Sem Combustível
O carro pedia combustível com toda a voz que tinha, ou seja, um bip irritante e uma luz amarela com o sinal internacionalmente reconhecível de um posto de abastecimento. No indicador, uma espécie de computador dizia-me que já só tinha 0,0 litros de combustível, enquanto o carro continuava a andar como se já me tivesse esvaziado os bolsos (de dinheiro, entenda-se).
Ao fundo da estrada avistei uma série de néons a piscar numa caixa rectangular suspensa no ar por dois ou três pilares. "Estou safo", pensei ao parar o carro naquela bomba fantasma mal iluminada por duas ou três lâmpadas de halogéneo.
Por momentos senti-me num filme de terror americano, na clássica cena da bomba de gasolina no deserto, mesmo antes de chegar o carro fantasma. Death Proof veio-me à mente.
Tirei a pistola de combustível e apontei-a ao carro, saciando-lhe a sede, qual bebé a sugar o leite dos peit... das mam... do biberão! Na pacatez desta cena de sexo (para os mais perversos) entre o carro e a bomba (e curiosamente neste caso, a fêmea, a bomba, é que tem o pén... a pil... a mangueira!), tentei adivinhar que cenário nasceria atrás da escuridão que nascia ao redor de toda a bomba, mas nada me vinha à mente. Talvez fosse uma floresta abandonada pelos próprios animais, visto que não se ouvia sequer o som de uma coruja... hum... a corujar...
Um estrondo acordou-me da minha divagação, era o orgasmo tântrico do carro e da bomba ou, neste cenário tão macabro e tão realista, apenas o sinal mecânico de aviso de que o depósito estava agora cheio. Tentei, com a mestria de um ourives estrábico, acertar os euros no conta-escudos de números rotativos, mas falhei o arredondamento por um cêntimo.
Dirigi-me ao interior com o dinheiro certo nos bolsos para fazer um exercício de musculação ao abrir a porta, sendo logo denunciado por uma campainha à moda antiga, daquelas presas por uma corda.
"Boa noite" , cumprimentei cordialmente o velho franzino que se curvava para a frente no balcão, sentado num banco sem costas.
"Boa noite", retorquiu o velho, fazendo uma pausa no seu ritual de mascar uma pastilha elástica que já devia estar na sua boca desde que o seu turno terá começado, há vinte anos atrás.
Depois de martelar uns números no teclado sensível do moderno computador, o senhor lá carregou no botão mágico que faz plim e que abre a gaveta do dinheiro. Fez uma dobra a meio na vertical das notas, meteu-as debaixo de uma luz ultravioleta super-violeta, e colocou-as na caixa vazia de notas, seguídas pela solitária moeda de 1 cêntimo que se perdeu no recipiente das moedas de 1 cêntimo.
Sem parar de mascar, olhou para o monitor para logo de seguida se dirigir a mim com uma indiferença gélida e aborrecimento na voz.
"Parabéns. Acabou de ganhar shubs shubs shubs shubs".
"Desculpe?", perguntei eu alguns segundos depois, esgotadas todas as tentativas de decifrar a mensagem obscura do homem.
"Parabéns. Acabou de ganhar um café e um bolo.", disse quase adormecido apontando para um expositor de bolos de café que apareceu miraculosamente no meu campo de visão, como se o velho aborrecido tivesse acabado de fazer um truque de magia.
Analisei o ambiente antes de me voltar a dirigir ao homem que olhava para mim como se eu o estivesse a obrigar a transportar dois sacos de cimento às costas. O expositor de bolos estava a boiar em revistas obscuras, a maioria pornográficas, repletas de mulheres com mam... peit... hum... com bolas de basquete gigantescas que remetiam a parte direita do meu cérebro para montagens do photoshop, não fossem elas revistas dos anos 70, altura em que o photoshop era... bom, não era. Pensei em levar uma daquelas relíquias que deviam render balburdios no ebay, mas descartei essa hipótese maquiavélica ao ver a tristeza nos olhos do homem só de pensar que eu lhe podia levar uma das meninas que lhe faziam companhia no turno da noite.
