29 abril, 2008

Com O Sol Partido

Dia de sol escondido nas montanhas de nuvens, ideal para carregar o “Esperto ParaQuatro” de secretárias de vidro e frágeis candeeiros de metal que obrigam a chegar os bancos em demasia para a frente, como se estivéssemos a tentar andar num daqueles triciclos para crianças de 2 anos. (ok, nada de piadinhas sobre o facto do meu carro parecer um triciclo para crianças de 2 anos, até porque tem quatro rodas...). O resto é clássico, vidros abertos e música bem alta nas colunas, quais indivíduos praticantes do street racing (não confundir com os adeptos do tuning, apesar de estes também terem muito mau gosto tanto em termos visuais como musicais).

Depois de correrias com a calculadora na mão para não ultrapassarmos o orçamento magrito que parece que já se anda a alimentar mal de arroz, acabamos com um novo posto de trabalho sem desenhos personalizados, mas com muita personalidade... vá, alguma personalidade, falta ainda o tapete verde com elefantes que irá ser comprado numa praia aquando do avistamento de um marroquino com ventoinhas e tapetes às costas (e por falar nessas criaturas, que é feito delas? Terão os chineses arruinado tão nobre e antiga profissão?) e um sofá de pele sintética imitação de pele de tigre da Birmânia que irá ser adquirido aquando dos saldos loucos de verão da Feira Dos Sofás.

(Se não tivesse vendido a máquina, mostrava-vos o atelier, como a vendi e como detesto máquinas embutidas em telemóveis (por muito boas que sejam), não vos posso mostrar.)




As Músicas
"Que é isto?", "The Duke Spirit", "É fixe!". Normalmente quando alguém pergunta o nome da banda que está a tocar é bom sinal, ou então muito mau sinal: "Que é isto???", "Emanuel feat. Ágata", "Muda isso, é muito mau!!!". Estando eu mais habituado à segunda por parte dos meus amigos com gostos comerciais, foi com agrado que lhes apresentei os ingleses The Duke Spirit, com o seu mais recente Neptune.


Ten english pounds and these hot pavement fields,
As though I'm moving to the end, am I moving to the end of your loving?

How, how did I do this?
Me, I put the wall around my heart
Why didn't I notice such cold detachment from the start?
Oh, the joys they slammed down and the one in this town was bright enough

Without joy, joy, joy in the rain I could feel forever the same
Without joy, joy, joy in the rain I could feel forever the same

So how, how did I do this?
Oh, me I put that box around my heart
Why couldn't I notice such a cool detach from the start?
Oh, the joys they slammed down from the one in this town is bright enough

Without joy, joy, joy in the rain I could feel forever the same
Without joy, joy, joy in the rain, yea I could feel forever the same

Without joy, joy, joy in the rain I could feel forever the same
Without joy, joy, joy in the rain, yea I could feel forever the same
Without joy, joy, joy in the rain, oh I could feel forever the same
Without joy, joy, joy in the rain I could feel forever the same





Ainda é cedo, bem sei, para dizer coisas do género: "Melhor Álbum de 2008" e esperemos que ainda saia algo melhor que este Midnight Boom dos transcontinentais The Kills (guitarrista inglês + vocalista americana), mas para já tenho que admitir que este terceiro filho deles é que mais me anda a fazer abanar a cabeça (e o Sol), apesar da óbvia colagem da vocalista à Karen O dos YYY.


You've got to
You've got to
You've got to
You've got to

Tape ain't gonna fix it
Honey, it ain't gonna stick
Tape ain't gonna fix it
Honey, it ain't gonna stick to you

Six kinds of glue
Won't hold you
Won't hold you
Oh my oh, oh my
You've got to

You've got to go straight ahead
You've got to, you've got to go straight ahead

Time ain't gonna cure you
Honey, time don't give a shit.
Time ain't gonna cure you
Honey, time's just gonna hit on you
I said time ain't gonna cure you
Honey, time don't give a shit
Time ain't gonna cure you
Honey, time's just gonna hit on you

You've got to go straight ahead
You've got to, you've got to to go straight ahead

Time ain't gonna cure you
Honey, time don't give a shit.
Time ain't gonna cure you
Honey, time's just gonna hit on you
I said, six kinds of blue
Won't hold you, won't hold you
Oh my oh, oh my you've got to
You've got to, you've got to

You've got to go straight ahead
You've got to, you've got to go straight ahead





Descobri recentemente esta pequena relíquia do EP de estreia dos Yeah Yeah Yeahs, a tal banda com a vocalista maior que ela própria, Karen O, a raínha do super-trashy-sexy! E de repente Nova York voltou a fazer sentido nos anos 00.


