24 junho, 2008

Crepúsculo

Desliguei o telemóvel às 21:15 em ponto. Liguei a caixa de música ao carro, acondicionei o gato no assento ao lado e rodei a chave para acordar a criatura simpática e preguiçosa que habita debaixo do capô.

Comecei a afastar-me lentamente da cidade, à medida que ia abanando suavemente o pé direito ao som de uma melodia bela, e foi aí que a cidade começou a fazer sentido, sob a luz que se vai esgotando, com o horizonte a laranja e as lâmpadas já acesas, criando um ambiente único que só se repete todos os dias.

Lembro-me de ver os braços arrepiados, e de arranjar um espaço pequenito na cabeça, por entre todos os pensamentos dela*, para pensar: "É Verão!".

E assim me fui deixando andar, com o céu a ficar com as estrelas à mostra, uma música em constante repetição e aquele sorriso parvo que às vezes não conseguimos controlar, por menos que tentemos.





* forma tónica da 3ª p. do sing. que pode desempenhar a função quer de sujeito quer de complemento; designa a pessoa ou coisa de género feminino de que se fala, ou então bicho pequeno avermelhado com várias pintarolas espalhadas pela cara!





A Música
No que diz respeito a álbuns novos de músicos que admiro, normalmente encaro sempre a audição de material novo com muita apreensão, para não ficar com o coração partido. Sou um grande fã dos trabalhos anteriores deste inglês de origem turca famoso pela sua voz característica mas sobretudo pelos seus sons... bom, únicos, talvez seja a melhor palavra. E foi assim que dei comigo a ouvir o novo álbum do Adem ao sair de casa, ao pôr-do-sol, e foi assim que dei de caras com esta Bedside Table, um original dos Bedhead, uma banda filha dos anos 90. Aliás, todo o álbum é composto de versões de músicas dos anos 90, de entre as quais destaco a fabulosa Starla dos Smashing Pumpkins ou a subliminal Unravel da Björk, entre muitas outras irreconhecíveis, porque o trabalho de recriação das músicas do Adem foi absolutamente genial!



Uou cut your head on the bedside table. your temple bled as you were unable to remember the lines of what you were reading about someone deciding to quit speaking.

What I was just reading about someone deciding to quit speaking began to dissolve into my lap as the words gave up their attempts at meaning.




----------------------------------- Não cortar por aqui -----------------------------------

Não consegui resistir, estava a ouvir a versão da Unravel da Björk e esta música é qualquer coisa de genial. Se puderem, ouçam a versão do Adem, senão, aqui fica a original da Björk, do álbum Homogenic de 1997. Decididamente anos luz à frente do seu tempo!



Björk - Unravel

While you are away
My heart comes undone
Slowly unravels
In a ball of yarn
The devil collects it
With a grin
Our love
In a ball of yarn

He'll never return it

So when you come back
We'll have to make new love
 

 
     

17 junho, 2008

A Maior História De Amor De Todos Os Tempos

"Qual é a maior história de amor de sempre? Romeu e Julieta, Pedro e Inês, Tristão e Isolda?", fizeram-me a pergunta assim de rompante e, pelo silêncio que se seguiu, percebi que queriam mesmo que respondesse.

Dei duas tossidelas em seco, olhei para a montanha de livros espalhados pelo chão, à procura de inspiração, e respondi com toda a calma do mundo. O que se segue é uma transcrição aproximada da minha resposta.

"Porque é que tem que haver uma maior que outra? Não são todas? Não compreendo essa obsessão das pessoas por tudo o que seja maior que algo, porque é que o meu romance não há-de ser maior que qualquer um desses? Será que tem mesmo alguém que morrer para tornar uma história de amor grande? Quem me diz a mim que Romeu não se iria fartar de Julieta dois meses depois? Nem sequer chegaram a viver juntos... Para mim uma grande história de amor é quando vejo dois velhotes de mão dada na rua e ainda com aquele olhar de relanço que só quem está apaixonado pode ter."

As pessoas cresceram a ver os grandes filmes de amor, as tragi-comédias pré-formatadas com final previsível de Hollywood, e depois esperam isso da vida delas, e até ficam insatisfeitas se algo corre bem de mais, porque tem que haver o elemento negativo para depois dar a volta à história perto do final, o twist. Se calhar a razão porque eles escrevem só “e viveram felizes para sempre” no final, em vez de descreverem o que foi essa felicidade, é porque isso é aborrecido e ninguém quer ver.

Eu vejo a vida de outra forma.

Para mim a maior história de amor de todos os tempos é chegar a casa com areia nos bolsos e sorrir a pensar no sorriso dela quando abro os olhos, a seguir a um beijo.

E para vocês, qual é a vossa maior história de amor de todos os tempos?

(Vá lá, não sejam tímidos, partilhem!)