Desviei a minha atenção e curiosidade para a máquina de café, também ela uma relíquia, semi-escondida atrás do balcão. Tentou-me seduzir com uma luzinha vermelha a indicar que o bule de café estava quente, mas eu fiz-me de desentendido, como faço sempre que sou seduzido por uma máquina de café que não a minha, que me seduz continuamente a parte esquerda do cérebro com centenas (senão milhares de milhões) de luzinhas vermelhas.
"Não, obrigado!", rejeitei finalmente o meu prémio, para logo de seguida ver a face do homem deteorar-se ainda mais numa tristeza penetrante que até a mim atingiu.
"Não quer?", perguntou numa última tentativa de me fazer ficar mais uns segundos que fossem, como se a Micas, a Zéza e a Ména (nomes fictícios para as mulheres assustadoramente volumosas de peito que figuravam nas revistas) não fossem já companhia suficiente.
Despedi-me com o talão na mão e aquele pedacinho de tristeza do homem que se agarrou a mim pelos olhos e que não me queria deixar. Apeteceu-me voltar para trás e beber o café só para fazer companhia ao homem, talvez até chegasse mesmo a comer um dos bolos recessos que deveriam estar duros como as pedras da gravilha que agora pisava ao caminhar em direcção ao carro. Queria mesmo voltar a ser aquele rapazinho descarado que gosta de perder horas a falar com figuras estranhas (para as pessoas ditas “normais”), mas deixei-me caminhar em direcção ao carro, afinal de contas já estava atrasado da minha vida, perdido no meio do nada, e com saudades da minha máquina de café que faz aquele cafézinho aromático de países exóticos, que tanto me agrada.

A Música
Do Canadá para os meus ouvidos chegou-me recentemente este Destroyer (Daniel Bejar) com sons e poemas relaxantes cheios daquelas boas vibrações indie que continuam a chegar em força neste ano de 2008 recheado de agradáveis surpresas. Para quem nunca ouviu falar do Daniel Bejar, de referir que ele colabora habitualmente com bandas como os The New Pronographers, Frog Eyes, Wolf Parade, Swan Lake e Hello, Blue Roses. Se nunca ouviram falar destas bandas: PÁREM DE OUVIR ESSAS MERDAS QUE PASSAM NA MTV!
Ok fine, even the sky looks like wine,
And everywhere I turn there,
A new face in time, stuck inside the well
Fresh hands to attend to
Blue Flower, Blue Flame,
A woman by another name is not a woman
Don't know why, don't know when
A cathedral sick of the sky again, says to it;
"Please not now, will you just look at the time, it's standing still! Somewhere applause falls dead on the hillside"
Blue Flower Blue Flame,
A woman by another name is not a woman,
I'll tell you what I mean by that,
Maybe not in seconds flat, maybe not today...
Blue Flower, Blue Flame,
A woman by another name is not a woman,
I'll tell you what I mean by that,
Maybe not in seconds flat, maybe never
A gray ashen sadness rises like the sun,
Oh well, It was time I decided to try this hotel, her world...
Tulip has an inner animal, shes' in it for a good time,
I was on the outs for awhile but now things are alright,
I gave you a flower because foxes travel light,
And a penny for your thoughts was,
Never enough,
Your head gets filled with that stuff.
Your head gets filled with that stuff....
Ao fundo da estrada avistei uma série de néons a piscar numa caixa rectangular suspensa no ar por dois ou três pilares. "Estou safo", pensei ao parar o carro naquela bomba fantasma mal iluminada por duas ou três lâmpadas de halogéneo.
Por momentos senti-me num filme de terror americano, na clássica cena da bomba de gasolina no deserto, mesmo antes de chegar o carro fantasma. Death Proof veio-me à mente.
Tirei a pistola de combustível e apontei-a ao carro, saciando-lhe a sede, qual bebé a sugar o leite dos peit... das mam... do biberão! Na pacatez desta cena de sexo (para os mais perversos) entre o carro e a bomba (e curiosamente neste caso, a fêmea, a bomba, é que tem o pén... a pil... a mangueira!), tentei adivinhar que cenário nasceria atrás da escuridão que nascia ao redor de toda a bomba, mas nada me vinha à mente. Talvez fosse uma floresta abandonada pelos próprios animais, visto que não se ouvia sequer o som de uma coruja... hum... a corujar...
