15 julho, 2008

Discussões Sem Dó Menor (Nem Lógica De Maior)

Parte I
À conta de mais um azar com o carro, um vidro partido, ou lá o que foi desta vez, tive uma enorme e profunda discussão com a minha mãe. Não me lembro da última vez que tinha discutido com ela, tal é a raridade dos nossos desacatos, e esta discussão foi por tudo menos pelo que a originou.

Quando discutimos, dizemos coisas que não queremos dizer, penso que será o nosso mecanismo de auto-defesa, quando nos sentimos atacados: atacamos. No fim saímos todos magoados, e ninguém sai vencedor.

À conta de mais um azar com o carro, um vidro partido, ou lá o que foi desta vez, tive um longo dia com a minha mãe, tentando resolver o problema do vidro, é certo, mas também e sobretudo, a resolver problemas bem menores, como a cor das novas toalhas da casa de banho. Noutra qualquer circunstância, não teria qualquer prazer em escolher as novas toalhas da casa de banho, mas hoje foi diferente, o prazer de passar o dia com a minha mãe, com quem tivera uma enorme discussão no dia anterior, fez-me apreciar a loja de senhora, a simpatia do homem que trabalha numa loja frequentada quase na sua exclusividade por senhoras, e a falta de jeito da mulher que trabalha numa loja frequentada quase na sua exclusividade por senhoras com artigos que só interessam quase na sua exclusividade a senhoras, para as senhoras.

Foi bom passar o dia de um lado para o outro num carro com o vidro partido, com tanto calor que esteve, mas acima de tudo foi bom passar o dia com a minha mãe. Bem sei que não lhe dou o devido valor e que só sou capaz de lhe dizer que é a melhor mãe do mundo por escrito, porque sou cobarde demais para o conseguir dizer...


Parte II
À conta de mais uma semana em que vou estar sem ver a Joana, tive uma espécie de uma discussão com ela. É fácil ser infantil e estúpido quando se gosta mesmo muito de alguém, porque é sempre difícil entender os motivos de uma separação, por mais válidos que os argumentos sejam. Penso que seria mais estúpido e absurdo da minha parte se, ao saber que não a iria ver por mais uma semana, tivesse reagido: “Ah, ya! Ok, na boa!”.

Não me vou desculpar, nem pedir desculpa, porque continuo a não ententer os motivos, por mais válidos que os teus argumentos sejam. Gosto demais de ti para os conseguir entender, e as saudades que tenho de ti ofuscam qualquer raciocínio válido que pudesse sair desta minha cabeça tonta.


Parte III
À conta da minha falta de jeito para as palavras, tropecei nas palavras do Eugénio de Andrade. O livro chamava-se "O Outro Nome Da Terra" e, a julgar pela forma como a mulher da biblioteca me olhou, era valioso. Escrevi-o com a minha letra mais fraca, aquela que até a mim me custa a ler, num papel fosco e já escrito do outro lado. Queria lembrá-lo para, assim que houvesse coragem e um pouco de tempo a sós contigo, to pudesse ler, na sombra de um jardim povoado por árvores feitas por crianças. E logo hoje, que te queria falar um poema dele, pois que não sei proclamar poemas. Guardei o papel já bem amarrotado no bolso e proclamei para um ecrã um poema que guardei na memória:

ESPERA

Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.

Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.

Eugénio De Andrade





As Músicas
Há músicas complexas, e depois há músicas como as do americano J. Tillman, uma simplicidade tocante que se quer assim tão mínima e honesta quanto possível. Uma excelente escolha para as pausas da euforia do verão.


I jumped out my first floor window
Before I booked it for Monument Park
I made it as far as Evans and Falls
And I heard you call "Joshua, it's not my fault,
The devil took sway of my heart"

I couldn't believe the next thing I saw
She was outside in only a bathrobe and scarf
My mother took sway of my heart



 

 
     

10 julho, 2008

Quadro Em Branco (Vida Em Branco)

Coloquei a última caixa na mala do carro, perfeitamente acamada no último espaço livre de tão pequeno mas, no fundo, tão grande pedaço de vida.

De tudo o que fui arrumando e que foi transformando em espaço vazio aquilo que outrora foi o meu quarto (mais quarto que o meu próprio quarto de infância), aquilo que mais me marcou e tocou foi o arrancar pedaço-a-pedaço de todos os pequenos pedaços que compunham o quadro das lembranças que por essa altura se extendia até às portas do armário.

As coisas foram sendo colocadas cronologicamente, fazendo com que fosse vivendo a vida de trás para a frente, tal como dizem que as pessoas vêm a vida a passar rapidamente antes de entrar no túnel final da luz, mas ali era tudo muito lento, dei-me ao prazer de saborear cada pedaço de tempo e as lembranças de todas as pessoas agarradas a eles.

Quando finalmente vi o quadro vazio, senti-me também vazio. Senti que havia colocado o meu passado numa pequena caixa onde não podia saborear os momentos do passado porque eles já não estavam expostos e a olhar para mim, e senti que aquela caixa se haveria de perder num sótão ou no lugar mais inacessível de um armário, e foi isso que me fez sentir vazio.

Mais tarde, enquanto me ia afastando mais a cada milímetro, centímetro, metro ou quilómetro, apercebi-me que não é bem assim, trazia comigo todos aqueles pedaços e eles ainda me arrancavam sorrisos, mesmo fechados numa pequena caixa perdida na imensidão de todas as outras.

Cheguei agora a casa (aquela casa que me viu nascer), e mesmo sentindo que vai ser apenas por um curto período de tempo (um espaço de transição, como tem sido nos últimos anos), peguei no que era o meu quadro de recordações, que agora é apenas um pedaço de cortiça, e prendi-o à porta do armário.

Está ali quieto e vazio a olhar para mim, à espera de novas recordações.





As Músicas
E lá vão dois álbuns do Albert Hammond Jr desde o último dos The Strokes. Depois do fabuloso Yours To Keep de 2006, vem este refrescante ¿Cómo Te Llama?. GfC é a música e é simplesmente isto:







E por falar em álbum novo, os Cansei de Ser Sexy também têm um novo e se as partes da soma não são novas, a soma das partes não deixa de o ser. Confesso que no início achei menos sofisticado que o primeiro álbum deles, mas agora estou a gostar bastante.






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Estou apaixonado! Bem sei que não é difícil de perceber, nem nunca me foi difícil a mim descobrir isso, e que é até bastante infantil, mas há alturas em que me apercebo mais que outras que preciso de ti como preciso do ar para respirar (ok, pronto, talvez precise um bocadinho mais do ar, porque sem ti ainda consigo viver um bocadinho, se bem que muito mal, mas sem ar acho que seria mesmo impossível de viver... E pronto, lá estraguei o romantismo do momento... Como me é característico).

Foi só uma semana como tem sido sempre, mas não te poder chatear quando queres ir dormir, é uma coisa que me deixa triste.

(Tenho tantas saudades tuas, tantas tantas, que não saberia escrever um texto decente para descrever isso)


A Música
A Mariza também está de volta com Terra, que pretende ser um pouco mais que fado, um pouco mais world music e a provar isso está este Beijo De Saudade com a colaboração de Tito Paris e aquele cheiro/sabor a cabo verde que me relaxa de uma forma indescritível (se calhar fui cabo-verdiano numa outra encarnação!)


 

 

 

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