11 maio, 2008

O Menino Gordo E A Menina De Porcelana

Era uma vez dois meninos que não queriam crescer. Não se sabe ao certo em que tempo é que existiram nem o local exacto onde se encontravam, apenas se sabe que era um local provavelmente imaginado que os mais velhos relatam como sendo um jardim isolado perdido algures no meio da cidade.

Tempos haviam em que os meninos se encontravam todas as sextas-feiras à tarde, sempre com as mãos afastadas, tão afastadas quanto possível (à conta do medo que sentiam um do outro) e trocavam os seus sonhos imaginados, como os outros meninos trocavam berlindes. Eram tardes mágicas, tão perdidas no seu tempo quanto o seu tempo era perdido em si próprio, em que eles falavam, imaginavam, questionavam e fingiam que aquele tempo irreal iria durar para sempre.

(...)

Era uma quarta-feira, lembro-me bem porque ainda não se passou mais nenhuma desde então. O sol estava tímido, a chuva extrovertida, e debaixo de um tão característico guarda-chuva transparente, ela queixava-se, como sempre (e com razão), que eu não estava no sítio onde disse que estava, estava um bocadinho mais ao lado.

Os casais de turistas de meia idade ingleses e os locais que passeavam os cães com nomes pomposos estranharam a forma como os dois estranhos se relacionaram, parecia que já se tinham visto em qualquer lado, talvez se tivessem conhecido numa outra vida.

(...)

Sentaram-se na esplanada do café tão igual a todos os outros daquela cidade envelhecida pelo passar dos séculos, para grande euforia dos turistas armados com câmaras fotográficas que não hesitavam em disparar sobre postais tão banais.

Ao lado deles, duas crianças lanchavam um chá gelado e umas sandes mistas que seguravam com as duas mãos enquanto mastigavam com as bocas abertas e os pés a badalar, suspensos nas cadeiras. O menino era gordo e mal cabia na camisa apertada, às riscas, como convinha à sua mãe, e sem calças de ganga, como lhe convinha. A menina parecia feita de porcelana, com a sua pele branca, chapéu e vestido espalhafatosos e pinturas roubadas à pressa à irmã, mesmo antes de sair de casa.

Os dois foram observando as crianças, ouvindo a sua conversa, rindo com os seus comentários, engasgando-se com a dislexia parcial que nasce de algumas palavras e coçando na cabeça com cada pausa para puxar pela manivela da memória.

Eram felizes as crianças que pensavam que o tempo não existia, e os adultos, que já se habituaram ao facto de que o tempo é efémero, também eram felizes nas suas novas vidas, nos seus novos locais, nos seus novos abrigos, nos seus novos amigos, nos seus novos amores.

Alguém com sotaque francês perguntou se se podiam sentar na mesa ao lado. Os dois olharam para lá e ficaram surpreendidos ao não ver os miúdos que ainda lá estavam há dois segundos atrás. Levantaram-se apressados para os procurar e logo foram seguidos pelo empregado de avental que gritava com todas as suas forças: “Hei! Não pagaram os ice teas e as mistas!”.



(a propósito do encontro com a Rute, e do reencontro com a Rutinha)



As Músicas
A nossa Mafalda está de volta, finalmente, com um novo álbum de originais! E se a primeira reacção foi "mais do mesmo", a verdade é que com cada audição vou gostando um bocadinho mais deste Chão que tem algumas agradáveis surpresas e alterações à clássica fórmula Guitarra + Voz, como é o caso desta belíssima Pressinto.


Eu moro ao lado
Da tua casa
Dos lugares que são teus
Da tua rua

Eu moro perto
Das tuas histórias
Das montanhas e desertos
Que te deixam a alma rasa e nua

Eu adivinho no teu semblante
A cor que têm as noites
Que te inundam

É que eu pressinto
Que vens de tão longe
Que é teu o lugar
Onde as estrelas, no fim,
Se afundam.

No teu olhar
Eu adivinho
A luz que esconde o cansaço
No avesso do luar

Eu moro dentro
Do teu caminho
Dentro onde o sangue rebenta
Com a mesma força do mar

Eu sei as marcas na tua pele
Da vida inteira
Que tu não sabes

É que eu pressinto
Que vens de tão longe
Que é teu o lugar para onde
A maré vaza leva a saudade

Eu guardo o tempo
Que deixas assim
Esquecido
nas minhas mãos vazias
Se abraçasses a noite
Saberias de mim




Os Sleater-Kinney foram/são uma banda Americana com um indie rock característico da costa leste, de cujo sétimo e último álbum, The Woods, que marcou uma ruptura no som dos seus trabalhos anteriores, vou retirar esta única e supé-original Modern Girl com uma escalada Led Zeppeliniana de balada a rock. (Reparem no pequeno pormenor da distorção do som no final, como quem diz: "estou tão feliz que a música não chega para exprimir o que sinto"!)


My baby loves me, I'm so happy
Happy makes me a modern girl
Took my money and bought a TV
TV brings me closer to the world

My whole life
Looked like a picture of a sunny day
My whole life
Was like a picture of a sunny day

My baby loves me, I'm so hungry
Hunger makes me a modern girl
Took my money and bought a donut
The hole's the size of this entire world

My whole life
Was like a picture of a sunny day
My whole life
Looked like a picture of a sunny day

My baby loves me, I'm so angry
Anger makes me a modern girl
Took my money, I couldn't buy nothin'
I'm sick of this brave new world

My whole life
Was like a picture of a sunny day
My whole life
Looked like a picture of a sunny day
My whole life
Was like a picture of a sunny day
My whole life
Was like a picture of a sunny day

3 COMENTÁRIOS:

Blogger Rute Magalhães disse...

teste...
teste...
1
2

Isto funciona?
Bem, eu gostei, vamos comer donut?

16/5/08 20:34  
Blogger Rute Magalhães disse...

Ah, só quando digo parvoíces é que isto funciona!
I love Modern Girl song, é daquelas que iluminam o dia!

É sempre tão bom estar contigo!

"My whole life
Was like a picture of a sunny day"

Fazes-me outra visita?
Prometes?
Eu ofereço o chá!

Um beijo GoOrDo!*
Ru

PS - estou a pensar chamar João ao meu gato (sim, vou ficar com um dos que vão nascer), João Napoleão a paixão da Tangerina!

16/5/08 20:37  
Blogger João Esquimó disse...

Pois, parece-me que vou ter que te fazer outra visita porque a senhora se esqueceu do guarda-chuva no meu carro e isto não me parece que o sol de verão venha nos próximos tempos.

Ah, e quero conhecer os teus gatos e também quero apresentar-te o meu José!

Raios! Quando é que me tornei numa solteirona gorda e solitária que só fala de gatos?

lolol

Beijos!!!!!

20/5/08 04:27  

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