Um estrondo acordou-me da minha divagação, era o orgasmo tântrico do carro e da bomba ou, neste cenário tão macabro e tão realista, apenas o sinal mecânico de aviso de que o depósito estava agora cheio. Tentei, com a mestria de um ourives estrábico, acertar os euros no conta-escudos de números rotativos, mas falhei o arredondamento por um cêntimo.
Dirigi-me ao interior com o dinheiro certo nos bolsos para fazer um exercício de musculação ao abrir a porta, sendo logo denunciado por uma campainha à moda antiga, daquelas presas por uma corda.
"Boa noite" , cumprimentei cordialmente o velho franzino que se curvava para a frente no balcão, sentado num banco sem costas.
"Boa noite", retorquiu o velho, fazendo uma pausa no seu ritual de mascar uma pastilha elástica que já devia estar na sua boca desde que o seu turno terá começado, há vinte anos atrás.
Depois de martelar uns números no teclado sensível do moderno computador, o senhor lá carregou no botão mágico que faz plim e que abre a gaveta do dinheiro. Fez uma dobra a meio na vertical das notas, meteu-as debaixo de uma luz ultravioleta super-violeta, e colocou-as na caixa vazia de notas, seguídas pela solitária moeda de 1 cêntimo que se perdeu no recipiente das moedas de 1 cêntimo.
Sem parar de mascar, olhou para o monitor para logo de seguida se dirigir a mim com uma indiferença gélida e aborrecimento na voz.
"Parabéns. Acabou de ganhar shubs shubs shubs shubs".
"Desculpe?", perguntei eu alguns segundos depois, esgotadas todas as tentativas de decifrar a mensagem obscura do homem.
"Parabéns. Acabou de ganhar um café e um bolo.", disse quase adormecido apontando para um expositor de bolos de café que apareceu miraculosamente no meu campo de visão, como se o velho aborrecido tivesse acabado de fazer um truque de magia.
Analisei o ambiente antes de me voltar a dirigir ao homem que olhava para mim como se eu o estivesse a obrigar a transportar dois sacos de cimento às costas. O expositor de bolos estava a boiar em revistas obscuras, a maioria pornográficas, repletas de mulheres com mam... peit... hum... com bolas de basquete gigantescas que remetiam a parte direita do meu cérebro para montagens do photoshop, não fossem elas revistas dos anos 70, altura em que o photoshop era... bom, não era. Pensei em levar uma daquelas relíquias que deviam render balburdios no ebay, mas descartei essa hipótese maquiavélica ao ver a tristeza nos olhos do homem só de pensar que eu lhe podia levar uma das meninas que lhe faziam companhia no turno da noite.
Desviei a minha atenção e curiosidade para a máquina de café, também ela uma relíquia, semi-escondida atrás do balcão. Tentou-me seduzir com uma luzinha vermelha a indicar que o bule de café estava quente, mas eu fiz-me de desentendido, como faço sempre que sou seduzido por uma máquina de café que não a minha, que me seduz continuamente a parte esquerda do cérebro com centenas (senão milhares de milhões) de luzinhas vermelhas.
"Não, obrigado!", rejeitei finalmente o meu prémio, para logo de seguida ver a face do homem deteorar-se ainda mais numa tristeza penetrante que até a mim atingiu.
"Não quer?", perguntou numa última tentativa de me fazer ficar mais uns segundos que fossem, como se a Micas, a Zéza e a Ména (nomes fictícios para as mulheres assustadoramente volumosas de peito que figuravam nas revistas) não fossem já companhia suficiente.
