Danceteria RockEmRól (1988)
Apertou o cordão da sua bota esquerda e pousou os dez quilos de borracha no chão, sem, no entanto, abalar um milímetro do seu penteado moldado a laca roubada às escondidas à sua mãe. Vestiu o casaco de cabedal preto com abas que desafiavam a altura do seu pescoço e, com o Walkmen já devidamente encaixado num dos bolsos, encaixou os auscultadores gigantes na cabeça.
Consultou o seu Cassio preto com riscas vermelhas, “10:33PM”. Alguém buzina da rua e ele afasta as cortinas brancas rendadas para ver a velha cátrel (Renault 4L) branca com mais pessoas dentro do que era suposto transportar e pronta a carregar mais um peso morto de cabedal e borracha.
Isolado na pequena multidão do carro, no colo de uma rapariga vestida de ganga da cabeça aos pés, ele, indiferente àquilo tudo, abanava ligeiramente a cabeça ao ritmo das baterias ritmadas que pareciam ecoar e dos cada vez mais populares sintetizadores que haveriam de moldar o som daquela época.
Nas ruas, passando a passo por eles a velocidade de passo, caminhavam várias grupos de indivíduos exactamente iguais, os que abusavam da ganga, os que abusavam do cabedal e, mais raramente, os que abusavam das cores quentes. Quase comum a todos eram os cigarros em abundância, até nas orelhas chegavam a estar pousados, e os calçados exuberantes que aumentavam em alguns centímetros a altura média daquela geração.
A cátrel pára mesmo em frente à danceteria RockEmRól para deixar sair parte da multidão, incluindo ele, que se dirige imediatamente à entrada, ignorando a longa fila de jovens com pinturas estranhas que gritavam insultos ao vê-lo entrar depois de cumprimentar o porteiro com um moderníssimo cumprimento de mão encurvado.
Já lá dentro, e sob o som ensurdecedor de música africana vinda dos bairros de Nova York e retocada em Manchester, passa por um sujeito como qualquer outro e simula um cumprimento, trocando uma nota de mil paus por um pequeno saco que continha o que aparentava ser um godo estreito, daqueles que se encontram na praia. Enrolou um cigarro com aquela inóspita substância para segurar na orelha, fumando já um para compensar o trabalho.
As mulheres olhavam-no ao passar e ele olhava-lhes as pernas enfeitadas por meias rosa-choque vestidas por cima das calças. Uma delas vem ao encontro dele, com o seu cabelo vermelho-forte acabadinho de pintar em casa com a loucura do momento que são as tintas de supermercado. Arrasta-o para dançar e começam as suas manobras ao estilo anúncio-da-TV-Shop-para-um-vídeo-VHS-de-aeróbica-e-ginástica-em-casa com os braços dobrados levantados à altura da cabeça e abertos ao máximo.
À medida que os escudos iam desaparecendo dos bolsos, o suor ia transpirando as roupas quentes e o sol ia nascendo lá fora, a pista de dança ia-se esvaziando e o fumo ia-se dissipando, dando agora para distinguir as caras das pessoas.
"É feia!", pensou, "Vou-me embora."
O regresso à terra era marcado pela habituação dos olhos à luz e dos ouvidos à falta de som. Com os olhos meios fechados e um zumbido permanente nos ouvidos, ia caminhando o caminho que havia percorrido inicialmente de carro, mas agora a pé e sem sentir os pés.
Deita-se finalmente exausto na sua cama para não conseguir adormecer logo. Tenta fechar mais uma vez a persiana, só para reparar mais uma vez que não fecha mais. Os vizinhos começam a acordar, a ligar os chuveiros e a arrastar cadeiras. Não deve faltar muito até o seu próprio despertador tocar.
As Músicas
Mais uma banda canadiana com estilo (e eu continuo perplexo como é que raio é que um país tão neutro e aborrecido como o Canadá consegue ter algumas das melhores bandas do mundo, seria como se a Bélgica tivesse alguns dos melhores chocolates do mundo, ou como se a Suíça tivesse alguns dos melhores queijos do mundo... hum...). Os Crystal Castles já eram minimamente conhecidos dentro do meio indie/electrónica à conta de algumas remisturas bem sucedidas, mas este primeiro álbum está a ser recebido com euforia tanto por críticos como pelas pessoas em geral. Vá, ouçam-nos enquanto estão quentinhos, antes que as danceterias os passem à exaustão e à memória do saudoso verão de 2008. A electrónica voltou a ser sexy!
Os Hercules and Love Affair são uma banda de Nova York liderados pelo DJ Andy Butler que já andam a fazer mexer meio mundo com o seu single Blind. Mas como os ritmos desta Athene são bem ao estilo dos anos 80, levam antes com ela!
E de onde é que são os No Kids? Um chocolatinho ou um queijinho para quem acertar. Sim! São do Canadá também. Depois da experiência inicial como P:ano e especialmente após a partida de um dos membros desta banda com muito pouco material editado, os restantes elementos decidiram formar uma nova banda com tantos estilos musicais diferentes, que é difícil atribuir um rótulo à banda. Apenas de referir que nenhuma das músicas tem a ver com a outra, mas que é perfeito para relaxar quando, digamos, estão a regressar a casa, a pé, depois de terem estado horas com a vossa gaja num sítio mal frequentado e mal iluminado (cóf cóf).
Consultou o seu Cassio preto com riscas vermelhas, “10:33PM”. Alguém buzina da rua e ele afasta as cortinas brancas rendadas para ver a velha cátrel (Renault 4L) branca com mais pessoas dentro do que era suposto transportar e pronta a carregar mais um peso morto de cabedal e borracha.