Bang, Bang, Bang. The bigger, the better.
Bang, Bang, Bang. The bigger, the better.
Bang, Bang, Bang. The bigger, the better.
Bang, Bang, Bang. The bigger, the better.

You ain't no baby no more, baby.
You ain't no bigger than before, baby.
I'll rub that cheek right off your lips, baby.
So take a swallow as I spit, baby.

As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.

My skin tonight is a blazin'.
But I don't think ya my type.
What I need tonight's the real thing, yeah.
I need the real thing tonight.

As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.
As a fuck, son, you suck.

Hey, the bigger, the better.
Bang bang bang, the bigger, the better.
Yeah yeah yeah, uh uh uh come on. Yeah yeah yeah.

What I need tonight's the real thing, yeah.
I need the real thing tonight, yeah yeah yeah.
Yeah yeah yeah uh uh uh come on now. Yeah yeah.
 

 
     

23 abril, 2008

Saudade Não É Fado

O trinco da porta a abrir foi a única formalidade a anunciar o início das festividades. Ela chegou-se à frente com dois beijos e um abraço apertado, ele fingia estar a leste de tudo, enquanto enrolava, dobrado sobre a mesa quase à altura do chão, o primeiro de muitos cigarros para o resto da tarde. Ao fundo, na varanda apertada, a menina desengonçada entretanto feita mulher ousada apontava a velha máquina fotográfica de rolo a tudo o que via lá em baixo.

O resto foi o que sempre foram as tardes de sábado: a conversa, a música, o amontoar de garrafas, o cinzeiro micas, as almofadas desconfortáveis, as pausas para silêncio, o incenso aromático e a senhora gargalhada.

Nunca lhe passou pela cabeça que aquilo seria uma despedida. Era... Era apenas mais um sábado. Não seria, por certo, o último sábado da vida deles, apenas o fim de mais uma etapa daquelas vidas ainda curtas, mas já tão atribuladas.

(...)

Quando era já tão escuro que ameaçava ser dia a qualquer altura, chegou-se atrás, encostou-se à parede e, entontecido pelo álcool, soltou uma gargalhada.

- De que é que estás a rir? - Perguntou ela também em gargalhadas, já quase tão dormente como a rapariga que dormia nas almofadas com a cabeça pousada sobre as pernas do irmão prestes a desertar, como ela fizera (por imposição) no seu tempo.

- Lembrei-me agora daquela vez no S. João quando o velhote te pediu em casamento e te queria raptar a toda a força. Lembras-te?

- E a velhota que pensava que tu eras o filho dela? Lembras-te?

- Ou quando rasgaste o vestido e ficaste com as cuecas à mostra, e tivemos que colar...

- ...com fita cola! - Completou com aquela gargalhada familiar - E quando tu perdeste o bilhete e o segurança não te queria deixar voltar a entrar? Tivemos que sair todos do concerto para o procurar e quando o encontrámos o concerto já tinha acabado!

Seguiram-se o resto das gargalhadas que ainda haviam para dar, umas trincadelas em bolachas desenxabidas e um momento de silêncio introspectivo, daqueles em que as gargalhadas dão lugar a um momento sério.

- Ai, ai, o que é que vai ser de mim sem ti? - Perguntou ela, quebrando a introspecção.

- E de mim sem ti? Ainda me esqueço de apertar os cordões e tropeço e caio e tenho que ir para o hospital.

- Anda cá. - Convidou ela, abrindo os braços para um abraço apertado. - Não te esqueças de mim, ouviste? - Ordenou com os olhos já ensopados de lágrimas.

Ele engoliu em seco antes de lhe soprar qualquer coisa, que haverá de se perder no tempo, ao ouvido.