As Músicas
Vocês sabem que eu não gosto de repetir músicas do mesmo álbum neste blog, só o faço quando algum álbum é mesmo mesmo bom, e verdade seja dita, este Jim do Jamie Lidell é um dos melhores álbuns que tive o prazer de ouvir este ano, muito por conta da atitude "feel good" deste inglês radicado em Berlin. Excelente mesmo! Se ele tivesse nascido nos anos 70 seria grande, um Marvin Gaye branco.


It's only a trick
If you make it a trick
And you're wonderin how to get yourself outta this one
Outta this one
Outta this one

It's only a good thing
If you make it a good thing
Once again you're just foolin yourself
Outta this one
Outta this one
Outta this one

All you haveta do is
Just give yourself the green light
Just give yourself the green light

It's only a kiss
If you make it a kiss
So why you wanna fake your way
Outta this one

Well, it's only a sin
If you make it a sin
We all guilty so why not give in
To this one
To this one
To this one

All you have to do is
Just give yourself the green light
Just give yourself the green light

Give yourself the green light
Whoa
Give yourself the green light
Oh
Just give yourself the green light
Whoa
Give yourself the green light
Oh

Well, you're spinning your wheels
But you're goin nowhere
Keep on turnin
But there's no turnin back
Outta this one
Outta this one
Outta this one

And you don't have to put on the brakes
When you're already there
Cause there's this time to take yourself outta this one
Outta this one
Outta this one

Yeah and all you have to do is
Just give yourself the green light
Just give yourself the green light
Give yourself the green light
Just give yourself the green light
Give yourself the green light
Give yourself the green light






Tirando o Ryan Adams, não haverão muitos músicos que se dizem Country que eu consigo ouvir (Qual Shania Twain? Acho que estão no blog errado...), foi portanto com alguma surpresa que dei por mim a ouvir esta Kathleen Edwards, uma canadiana inspirada na folk americana e na música Country, especialmente a do senhor Adams.


As a child I would wake at night
I was scared but I kept real quiet
Shadows on the walls moving in on me...
And underneath my sheets I could barely breathe
And your room was only just across the hall
All it would have taken was a single call
But maybe sometimes we've got to trust ourselves not to scream out loud, and run like hell...

Believe me, all our days here are unsure
Believe in me, I don't want to anymore
And in the dark, picture me in your mind
And I'll lay with you
You don't have to be scared at night

As a young man you were shooting rats
By accident you hit the farmyard cat
He ran for the fields and came back the next day
You'd blown out his eye and you could see his brain
That's it boy, there is some things in life,
you don't want to do, but you know is right
So take him out back and finish him off
Got your gun off the shelf, it only took one shot

Believe me, all our days here are unsure
Believe in me, I don't want to anymore
And in the dark, picture me in your mind
And I'll lay with you,
so you don't have to be scared at night.

And I flew away and I paid on your final day
They said that you waited 'til I came
We sang your favorite hymns and we held your hand
You took your final breath and that was that
But I'd never seen a person die before
I tried so hard not to cry and all...
'Cause maybe sometimes we've got to trust ourselves,
that when you die you go some place else.

Believe me, all our days here are unsure
Believe in me, I don't want to anymore
And in the dark, picture me in your mind
And I'll lay with you
You don't have to be scared at night
You don't have to be scared at night
You don't have to be scared at night






Reunindo elementos dos Arctic Monkeys (sim, é daí que conhecem aquela voz) e dos The Rascals, Alex Turner e Miles Kane respectivamente, os The Last Shadow Puppets surgiram quando os dois músicos se aperceberam de uma paixão em comum, Scott Walker, um músico americano famoso nos anos 70 fortemente inspirado na música francesa dessa mesma altura. Não será por acaso que as músicas do álbum parecem saídas dessa mesma altura.


The colder the night gets, the further she strays
And he doesn't like it, being this way

And she tried so hard
To steer away from the meeting place
But her heart had led her there

She clings to his consciousness
Wherever he lays
He struggles to sleep at night and during the day
He's worried she's waiting in his dreams
To drag him back to the meeting place
His love had left him there
Where her voice still echoes

I'm sorry I met you darling
I'm sorry I met you
As she turned into the night, all he has was the words
I'm sorry I met you darling
I'm sorry I left you

For weeks they had strolled around
Playing the fools
They knew the time would come
And time would be cruel
Because it is cruel to everyone
He's crying out from the meeting place
He's stranded himself there
Where her voice still echoes

I'm sorry I met you darling
I'm sorry I met you
As she turned into the night, all he has was the words
I'm sorry I met you darling
I'm sorry I left you

I'm sorry I met you darling
I'm sorry I left you





Os Portishead (erradamente pronunciado pórtixéd por muitos de nós, quando afinal é portis head. Ok, confesso, era um dos que diziam pórtixéd) fizeram história e entraram definitivamente para a história da música com a obra prima Dummy, nos idos de 94, anos loucos em que se inventou aquilo que ficou conhecido como o Trip Hop. Agora, volvidos 14 anos dessa altura, o Trip Hop está mais que morto, e quem esperava um álbum com o mesmo som dos anteriores dos Portishead, certamente que ficou decepcionado. Não é fácil ouvir os actuais Portishead, mas espero que esta música ajude (É verdade, tenho um fraquinho pelo Ukelele, o Cavaquinho do Havai).


