04 junho, 2008

Cromos Como Nós

Alípio era um rapaz normal que não gostava de sopa nem de laranjas (apesar de adorar a sua cor). Alípio gostava de matemática ou tudo o que se relacionasse com números e gostava de ter o seu mundo arrumado, tal como a gravata de cores pasteis tinha sempre que estar debaixo do pólo xadrez ora castanho ora castanho mais escuro, e tal como o seu cabelo, sempre e inevitavelmente separado ao meio, qual mar vermelho.

Certo dia, Alípio, que sempre achara o seu próprio nome estranho, vira-se para Alcides e pergunta com a maior naturalidade do mundo: “Alcides, se pudesses tu ir a qualquer de todas as partes deste mundo que é o nosso”, e disse isto apontando lá para cima com toda a certeza de que lá em cima viveriam homenzinhos verdes com olhos grandes e com testas ainda maiores, sinónimo falso de maior inteligência, “diz-me tu onde irias”.

Alcides ajustou os óculos fundo-de-garrafa de massa castanha, e pôs-se a pensar, batendo o sapato preto reluzente, com as meias dos Simpsons tapadas pelo vinco das calças perfeitamente engomadas por sua mãe, dona Alberta ou, como era conhecida lá no seu bairro, a Bértinha.

Passados uns precisos 3.123.345564 segundos, Alcides estala os dedos e afirma com o maior sorriso que Alípio alguma vez havia visto na cara de Alcides.

“Iria à biblioteca da Alexandria, no Egipto!”

Alípio não estranhou a escolha do seu amigo, afinal ele era um homem das letras e aquela uma das bibliotecas mais importantes do mundo, fazia todo o sentido. Mas deixou-se ficar em silêncio, pensativo.

“Que te aflige, amigo?”, perguntou o Alcides intrigado com o silêncio do seu amigo, um reputadíssimo orador que por esta altura, em situações normais, já lhe estaria a explicar a ciência dos números e o porquê do zero vir antes do a.

“Estava eu aqui a pensar com os sete botões da minha camisa, mais os quatro das calças e os três dos boxers, portanto com os meus catorze botões, que toda a gente quantas as pessoas que conheço, parecem ter um lugar de eleição para ir, caso disso houvessem a oportunidade. E eu, em tendo a possibilidade de fazer qualquer de todas as viagens do mundo, não tenho um sítio sequer que diga que queira ir”.

Alcides desencostou-se da cadeira do café, inclinou-se sobre a mesa e levantou a voz com a maior das determinações: “Anota bem o que te vou dizer, que isto não é fórmula matemática nem lei escrita, mas presta a tua atenção ao que te digo: Em haver lugares que eu queira visitar, apenas o faço para ter saudade e o prazer de voltar a este sítio. Se podes ter prazer em cá estar sem partir, para quê o fazer?”

Ao lado, um rapazinho reluzia de felicidade enquanto tomava o seu café. Agora já não tinha vontade de se rir daqueles dois seres aparentemente deslocados do mundo, mas com eles, o Alípio e o Alcides.

O mundo é fabuloso demais para ser reduzido a números e letras, saiam cá para fóra, o sol está escondido mas é porque está envergonhado!





As Músicas
Fresquinha do último álbum dos Headlights, Some Racing, Some Stopping, não tão bom como o anterior Kill Them with Kindness, mas não é mau. Que é que foi? Não vou estar a dizer que é excelente, porque não é...






Também do mais recente dos Mates Of State, o casal dueto que tem feito as delicias aos meus ouvidos com esta fabulosa Lullaby Haze que tem um solo de piano e bateria simplesmente fabulosos, para ouvir bem alto!




(A secção de letras de hoje está desactivada porque não encontrei as letras em lado nenhum e porque estou preguiceiro de mais para as escrever, à conta da super-gripe que ainda me atinge o nariz, os ouvidos e os neurónios)

1 COMENTÁRIOS:

Anonymous Anónimo disse...

lolololol
o consumo excessivo de fármacos está a causar efeitos graves em ti! deixa-me que ensine que os teus lenços de papel ranhosos não são recicláveis... ai João Ilvico Antigripal, tens de estar mais atento à campanha de reciclagem que dá na televisão...a menos que tenham inventado um contentor para lenços constipados do joãozinho...(e a esta altura bem que já seria preciso)


um beijo ranhoso,solidário contigo.

4/6/08 17:31  

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