As Músicas
Hum... Radiohead... Radiohead... Que escrever sobre aquela que provavelmente será a melhor banda de todos os tempos? Depois de álbum como Ok Computer, Kid A (considerado por muitos o melhor álbum de todo o sempre) e Amnesiac, era muito dificil estar à altura das expectativas, e Hail to the Thief foi o álbum ideal para resfriar os ânimos. Não, In Rainbows não está à altura do revolucionário Kid A, mas tem algumas músicas do melhor que se faz no mundo na actualidade, como é o caso desta All I Need. (À parte, ou não: É difícil ouvir uma música nova dos Radiohead e dizer: “Hei, isto é Radiohead!”, porque tirando a voz inconfundível do Tom Yorke, a evolução e inovação de album para album é notável e impressionante).


I am the next act waiting in the wings
I am an animal trapped in your hot car
I am all the days that you choose to ignore

You are all I need
You are all I need
I am in the middle of your picture
Lying in the reeds

I am a moth who just wants to share your light
I’m just an insect trying to get out of the night
I only stick with you because there are no others

You are all I need
You are all I need
I am in the middle of your picture
Lying in the reeds

It's all wrong
It's all right
It's all right
It's all wrong
It's all right
It's all right
It's all right





A australiana Sia ficou famosa principalmente pelas suas vocais nos dois geniais primeiros álbuns dos Zero 7 (sim, também participou no terceiro, mas esse não foi genial), mas tem-se destacado sobretudo pela consistência dos seus álbuns a solo, como é o caso deste novíssimo Some People Have Real Problems que tem algumas agradáveis surpresas.


Pick me up in your arms
Carry me away from harm
You’re never gonna put me down
I know you’re just one good man
You’ll tire before we see land
You’re never gonna put me down

Oh I’ve been running all my life
I ran away, I ran away from good
Yeah I’ve been waiting all my life
You’re not a day you’re not day too soon

Honey I will stitch you
Darling I will fit you in my heart
Honey I will meet you
Darling I will keep you in my heart

You’ll risk all this for just a kiss
I promise I will not resist
Promise you wont hold me down
And when we reach a good place
Let’s be sure to leave no trace
Promise they wont track us down

Now I’ve been running all my life
I ran away, I ran away from good
Yeah, I’ve been waiting all my life
You’re not a day, you’re not a day too soon

Honey I will stitch you
Darling i will feel you in my heart
Honey I will meet you
Darling I will keep you in my heart

I’ve been running all my life
I ran away, I ran away from good
Yeah I’ve been waiting all my life
You’re not a day, you’re not a day too soon

Oh honey I will stitch you
Darling I will feel you in my heart
Honey I will meet you
Darling I will keep you in my heart





Em 2006 alguém se lembrou de juntar num álbum (Exit Music: Songs with Radio Heads) algumas covers de músicas dos Radiohead por artistas mais ou menos conhecidos. A Sia fez esta maravilhosa recriação da Paranoid Android.


Please could you stop the noise, I'm trying to get some rest
From all the unborn chicken voices in my head
What's that, what's that

When I am king you will be first against the wall
With your opinion which is of no consequence at all
What's that, what's that

Ambition makes you look pretty ugly
Kicking squealing Gucci little piggy

You don't remember, you don't remember
Why don't you remember my name?
Off with his head man, off with his head man
Why don't you remember my name?
I guess he does

Rain down, rain down, come on rain down on me
From a great height, from a great height, height
Rain down, rain down, come on rain down on me
From a great height, from a great height, height

That's it sir, you're leaving
The crackle of pig skin
The dust and the screaming
The yuppies networking
The panic, the vomit
The panic, the vomit
God loves his children
God loves his children, yeah
 

 
     

15 abril, 2008

Medos

"O que é que se faz a quem quer manter a distância? Continuamos a figura de parvos com tentativas falhadas de aproximação ou damos um passo atrás?", perguntou-me a única pessoa que ainda me percebe, à distância de um telefonema mas ainda mais próxima do que vai estar nos próximos tempos.

Parei um pouco para sacudir a cabeça, na esperança de ver cair o chip microscópico com que ela me lê os pensamentos. Como não o encontrei, presumi que estava implantado no pescoço, ou então que talvez ela fosse mesmo parecida comigo.


"Não sei...", resisti à tentação de responder com um clichê qualquer generalista e continuei, "Às vezes apetece tanto dar esse passo atrás ou, pelo menos, ficar quieto no mesmo sítio, mas essas pessoas nunca se vão mexer, estão agarradas a um orgulho estúpido que não sei descrever."

"Será medo?", perguntou ela tentando acertar a peça do puzzle onde ela não encaixava.

