30 julho, 2007

Dias de verão

Não sei o que quero dizer, quero dizer tanta coisa e acabo sempre por não dizer nada. E os dias vão passando, e vão-se juntando e formando meses até que o que quero dizer não passa de uma memória do tudo o que quis dizer e já sei que quando o disser, se acabar por dizer, vai ser apenas um resumo do que me lembro que queria dizer.

Enquanto contava uma história desastrada a um grupo de crianças de peluche atentas a todos os pormenores, lembrei-me dela e do seu sorriso que me tira o sono. É isso que quero dizer, quero falar do sorriso dela. Já vos falei do sorriso dela? Tenho que vos falar do sorriso dela...



A Música
Porque o Brasil não é só Cansei de Ser Sexy, aqui vai uma música dos Los Hermanos, a Pois É do álbum 4 de 2005. Confesso que não conheço muitas mais músicas deles, mas as poucas que conheço são boas...

Existe também uma versão desta música com os Toranja ao vivo no YouTube aqui.


Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
Avisa que é de se entregar o viver

Pois é, até
Onde o destino não previu
Sem mais, atrás vou até onde eu conseguir
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar
 

 
     

15 julho, 2007

Ao fundo ouve-se o mar

Reconheci-a no seu vestido vermelho, ao longe, com o seu caminhar confiante que parecia afastar toda a multidão que se rendia aos seus encantos, como que enfeitiçados pelo seu perfume por esta altura já entranhado nos meus sentidos. Pensando bem, talvez nunca me tivesse largado desde a última vez que a vi.

Ela aproximou-se de mim como se eu não fosse ninguém, como se não se tivesse deslocado até ali de propósito por mim e fingiu encontrar-me de repente, de surpresa, um amigo que já não via há muito tempo.

E eu? Eu fingi que o meu coração não saltou uma batida quando a vi, fingi que ele não estava agora a correr uma maratona dentro do meu peito com toda aquela visão de luz e feminilidade.

Entregou-me uma carta agarrada a uma rosa vermelha por um fio que reconheci de uma prenda que lhe havia oferecido uns tempos antes. Beijou-me e desapareceu na mesma multidão de pessoas embebedadas pelo seu cheiro. Não me falou nem eu me lembro de ter falado alguma coisa, ela acha o silêncio a palavra mais sensual que não consta dos dicionários.

E eu? Eu não consigo sequer somar um mais um quando estou com ela, sinto que o pequeno dicionário que habita a minha cabeça se transforma num grande livro de páginas brancas onde se descreve o silêncio.

Encostei-me ao mar para ler a sua carta. Não estavam lá muitas palavras, de facto, nem sequer era uma frase mas um conjunto de palavras e números muito objectivos que assinalavam uma data e um lugar.

Ela é objectiva. E eu? Eu sou subjectivo, gosto de não saber, de saber meias verdades, meias palavras, meias frases que são ditas completas mas que metade se perde no vento forte que vem do mar.

Ela gosta de pensar que tem tudo o que quer. E eu? Eu não sou um jogo que se brinca e deita fora, ela vai ter que se esforçar mais…

E ao fundo ouve-se o mar.



A Música
Adoro esta menina de olhos sempre esbugalhados que parece devorar todos os sentidos ao mnundo com cada olhar. A menina chama-se Mafalda Veiga e tem uma voz que parece ser sempre capaz de nos acalmar, seja qual for o demónio que nos atormenta.


Agora, que a chuva cai, devagar
La fora, e a noite vem devorar
O sol, e tudo fica em silencio
Na rua, e ao fundo, ouve-se o mar.
Ouve-se o mar.

Agora, talvez te possas perder
Devora, o que a saudade te der
A vida leva pra longe pedacos
O tempo, deixa o sabor de um regaco.
E ao fundo, ouve-se o mar.
Ouve-se o mar.

Agora, que a agua inunda os teus olhos
E o mundo, ja nao te deixa parar
No escuro, voltam as histórias perdidas
Na alma onde nao podes tocar.
E ao fundo, ouve-se o mar.
Ouve-se o mar.
 

 
     

02 julho, 2007

Clubbin’

Era já tarde quando entrámos no pequeno barzinho daquela zona chique da cidade. O ambiente era calmo e acolhedor, estava diferente da última vez que lá tinha ido. As cadeiras foram substituídas por sofás e puffs, as mesas eram agora do tamanho do chão e a decoração era em tons de preto e vermelho.

As pessoas estavam descontraídas e mal vestidas, longe vão os tempos em que os clubes se chamavam discotecas e o código de vestuário era uma lista tão longa quanto amaricada. Ainda me lembro de ser chateado por vários senhores entroncados e carecas por tentar entrar com umas sapatilhas coloridas e calças de ganga, ou ténis e jeans, como diz a malta local.

O DJ agora não estava num pedestal da altura da torre das Antas e deixou de passar a tecnolândia dos subúrbios alimentada a vinil para passar uns sons nórdicos muito mais estilizados e urbanos directamente do iPod.

Fomos encaminhados pelo segurança para a zona VIP (como se fosse possível distinguir uma zona da outra) onde nos aguardava o RP (outra modernice para denominar o Relações Públicas, ou melhor, o gajo dos copos que conhece toda a gente). Na mesa estavam duas lésbicas muito pouco discretas, uma das quais abraçada ao RP (o gajo dos copos), duas outras raparigas que emanavam mais brilho que uma bola de espelhos (outra coisa que caiu em desuso) à custa de tanta maquilhagem, não esquecendo os dois quilómetros de pestanas falsas que deviam pesar uns bons dois quilos de maçãs (vá-se lá perceber o fascínio das mulheres pelas pestanas). Estavam também na mesa dois gajos normais com t-shirts que nunca deviam ter saído da feira da ladra, sapatilhas com mais de 20 anos de uso, 30 anos se contarmos desde a data em que foram fabricadas e cabelos despenteados à mão (ok, esses éramos nós…).

Aquelas pessoas acabaram por me surpreender de uma forma estranha. Não esperei nunca que por entre conversas acompanhadas por cerveja (e não um qualquer cocktail com nome tropical) fossem ser abordados temas tão pouco light como política internacional e economia. Mas foram, e deu para perder o preconceito e ver que por baixo da maquilhagem afinal sempre há ali, algures, seres humanos escondidos. Os melhores momentos são mesmo os que nos apanham de surpresa!



A Música
Bonobo é na verdade Simon Green, um DJ británico com nome de macaco, um mestre do downtempo, ou como a malta gosta de lhe chamar, Chillout. Então para descontrair do stresse dos dias ocupados que ficaram para trás, aqui fica este Ketto quase japonês, quase Dub.


 

 

 

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