholy
Things fall apart, I don’t know why we bother at all
But life is good and it’s always worth living
At least for a while

If I could do just one near perfect thing I’d be happy
They’d write it on my grave, or when they scattered
my ashes
On second thoughts I’d rather hang about and be there with my best friend
If she wants me

If you think to yourself, “What should I do now?”
Then take the baton, girl, you better run with it
There is no point in standing in the past
Because it’s over and done with

I took a book and went into the forest
I climbed the hill, I wanted to look down on you
But all I saw was twenty miles of wilderness
So I went home
 

 
     

22 novembro, 2007

Cupido Morreu Numa Noite Fria De Outono

Não queria nada sair de casa mas lá peguei no casaco, que julgava ser quente, e fiz-me à estrada com os dois pares de meias a separarem os pés cheios de bolhas dos pedais de plástico do carro que naquele dia específico (e apenas naquele dia) me fizeram lembrar os pedais da minha primeira bicicleta.

Estava ainda cansado do dia anterior e cheio de fome. Trinquei um objecto em forma de maçã que, ao ser uma maçã verdadeira, seria a maçã mais dura do mundo. O resto da viagem não merece grande referência, também não estava com a cabeça na viagem, deixei o meu corpo em piloto automático, a pedalar naquele triciclo de gente crescida.

Cheguei perto dela envergonhado, é uma infantilidade que só sinto quando estou perto de muito poucas pessoas e que faz com que o meu cérebro regresse ao estado em que estava quando tinha 6 anos de idade. Juro que não conseguia fazer frases com mais de três palavras, enquanto que ela ia proclamando longos poemas sobre coisas interessantíssimas com a naturalidade de uma pessoa que já viveu mais de vinte anos.

Eu ia-me deixando estar naquele silêncio voluntário que só eu pareço achar confortável, apercebendo-me de um facto que me atingiu como um raio: Cupido não existe, é uma figura mitológica!

(Ela viria-me a dizer uns dias mais tarde que eu não tinha nada que me armar em algo que não sou, que o fato ridículo de cupido era a minha forma cobarde de não deixar que as pessoas se aproximem demais de mim, com medo de as magoar, com medo de me magoar. Ela tem razão e eu, mais uma vez, estava errado. Sei admitir quando erro...)



As Músicas
Estava eu a nascer num país ainda adormecido e andava um "louco" a incendiar a música e a mentalidade portuguesa. António Joaquim Rodrigues Ribeiro (António Variações) era acima de tudo um visionário e, como todos os visionários, foi mal tratado e incompreendido. Numa altura em que meio mundo andava ocupado com o Glam Rock e a Disco, ele andava ocupado a misturar tudo isso numa daquelas trituradoras beje e cor-de-laranja que inundavam as lojas da altura.


Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
A minha forma
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde eu não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou




Uma vez cometi aquele que deve ter sido o erro mais infantil da minha vida: troquei um bilhete para os Belle & Sebastian por um DVD aparentemente raríssimo de um filme cuja história me apaixonou. Eu adorei o filme e é certamente dos melhores que já vi em toda a minha vida, mas o filme arranja-se facilmente numa qualquer loja online, o concerto ao vivo dos Belle & Sebastian não...


The boy done wrong again
Hang your head in shame and cry your life away
The boy done wrong again
Hang your head in shame and cry your life away
Are you ok now?
Are you ok now?

On Saturday I was an angel shining fair
You shone louder, longer
You put my shine to shame
Put me to shame now
Put me to shame

What is it I must do to pay for all my crimes?
What is it I must do?
I would do it all the time
Do it all the time, now

All that I wanted was to sing the saddest song
And if you would sing along I will be happy now

The woodland spring has put the darkness from your thinking
If this town's your sinking ship
Then you know where to jump
Talking dirty, for a hobby that's all right
Pour another glass of wine
I'll think of England this time

All I wanted was to sing the saddest song
And if you would sing along
Oh, if you would sing along
If you'd only sing along
I would be happier



--------------------------------------- (cortar por aqui) ---------------------------------------


Por mais voltas que dê ao mundo, por mais que tente afastar-me de ti, a evidência de que a terra é redonda traz-me sempre de volta a ti. Não é que não queira voltar para ti, o problema é que quero, e mais do que devia. Até dou saltos no ar na esperança que a terra gire e que me aproxime mais de ti quando volto ao chão.