"Medo? Medo de quê?", perguntei preplexo.

"Há pessoas que têm medo, sabes?"

Encurrilhei a testa, dei duas reviravoltas de 360º com os olhos e continuei a série de perguntas sem resposta, ou perguntas respondidas com perguntas: "Não consigo perceber isso. Porque é que as pessoas haverão de ter medo?"

"Vou-te contar uma história", disse ela com uma voz desleixada tentando imitar sabe-se lá quem, "Havia uma criança que uma vez comeu um gelado com pintarolas, mas as pintarolas estavam estragadas e o gelado fez uma intoxiacação alimentar à criança. A partir daí a criança ficou com medo de comer gelado com pintarolas".

"Não tens jeito nenhum para contar histórias...", desmotivei-a pensando na minha própria falta de jeito para improvizar histórias em cima do joelho, "Não acho que seja esse medo, acho que é mais medo de não estar à tua altura".

"Ainda estamos a falar de pintarolas?", perguntou com o seu melhor sarcasmo.

"Não.", ri-me alto para grande indignação do gato que descobriu a pequena bola de metal pela primeira vez, pela trijésima vez hoje, "Estou a falar de ti."

"Não vejo porquê"

"Porque ele está apaixonado por ti", disse quase a sussorrar, como que a dizer um segredo.

"Continuo a não perceber. É esse o medo dos homens?", perguntou com a grande expectativa de talvez ter descoberto a solução universal para todos os problemas.

"Sim, entre outros.", respondi declarando o que para mim era óbvio e uma verdade universal desde o início dos tempos.

"Vocês têm uma forma estranha de dizer as coisas que sentem", constatou desiludida com a tradução de coisas intraduzíveis.

"E vocês têm uma forma estranha de não dizer as coisas que sentem", constatei agora eu dizendo outra verdade universalmente aceite entre todos os homens.

"Temos medo."

"Então temos todos medo uns dos outros?", perguntei quase que retóricamente.

"Basicamente.", respondeu com a maior frieza do mundo, como se não houvesse solução nem esperança para nada.

"Como é que podes ter medo depois de saberes que as pintorolas estão dentro do prazo?", voltei à fábula da criança e das pintarolas na esperança de tentar perceber finalmente qual a origem do medo.

"Mas eu não sei isso", respondeu não respondendo, ficando a pergunta que não é suposto ser respondida por responder.

"Acabei de te dizer", tentei uma última vez, em vão, obter uma resposta válida.

"Mas eu não sei se isso é verdade. E como é que podes ter medo depois de saberes que as pintarolas foram feitas só para ti?"

"Mas eu não sei isso"

"Porquê?"

"Porque as pintarolas não falam"

"Então voltando à minha pergunta inicial. Qual é a solução, dar um passo atrás ou esperar que as pintarolas comecem a falar?"

"Não há forma de conciliarmos os medos?"

"Não..."

"Então não sei responder à tua pergunta. Talvez haja uma pintarola perdida algures que saiba falar"

"E se não houver?"

"E se houver?"



(Dramatização de uma longa conversa com a Martinha)




A Música
Os irlandeses The Thrills são... irlandeses e mais qualquer coisa. De referir que tiveram dois excelentes albuns, So Much for the City, em 2003 e Let's Bottle Bohemia no todo o poderoso 2004, de onde saiu esta Not For All The Love In The World. O ano passado lançaram o álbum Teenager, mas... vá, não esteve à altura dos outros dois. De referir também a obra de arte que é o vídeo: YouTube.


You show your age,
when you drown your rage.
But I see past those laughter lines,
so baby, lets split tonight,
I got a tank full of gas till light.


Yeah we can drive for miles and miles
But you just said,
Not for all the love in the world
Not for all the love in the world

Cause she didnt realize, now thats a lotta love


Pipe dreams fade,
and all the underdogs get laid.
Left your heart in the hands of a jugglin clown.
And so you crave recognition,
but the keys to the city were missing

People aren't puzzles to be figured out
But you just said,
Not for all the love in the world
Not for all the love in the world

Cause she didnt realize, now thats a lotta love
Oh Oh

I guess that everybody,
went to a better party, oh no
Not for all the love in the world
Not for all the love in the world
But she didnt realize, now thats a lotta love.
 