I'm drifting in deep waters
Alone with my self doubting again
I try not to struggle this time
For I will weather the storm
I Gotta remember
Don't fight it
Even if I
Don't like it
Somehow turn me around
No matter how far I drift
Deep waters won't scare me tonight
 

 
     

04 junho, 2008

Cromos Como Nós

Alípio era um rapaz normal que não gostava de sopa nem de laranjas (apesar de adorar a sua cor). Alípio gostava de matemática ou tudo o que se relacionasse com números e gostava de ter o seu mundo arrumado, tal como a gravata de cores pasteis tinha sempre que estar debaixo do pólo xadrez ora castanho ora castanho mais escuro, e tal como o seu cabelo, sempre e inevitavelmente separado ao meio, qual mar vermelho.

Certo dia, Alípio, que sempre achara o seu próprio nome estranho, vira-se para Alcides e pergunta com a maior naturalidade do mundo: “Alcides, se pudesses tu ir a qualquer de todas as partes deste mundo que é o nosso”, e disse isto apontando lá para cima com toda a certeza de que lá em cima viveriam homenzinhos verdes com olhos grandes e com testas ainda maiores, sinónimo falso de maior inteligência, “diz-me tu onde irias”.

Alcides ajustou os óculos fundo-de-garrafa de massa castanha, e pôs-se a pensar, batendo o sapato preto reluzente, com as meias dos Simpsons tapadas pelo vinco das calças perfeitamente engomadas por sua mãe, dona Alberta ou, como era conhecida lá no seu bairro, a Bértinha.

Passados uns precisos 3.123.345564 segundos, Alcides estala os dedos e afirma com o maior sorriso que Alípio alguma vez havia visto na cara de Alcides.

“Iria à biblioteca da Alexandria, no Egipto!”

Alípio não estranhou a escolha do seu amigo, afinal ele era um homem das letras e aquela uma das bibliotecas mais importantes do mundo, fazia todo o sentido. Mas deixou-se ficar em silêncio, pensativo.

“Que te aflige, amigo?”, perguntou o Alcides intrigado com o silêncio do seu amigo, um reputadíssimo orador que por esta altura, em situações normais, já lhe estaria a explicar a ciência dos números e o porquê do zero vir antes do a.

“Estava eu aqui a pensar com os sete botões da minha camisa, mais os quatro das calças e os três dos boxers, portanto com os meus catorze botões, que toda a gente quantas as pessoas que conheço, parecem ter um lugar de eleição para ir, caso disso houvessem a oportunidade. E eu, em tendo a possibilidade de fazer qualquer de todas as viagens do mundo, não tenho um sítio sequer que diga que queira ir”.

Alcides desencostou-se da cadeira do café, inclinou-se sobre a mesa e levantou a voz com a maior das determinações: “Anota bem o que te vou dizer, que isto não é fórmula matemática nem lei escrita, mas presta a tua atenção ao que te digo: Em haver lugares que eu queira visitar, apenas o faço para ter saudade e o prazer de voltar a este sítio. Se podes ter prazer em cá estar sem partir, para quê o fazer?”

Ao lado, um rapazinho reluzia de felicidade enquanto tomava o seu café. Agora já não tinha vontade de se rir daqueles dois seres aparentemente deslocados do mundo, mas com eles, o Alípio e o Alcides.

O mundo é fabuloso demais para ser reduzido a números e letras, saiam cá para fóra, o sol está escondido mas é porque está envergonhado!





As Músicas
Fresquinha do último álbum dos Headlights, Some Racing, Some Stopping, não tão bom como o anterior Kill Them with Kindness, mas não é mau. Que é que foi? Não vou estar a dizer que é excelente, porque não é...






Também do mais recente dos Mates Of State, o casal dueto que tem feito as delicias aos meus ouvidos com esta fabulosa Lullaby Haze que tem um solo de piano e bateria simplesmente fabulosos, para ouvir bem alto!




(A secção de letras de hoje está desactivada porque não encontrei as letras em lado nenhum e porque estou preguiceiro de mais para as escrever, à conta da super-gripe que ainda me atinge o nariz, os ouvidos e os neurónios)
 

 

 

Arquivo
setembro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
novembro 2008
dezembro 2008