A Música
Não sei descrever bem a música do Rodrigo Leão, acho que é daquelas coisas inclassificáveis, uma mistura de carrossel à beira mar com o ambiente über sofisticado de um arranha céus de vidro deserto.

"Perdi-me Amor / Pra te encontrar / Na solidão / Do teu olhar"

"No teu olhar / Se perde o meu / Também o mar / Se perde no céu"

(Tenho pena das pessoas que não sabem português, acho estas algumas das palavras mais bonitas que já se escreveram, sem tradução à altura para qualquer outra língua do mundo)


Manhã Cinzenta
Faz me chorar
A chuva lembra
O teu olhar
As folhas mortas
Caem no chão
A dor aperta
O coração
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta pra meu peito
Daqui não saias mais

Perdi-me Amor
Pra te encontrar
Na solidão
Do teu olhar
No teu olhar
Se perde o meu
Também o mar
Se perde no céu
Quanto eu não daria
Para poder voltar atrás
Volta pro meu peito
Daqui não saias mais
 

 
     

21 novembro, 2007

Onde Anda A Lua?

A noite estava fria (típica de um mês que tem sido atípico) mas o céu estava limpo e estrelado. Conseguía ver todas as constelações visíveis do hemisfério norte. Se ao menos soubesse o nome delas... Não quero saber, é o mistério dos pontinhos de luz que antigamente se acreditava serem os buracos do paraíso.

Nessa noite estrelada, a única coisa que não era visível era a Lua.

Enquanto tentava encontrar uma qualquer explicação cientifica para o estranho fenómeno, olhei para o lado e ali estava ela, a Lua, sentada ao meu lado, toda triste.

Senti uma enorme pena da Lua, em vez de estar lá em cima, que é o seu lugar, estava ali em baixo comigo, a contar estrelas e a dar-lhes nomes falsos, à procura de si própria.



As Músicas
Não sei ao certo quando foi que me apaixonei pela Amália, devia ser muito pequeno ainda. Lembro-me de ouvir os discos de fado do meu pai e de não gostar nada daquilo, porque não percebia ainda o que era essa coisa de ser português, mas sempre e sempre gostei desta senhora que pediu a voz emprestada a Deus (sempre achei que Deus, a ter uma voz, teria a voz dela).

Esta música é uma raridade que não é bem Fado, mas também não é Jazz, nem Blues, é um híbrido que ficou algures no meio disso tudo (e mais alguma coisa que agora me esteja a escapar), é Amália a cantar em inglês naquele jeito que é tão (e só) dela.


Blue Moon
You saw me standing alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own
Blue Moon
You know just what I was there for
You heard me saying a prayer for
Someone I really could care for

And then there suddenly appeared before me
The only one my arms will hold
I heard somebody whisper please adore me
And when I looked to the Moon it turned to gold

Blue Moon
Now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own

And then there suddenly appeared before me
The only one my arms will ever hold
I heard somebody whisper please adore me
And when I looked the Moon had turned to gold

Blue moon
Now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own

Blue moon
Now I'm no longer alone
Without a dream in my heart
Without a love of my own




Sun Kil Moon é uma das minhas maiores surpresas em termos musicais deste ano, a música do Mark Kozelek transmite-me uma paz interior indescritível, é toda uma “melancolia alegre” que me invade os sentidos!