 
     

14 abril, 2008

Recortes

Não consigo de deixar de pensar que o que levamos da vida são apenas uns recortes do jornal diário que é a nossa vida. Realçamos algumas notícias aqui e ali, mas há sempre tanta coisa que se perde.

Claro que é impossível guardar e processar toda a informação que nos entra pelos sentidos adentro todos os dias, não somos o Google (e agora vêm cá os PIDEs do Google ao blog para ver o que se passa por ter escrito aqui a palavra Google), mas seria bom às vezes guardar um recorte menos importante de uma coisa aparentemente insignificante, indigna de registo.

Tenho sido agradávelmente surpreendido por vários recortes daqueles que toda a gente quer recordar, daqueles que quando foram vividos não sabíamos que um dia iriam fazer parte de uma parede recheada de recortes emoldurados por onde se passa com um sorriso aberto, demorando meia hora a analisar cada recorte, como se de uma galeria de arte se tratasse.

Eu sei que ninguém dá tanto valor a coisas insignificantes como eu, mas é sempre bom apanhar pedaços de jornal embrulhados no chão, como se tivessem caído numa má encestagem ao caixote do lixo, e emoldurá-los juntamente com os outros. Fiz isso com um pequeno livro recheado de chocolates e com um conjunto de recordações que já ninguém se lembrava. Não fazia ideia que o dia 12 de Abril tivesse tanto significado, sendo tão insignificante no meio de outros tantos 364 dias.



As Músicas
Há sons e músicas que nos marcam logo nos primeiros segundos de audição, e não precisei de muitos segundos para saber que esta Skinny Love não iria largar os meus ouvidos tão cedo. Bon Iver é "Bom Inverno" em francês mas é também o nome artístico do americano Justin Vernon, um singer-sonwriter minimalista que enche as músicas com a sua voz tão estranha quanto... bela.


Come on skinny love just last the year
Pour a little salt we were never here
My, my, my, my, my, my, my, my
Staring at the sink of blood and crushed veneer

I tell my love to wreck it all
Cut out all the ropes and let me fall
My, my, my, my, my, my, my, my
Right in this moment this order's tall

And I told you to be patient
And I told you to be fine
And I told you to be balanced
And I told you to be kind

And In the morning I'll be with you
But it will be a different "kind"
I'll be holding all the tickets
And you'll be owning all the fines

Come on skinny love what happened here
Suckle on the hope in lite brassiere
My, my, my, my, my, my, my, my
Sullen load is full; so slow on the split

And I told you to be patient
And I told you to be fine
And I told you to be balanced
And I told you to be kind
And Now all your love is wasted
And Then who the hell was I?
And I'm breaking at the britches
And at the end of all your lines

Who will love you?
Who will fight?
Who will fall far behind?

Oooh, Oooh
Oooh, Oooh, Oooh






------------------------------------------------- cortar por aqui -------------------------------------------------




Não sou fã do Caetano Veloso. Não gosto das músicas dele, e esta Sozinho apenas é uma excepção porque não é uma música dele, antes uma versão de Peninha, um "famoso" compositor brasileiro natural de São Paulo. Tenho que tirar o chapéu, no entanto, a esta versão, a combinação viola / voz ao vivo resulta numa espécie de confissão / lamento.


Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Porque você me deixa tão solto?
Porque você não cola em mim?
Tou me sentindo muito sozinho!

Não sou nem quero ser o seu dono
É que um carinho às vezes cai bem
Eu tenho meus segredos e planos secretos
Só abro pra você mais ninguém
Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?

Quando a gente gosta
É claro que a gente cuida
Fala que me ama
Só que é da boca pra fora
Ou você me engana
Ou não está madura
Onde está você agora?
 

 
     

06 abril, 2008

Teatrinho da Escólinha

Ajustou o laço do fato em miniatura ao espelho, puxou as calças para cima, ao ponto de ficar com as meias à mostra, penteou o cabelo com gel para moldar a poupa, esboçou um sorriso e meteu os pés ao caminho para ir ao teatrinho da escolinha onde a sua princezinha haveria de fazer o papel de princesa numa história com rainhas... hum... e rainhas.

Chegou devidamente atrasado e com a sua melhor interpretação de rapazinho perdido entrou para o pavilhão da escola por esta altura cheio de cadeiras de madeira tiradas das salas de aulas, viradas para um pequeno palco de madeira tão precário que ameaçava ruir a qualquer altura.