Despedi-me com o talão na mão e aquele pedacinho de tristeza do homem que se agarrou a mim pelos olhos e que não me queria deixar. Apeteceu-me voltar para trás e beber o café só para fazer companhia ao homem, talvez até chegasse mesmo a comer um dos bolos recessos que deveriam estar duros como as pedras da gravilha que agora pisava ao caminhar em direcção ao carro. Queria mesmo voltar a ser aquele rapazinho descarado que gosta de perder horas a falar com figuras estranhas (para as pessoas ditas “normais”), mas deixei-me caminhar em direcção ao carro, afinal de contas já estava atrasado da minha vida, perdido no meio do nada, e com saudades da minha máquina de café que faz aquele cafézinho aromático de países exóticos, que tanto me agrada.

A Música
Do Canadá para os meus ouvidos chegou-me recentemente este Destroyer (Daniel Bejar) com sons e poemas relaxantes cheios daquelas boas vibrações indie que continuam a chegar em força neste ano de 2008 recheado de agradáveis surpresas. Para quem nunca ouviu falar do Daniel Bejar, de referir que ele colabora habitualmente com bandas como os The New Pronographers, Frog Eyes, Wolf Parade, Swan Lake e Hello, Blue Roses. Se nunca ouviram falar destas bandas: PÁREM DE OUVIR ESSAS MERDAS QUE PASSAM NA MTV!
Ok fine, even the sky looks like wine,
And everywhere I turn there,
A new face in time, stuck inside the well
Fresh hands to attend to
Blue Flower, Blue Flame,
A woman by another name is not a woman
Don't know why, don't know when
A cathedral sick of the sky again, says to it;
"Please not now, will you just look at the time, it's standing still! Somewhere applause falls dead on the hillside"
Blue Flower Blue Flame,
A woman by another name is not a woman,
I'll tell you what I mean by that,
Maybe not in seconds flat, maybe not today...
Blue Flower, Blue Flame,
A woman by another name is not a woman,
I'll tell you what I mean by that,
Maybe not in seconds flat, maybe never
A gray ashen sadness rises like the sun,
Oh well, It was time I decided to try this hotel, her world...
Tulip has an inner animal, shes' in it for a good time,
I was on the outs for awhile but now things are alright,
I gave you a flower because foxes travel light,
And a penny for your thoughts was,
Never enough,
Your head gets filled with that stuff.
Your head gets filled with that stuff....
6 COMENTÁRIOS:
isto é pornografia auto
(o homenzinho não ficou triste por teres recusado o prémio shubs shubs shubs... ficou foi aborrecido por seres tu e não uma daquelas Sheilas das revistas)
beijo "môre" e não "môri"
Mal vi este anúncio, lembrei-me de ti.
Procura-se escritor para contos infantis que se inspire com música de índios metrossexuais na moda. Se tiver problemas que não se consigam entender, ainda melhor.
contactar 934646839
é é, gostaste mais das revistas pornográficas do que o velho.
Não me admiro nada que tenhas trazido umas quantas e agora vens para aqui dizer q não levaste nenhuma
joãozito pequenito já te tenho dito que não é bonito andares-me a enganar!
(prontos eu percebi a metáfora da máquina do café, era para mim não era?)
beijinhos
=/ Quarta-feira é um bom dia?
Chiado?
Decide tu, quarta estou livre!
*
Tu e os velhos, os velho e tu! Tu num lar de idosos devias ser como uma criança numa loja de brinquedos.
lol
Beijo******
Joana,
O homem ficou claramente aborrecido por EU não querer o prémio. Claro que se fosse uma das sheilas com mamas grandes e se quisesse um café, isso para o homem seria o paraíso.
beijos môri (< com i no fim)
--
Anónimo,
Pena é eu escrever histórias para mulheres de meia idade na menopausa e inspirar-me em músicas dos anos 80 tocadas por homens de piano que normalmente tocam em casamentos.
Perdoa o abuso, mas quem és? É que por Anónimo não vou lá... Uma vez conheci um Antónimo, mas esse era um chato que era sempre do contra.
--
Isa,
Sim, na verdade trouxe umas quantas, mas não digas a ninguém!
(Hum... não! não era uma metáfora e não era para ti... andas a falar muito com a marta, não é?)
--
Rute,
Sua tonta! Já falei contigo. Quarta da próxima semana parece-me um bom dia! Beijos!
--
Lara,
lol
Eu já sou uma criança numa loja de brinquedos no mundo real!
Beijos!!
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