Smile down on us sun, show your rays
When things come undone
All animals lead, us to light
When we can't see
Stars, saturn and moon, glow for those
Who cannot get through
Rain fall and voice sound for those of whom
Still are not found

Gentle moon, find them soon
Gentle moon, find them

Black sky and black sea, lighten up
When we can't breathe
All dreams escape fire, over worlds
Fly but won't tire
Slow down on us wind, hold us still
When everything spins
All secrets and lies, let them out

Dreams escape fire, they won't tire
Dreams escape fire, they won't tire

Gentle moon, find them soon
Gentle moon, find them soon

All calendars pass, days die off
And hope cannot last
But if love was like stone, then yours was mine
Through to my bones
But how can we give back to those
With whom we can't live
When will the flame break
And spare the good people it takes

Souls escape fire, they rise higher
Souls escape fire, they rise higher

Gentle moon, find us soon
Gentle moon, find us soon
 

 
     

20 novembro, 2007

O Homem Que Estava Sempre A Sorrir

Eu não estava num daqueles dias particularmente felizes, especialmente porque sentia as mãos frias, provavelmente por não ter onde as aquecer, até já pensei em arranjar umas daquelas luvas que não têm sítio para todos os dedos (só têm um sítio para o polegar e outro para o resto dos dedos) só para sentir as mãos presas, como se alguém as estivesse a apertar, a amarrar, a acariciar.

Tirei a cara do chão para não ser atropelado ao atravessar a rua e foi aí que o Homem Que Estava Sempre A Sorrir não parou de sorrir ao parar o carro para me deixar passar. Não pude deixar de sorrir para o homem, foi uma coisa mais forte que eu, irracional. De repente senti toda uma empatia com aquele homem que não parava de sorrir, vá-se lá saber porquê.

Passei a enorme praça com os olhos postos nas pequenas pedras brancas e azuis que constituem a calçada portuguesa. Tinham desenhos, sei que tinham, mas não reparei neles, só reparei nas pequenas pedrinhas de cores diferentes. É um dos meus defeitos, fico tão obcecado com todos os pequenos detalhes que acabo por me esquecer dos detalhes maiores que compõem esses mais pequenos.

Parei novamente para atravessar a outra rua e lá estava ele outra vez, o Homem Que Estava Sempre A Sorrir voltou a parar na outra rua para eu passar e não parava de sorrir.

Mais tarde vim a descobrir que o seu sorriso não era voluntário, o Homem Que Estava Sempre A Sorrir teve uma trombose (tromboembolia) e, em vez de ficar com uma paralisia estranha, ficou com um sorriso permanente na cara!

Hoje pareceu-me ser o primeiro dia de Outono a sério e não consegui também parar de sorrir ao ver as folhas castanhas a cair ainda mais frequentemente, com o peso da água da chuva a deitá-las abaixo e o vento a atirá-las à minha cara.



A Música
Não pude deixar de resistir a esta música daquele que é, para mim, o melhor álbum de 2007 (e não me estou só a referir aos Portugueses). O Tiago Bettencourt fez uma pausa (definitiva?) dos Toranja para nos oferecer este FABULOSO O Jardim. Dizem por aí (como se isso fosse dar mais credibilidade ao álbum) que foi gravado no mesmo estúdio onde os Arcade Fire gravaram a obra prima Funeral e também com a ajuda do ex-Arcade Fire Howard Billerman que produziu esse primeiro álbum.


Hoje, só por ser Outono, vou chamar-te "meu amor"
Contra as regras do que somos, vou chamar-te "meu amor"
Hoje só por ser diferente te encontrar

É tanto o fado contra nós
Mas nem por isso estamos sós
E embora fique tanto por contar
Hoje, só por ser Outono, vou...

Entre dentes, entre a fuga, vou chamar-te meu amor
Enquanto não se encontra forma, vou chamar-te "meu amor”"
Entre gente que é demais e tão pequena para saber

Que é tanto vento a favor
Mas tão pouco o espaço para a dor
Só pode ficar tudo por contar...
Hoje, só por ser Outono, vou...

E há flores e há cores e há folhas no chão
que podem não voltar...
que podem não voltar.
mas é eterno em nós
e não vai sair...

Desce o tempo e a noite vem lembrar que as tuas mãos também
já não são de nós para ficar

Por ser tanto quanto somos
Certo quando vemos
Calmo quando queremos
Hoje só por ser Outono, vou...


(O frio tem um romantismo especial que o calor, com todos os seus clichés, não consegue atingir. O Inverno arrefece-nos e um simples toque aquece, mais por dentro que por fora)
 

 

 

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