As horas foram passando, e as cadeiras enchendo-se primeiro de pessoas maiores que o rapaz e que lhe tapavam a vista para as actuações de cada turma, antecipando a peça de teatro, em que as meninas cantavam músicas como "atirei o pau ao gato", "miau miau", "machadinha" ou "mula da cooperativa" para entreter o público, ou seja, os pais.

O rapazinho estava tão cansado da caminhada que tinha que fazer um esforço enorme para aguentar os olhos abertos, segurando as pálpebras com as duas mãos enquanto ia mascando as chicletes gorila que roubou às manadas da mercearia do senhor Brandão e da dona Cidália.

Quando estava já quase a tombar para a frente na cadeira mal iluminada, as pequenas e artesanais cortinas de organza começaram a deslizar para lhe obrigar a mostrar o seu sorriso fanado. Ali estava ela, a sua princezinha vestida com o mais belo vestido verde e o chapéu cónico que se elevava quase até à altura de um adulto. Tinha as mãos entrelaçadas à frente e ocasionalmente punha-se em bicos de pés para espreitar para o público.

Seguiu-se o teatrinho, a luta com um dragão lésbico embriagado que não se calava e as músiquinhas que envergonhariam as melhores músicas da cassete do avô cantigas. O rapazinho ia mexendo os braços com a emoção da história e lutava agora, não contra o sono, mas contra a vontade de subir lá acima e dar um pontapé no dragão para resgatar a sua princezinha para os seus braços.

Não o fez, esperou antes que a peça acabasse, procurou-a, deu-lhe um beijo envergonhado na bochecha e voltou a pôr os pés ao caminho, agora transportado por um sorriso ainda maior que lhe fazia esquecer o cansaço.


(A propósito do festival de tunas a que fui ontem para ver a minha Joaninha a actuar)



As Músicas
A secção músical de hoje é dedicada a duos guitarra/bateria, ou seja, o regresso às origens daquilo que é hoje conhecido como Rock (não confundir com Rock'n'Roll) e que terá começado com o génio de Jimi Hendrix nos anos 60.

Os macabros irmãos Jack e Meg White formaram os The White Stripes em 1997 mas foi só em 2001 que chegaram aos ouvidos de meio mundo com o álbum White Blood Cells e especialmente com esta Fell In Love With A Girl, não só pela música mas também pelo génio de Michel Gondry (Eternal Sunshine of the Spotless Mind, Björk, Beck, etc.) que idealizou o famoso vídeo dos Legos (Youtube).


Fell in love with a girl
I fell in love once and almost completely
She's in love with the world
But sometimes these feelings
Can be so misleading
She turns and said "are you alright?"
I said "I must be fine cause my heart's still beating
Come and kiss me by the riverside, yeah
Bobby says it's fine he don't consider it cheating now

Red hair with a curl
Mellow roll for the flavor
And the eyes for peeping
Can't keep away from the girl
These two sides of my brain need to have a meeting
Can't think of anything to do yeah
My left brain knows that our love is fleeting
She just looking for something new
And I said it once before but it bears repeating now

Can't think of anything to do yeah
My left brain knows that our love is fleeting
She's just looking for something new
And I said it once before but it bears repeating now
Fell in love with a girl
I fell in love once and almost completely
She's in love with the world
But sometimes these feelings can be so misleading
She turns and said "are you alright?"
I said "I must be fine cause my heart's still beating
Come and kiss me by the riverside, yeah
Bobby says it's fine he don't consider it cheating now

Can't think of anything to do yeah
My left brain knows that our love is fleeting
She just looking for something new
And I said it once before but it bears repeating now




Ainda na fórmula guitarra/bateria, o som dos The Black Keys tem uma grande influência nos Blues misturados com o Rock e um ou dois toques de modernidade e um som...! Ai, o som! Têm que ouvir este som! Pára, cabeça! Pára! Ai... Ainda sinto os tambores dos escuteiros a martelar nos lóbolos do meu cérebro (e o homenzinho que leiloa coisas sem valor também).