Isolado na pequena multidão do carro, no colo de uma rapariga vestida de ganga da cabeça aos pés, ele, indiferente àquilo tudo, abanava ligeiramente a cabeça ao ritmo das baterias ritmadas que pareciam ecoar e dos cada vez mais populares sintetizadores que haveriam de moldar o som daquela época.
Nas ruas, passando a passo por eles a velocidade de passo, caminhavam várias grupos de indivíduos exactamente iguais, os que abusavam da ganga, os que abusavam do cabedal e, mais raramente, os que abusavam das cores quentes. Quase comum a todos eram os cigarros em abundância, até nas orelhas chegavam a estar pousados, e os calçados exuberantes que aumentavam em alguns centímetros a altura média daquela geração.
A cátrel pára mesmo em frente à danceteria RockEmRól para deixar sair parte da multidão, incluindo ele, que se dirige imediatamente à entrada, ignorando a longa fila de jovens com pinturas estranhas que gritavam insultos ao vê-lo entrar depois de cumprimentar o porteiro com um moderníssimo cumprimento de mão encurvado.
Já lá dentro, e sob o som ensurdecedor de música africana vinda dos bairros de Nova York e retocada em Manchester, passa por um sujeito como qualquer outro e simula um cumprimento, trocando uma nota de mil paus por um pequeno saco que continha o que aparentava ser um godo estreito, daqueles que se encontram na praia. Enrolou um cigarro com aquela inóspita substância para segurar na orelha, fumando já um para compensar o trabalho.
As mulheres olhavam-no ao passar e ele olhava-lhes as pernas enfeitadas por meias rosa-choque vestidas por cima das calças. Uma delas vem ao encontro dele, com o seu cabelo vermelho-forte acabadinho de pintar em casa com a loucura do momento que são as tintas de supermercado. Arrasta-o para dançar e começam as suas manobras ao estilo anúncio-da-TV-Shop-para-um-vídeo-VHS-de-aeróbica-e-ginástica-em-casa com os braços dobrados levantados à altura da cabeça e abertos ao máximo.
À medida que os escudos iam desaparecendo dos bolsos, o suor ia transpirando as roupas quentes e o sol ia nascendo lá fora, a pista de dança ia-se esvaziando e o fumo ia-se dissipando, dando agora para distinguir as caras das pessoas.
"É feia!", pensou, "Vou-me embora."
O regresso à terra era marcado pela habituação dos olhos à luz e dos ouvidos à falta de som. Com os olhos meios fechados e um zumbido permanente nos ouvidos, ia caminhando o caminho que havia percorrido inicialmente de carro, mas agora a pé e sem sentir os pés.
Deita-se finalmente exausto na sua cama para não conseguir adormecer logo. Tenta fechar mais uma vez a persiana, só para reparar mais uma vez que não fecha mais. Os vizinhos começam a acordar, a ligar os chuveiros e a arrastar cadeiras. Não deve faltar muito até o seu próprio despertador tocar.
As Músicas
Mais uma banda canadiana com estilo (e eu continuo perplexo como é que raio é que um país tão neutro e aborrecido como o Canadá consegue ter algumas das melhores bandas do mundo, seria como se a Bélgica tivesse alguns dos melhores chocolates do mundo, ou como se a Suíça tivesse alguns dos melhores queijos do mundo... hum...). Os Crystal Castles já eram minimamente conhecidos dentro do meio indie/electrónica à conta de algumas remisturas bem sucedidas, mas este primeiro álbum está a ser recebido com euforia tanto por críticos como pelas pessoas em geral. Vá, ouçam-nos enquanto estão quentinhos, antes que as danceterias os passem à exaustão e à memória do saudoso verão de 2008. A electrónica voltou a ser sexy!
Os Hercules and Love Affair são uma banda de Nova York liderados pelo DJ Andy Butler que já andam a fazer mexer meio mundo com o seu single Blind. Mas como os ritmos desta Athene são bem ao estilo dos anos 80, levam antes com ela!
E de onde é que são os No Kids? Um chocolatinho ou um queijinho para quem acertar. Sim! São do Canadá também. Depois da experiência inicial como P:ano e especialmente após a partida de um dos membros desta banda com muito pouco material editado, os restantes elementos decidiram formar uma nova banda com tantos estilos musicais diferentes, que é difícil atribuir um rótulo à banda. Apenas de referir que nenhuma das músicas tem a ver com a outra, mas que é perfeito para relaxar quando, digamos, estão a regressar a casa, a pé, depois de terem estado horas com a vossa gaja num sítio mal frequentado e mal iluminado (cóf cóf).
4 COMENTÁRIOS:
The 80's are sooo cool!
os crystal ainda são mais sexys que os hercules. MErda,para bem era uma remistura dos crytal pelos mstrkrft
Excelentes gostos musicais, como sempre ;)
beijinhos
...
mais uma das tuas...
histórias
beijo grande meu querido.
Parece-me que tanto faz ser nos anos 80 nos 90 ou agora que o ritual é sempre o mesmo, só mudamos as roupas os penteados e os meios de transporte
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Ai, o meu mini-quase-super-heróizinho! +/- a salvar velhotinhas, como era o teu sonho
Isabel,
Também gostas dos MSTRKRFT? São a minha banda fétiche a seguir aos Death From Above, claro. Que não têm nada a ver uns com os outros, claro. Apesar de terem um membro da banda em comum, claro (<-imitação roskoff da Isabel não buêbada)
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Joaninha minha querida,
Apesar de suspeitar que nunca ninguém lê estas minhas respostas aos comentários, um beijo do teu tamanho para ti! hum... Pensando melhor, se calhar um beijo um bocadinho maior!
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Martuska,
Eu não salvo velhinhas quase em apuros! (Tenho que ser discreto porque sou um agente à paisana. Ou melhor, sou um agente secreto!)
Beijos para vocês!
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