Kings and sons of God
Travel all the way from the earth
Coming restless mile
Easing all of them, all of them for you

Strange Times
Are here

Scratch you in the square
Meant so much when we first met
People come from far and near
Bless them me, bless them everyone

Strange Times
Are here

Stay here to dry your tear
I will be the one
To pull you through the mirror
Before you come, before you come undone




Ninguém diria ao ouvir as músicas deste blog que a minha banda preferida de todos os tempos seria uma banda com o som dos Death From Above 1979, mas a verdade é que não consegui resistir a voltar a ter fé no Rock mais pesado, depois do desastre que foi o Nu Metal (chiu, vamos esquecer que aquilo alguma vez existiu). Foi com esta música que descobri o duo guitarra/bateria com o baterista vocalista naquele que foi o meu melhor ano músical (e não só) até à data, 2004.


Your romantic rights are all that you got
Push'em down son it's more than just lip
C'mon girls I know you know what you want
C'mon, C'mon now and give'em all shhhhh
You're beating walls now you just won't quit
You play with shapes but they just won't fit
I know you love me you don't know what you like
You're watching TV I stay up all night

I don't need, want you

South carolina kid is heating things up
His wounds are bleeding and we're filling the cup
This game will save us if we don't die young
C'mon, C'mon now yea have a little fun

Come here baby I love your company
We could do it and start a family
She was living alone unhappily
We could do it, it's right romantically
 

 
     

01 abril, 2008

Sem Combustível

O carro pedia combustível com toda a voz que tinha, ou seja, um bip irritante e uma luz amarela com o sinal internacionalmente reconhecível de um posto de abastecimento. No indicador, uma espécie de computador dizia-me que já só tinha 0,0 litros de combustível, enquanto o carro continuava a andar como se já me tivesse esvaziado os bolsos (de dinheiro, entenda-se).

Ao fundo da estrada avistei uma série de néons a piscar numa caixa rectangular suspensa no ar por dois ou três pilares. "Estou safo", pensei ao parar o carro naquela bomba fantasma mal iluminada por duas ou três lâmpadas de halogéneo.

Por momentos senti-me num filme de terror americano, na clássica cena da bomba de gasolina no deserto, mesmo antes de chegar o carro fantasma. Death Proof veio-me à mente.

Tirei a pistola de combustível e apontei-a ao carro, saciando-lhe a sede, qual bebé a sugar o leite dos peit... das mam... do biberão! Na pacatez desta cena de sexo (para os mais perversos) entre o carro e a bomba (e curiosamente neste caso, a fêmea, a bomba, é que tem o pén... a pil... a mangueira!), tentei adivinhar que cenário nasceria atrás da escuridão que nascia ao redor de toda a bomba, mas nada me vinha à mente. Talvez fosse uma floresta abandonada pelos próprios animais, visto que não se ouvia sequer o som de uma coruja... hum... a corujar...

Um estrondo acordou-me da minha divagação, era o orgasmo tântrico do carro e da bomba ou, neste cenário tão macabro e tão realista, apenas o sinal mecânico de aviso de que o depósito estava agora cheio. Tentei, com a mestria de um ourives estrábico, acertar os euros no conta-escudos de números rotativos, mas falhei o arredondamento por um cêntimo.

Dirigi-me ao interior com o dinheiro certo nos bolsos para fazer um exercício de musculação ao abrir a porta, sendo logo denunciado por uma campainha à moda antiga, daquelas presas por uma corda.

"Boa noite" , cumprimentei cordialmente o velho franzino que se curvava para a frente no balcão, sentado num banco sem costas.

"Boa noite", retorquiu o velho, fazendo uma pausa no seu ritual de mascar uma pastilha elástica que já devia estar na sua boca desde que o seu turno terá começado, há vinte anos atrás.

Depois de martelar uns números no teclado sensível do moderno computador, o senhor lá carregou no botão mágico que faz plim e que abre a gaveta do dinheiro. Fez uma dobra a meio na vertical das notas, meteu-as debaixo de uma luz ultravioleta super-violeta, e colocou-as na caixa vazia de notas, seguídas pela solitária moeda de 1 cêntimo que se perdeu no recipiente das moedas de 1 cêntimo.

Sem parar de mascar, olhou para o monitor para logo de seguida se dirigir a mim com uma indiferença gélida e aborrecimento na voz.

"Parabéns. Acabou de ganhar shubs shubs shubs shubs".

"Desculpe?", perguntei eu alguns segundos depois, esgotadas todas as tentativas de decifrar a mensagem obscura do homem.

"Parabéns. Acabou de ganhar um café e um bolo.", disse quase adormecido apontando para um expositor de bolos de café que apareceu miraculosamente no meu campo de visão, como se o velho aborrecido tivesse acabado de fazer um truque de magia.

Analisei o ambiente antes de me voltar a dirigir ao homem que olhava para mim como se eu o estivesse a obrigar a transportar dois sacos de cimento às costas. O expositor de bolos estava a boiar em revistas obscuras, a maioria pornográficas, repletas de mulheres com mam... peit... hum... com bolas de basquete gigantescas que remetiam a parte direita do meu cérebro para montagens do photoshop, não fossem elas revistas dos anos 70, altura em que o photoshop era... bom, não era. Pensei em levar uma daquelas relíquias que deviam render balburdios no ebay, mas descartei essa hipótese maquiavélica ao ver a tristeza nos olhos do homem só de pensar que eu lhe podia levar uma das meninas que lhe faziam companhia no turno da noite.

Desviei a minha atenção e curiosidade para a máquina de café, também ela uma relíquia, semi-escondida atrás do balcão. Tentou-me seduzir com uma luzinha vermelha a indicar que o bule de café estava quente, mas eu fiz-me de desentendido, como faço sempre que sou seduzido por uma máquina de café que não a minha, que me seduz continuamente a parte esquerda do cérebro com centenas (senão milhares de milhões) de luzinhas vermelhas.

"Não, obrigado!", rejeitei finalmente o meu prémio, para logo de seguida ver a face do homem deteorar-se ainda mais numa tristeza penetrante que até a mim atingiu.

"Não quer?", perguntou numa última tentativa de me fazer ficar mais uns segundos que fossem, como se a Micas, a Zéza e a Ména (nomes fictícios para as mulheres assustadoramente volumosas de peito que figuravam nas revistas) não fossem já companhia suficiente.

Despedi-me com o talão na mão e aquele pedacinho de tristeza do homem que se agarrou a mim pelos olhos e que não me queria deixar. Apeteceu-me voltar para trás e beber o café só para fazer companhia ao homem, talvez até chegasse mesmo a comer um dos bolos recessos que deveriam estar duros como as pedras da gravilha que agora pisava ao caminhar em direcção ao carro. Queria mesmo voltar a ser aquele rapazinho descarado que gosta de perder horas a falar com figuras estranhas (para as pessoas ditas “normais”), mas deixei-me caminhar em direcção ao carro, afinal de contas já estava atrasado da minha vida, perdido no meio do nada, e com saudades da minha máquina de café que faz aquele cafézinho aromático de países exóticos, que tanto me agrada.



A Música
Do Canadá para os meus ouvidos chegou-me recentemente este Destroyer (Daniel Bejar) com sons e poemas relaxantes cheios daquelas boas vibrações indie que continuam a chegar em força neste ano de 2008 recheado de agradáveis surpresas. Para quem nunca ouviu falar do Daniel Bejar, de referir que ele colabora habitualmente com bandas como os The New Pronographers, Frog Eyes, Wolf Parade, Swan Lake e Hello, Blue Roses. Se nunca ouviram falar destas bandas: PÁREM DE OUVIR ESSAS MERDAS QUE PASSAM NA MTV!


Ok fine, even the sky looks like wine,
And everywhere I turn there,
A new face in time, stuck inside the well
Fresh hands to attend to

Blue Flower, Blue Flame,
A woman by another name is not a woman
Don't know why, don't know when
A cathedral sick of the sky again, says to it;
"Please not now, will you just look at the time, it's standing still! Somewhere applause falls dead on the hillside"

Blue Flower Blue Flame,
A woman by another name is not a woman,
I'll tell you what I mean by that,
Maybe not in seconds flat, maybe not today...

Blue Flower, Blue Flame,
A woman by another name is not a woman,
I'll tell you what I mean by that,
Maybe not in seconds flat, maybe never

A gray ashen sadness rises like the sun,
Oh well, It was time I decided to try this hotel, her world...
Tulip has an inner animal, shes' in it for a good time,
I was on the outs for awhile but now things are alright,
I gave you a flower because foxes travel light,
And a penny for your thoughts was,
Never enough,
Your head gets filled with that stuff.
Your head gets filled with that stuff....
 

 

 

Arquivo
setembro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
novembro 2008
dezembro 2008