23 abril, 2008

Saudade Não É Fado

O trinco da porta a abrir foi a única formalidade a anunciar o início das festividades. Ela chegou-se à frente com dois beijos e um abraço apertado, ele fingia estar a leste de tudo, enquanto enrolava, dobrado sobre a mesa quase à altura do chão, o primeiro de muitos cigarros para o resto da tarde. Ao fundo, na varanda apertada, a menina desengonçada entretanto feita mulher ousada apontava a velha máquina fotográfica de rolo a tudo o que via lá em baixo.

O resto foi o que sempre foram as tardes de sábado: a conversa, a música, o amontoar de garrafas, o cinzeiro micas, as almofadas desconfortáveis, as pausas para silêncio, o incenso aromático e a senhora gargalhada.

Nunca lhe passou pela cabeça que aquilo seria uma despedida. Era... Era apenas mais um sábado. Não seria, por certo, o último sábado da vida deles, apenas o fim de mais uma etapa daquelas vidas ainda curtas, mas já tão atribuladas.

(...)

Quando era já tão escuro que ameaçava ser dia a qualquer altura, chegou-se atrás, encostou-se à parede e, entontecido pelo álcool, soltou uma gargalhada.

- De que é que estás a rir? - Perguntou ela também em gargalhadas, já quase tão dormente como a rapariga que dormia nas almofadas com a cabeça pousada sobre as pernas do irmão prestes a desertar, como ela fizera (por imposição) no seu tempo.

- Lembrei-me agora daquela vez no S. João quando o velhote te pediu em casamento e te queria raptar a toda a força. Lembras-te?

- E a velhota que pensava que tu eras o filho dela? Lembras-te?

- Ou quando rasgaste o vestido e ficaste com as cuecas à mostra, e tivemos que colar...

- ...com fita cola! - Completou com aquela gargalhada familiar - E quando tu perdeste o bilhete e o segurança não te queria deixar voltar a entrar? Tivemos que sair todos do concerto para o procurar e quando o encontrámos o concerto já tinha acabado!

Seguiram-se o resto das gargalhadas que ainda haviam para dar, umas trincadelas em bolachas desenxabidas e um momento de silêncio introspectivo, daqueles em que as gargalhadas dão lugar a um momento sério.

- Ai, ai, o que é que vai ser de mim sem ti? - Perguntou ela, quebrando a introspecção.

- E de mim sem ti? Ainda me esqueço de apertar os cordões e tropeço e caio e tenho que ir para o hospital.

- Anda cá. - Convidou ela, abrindo os braços para um abraço apertado. - Não te esqueças de mim, ouviste? - Ordenou com os olhos já ensopados de lágrimas.

Ele engoliu em seco antes de lhe soprar qualquer coisa, que haverá de se perder no tempo, ao ouvido.



As Músicas
Hum... Radiohead... Radiohead... Que escrever sobre aquela que provavelmente será a melhor banda de todos os tempos? Depois de álbum como Ok Computer, Kid A (considerado por muitos o melhor álbum de todo o sempre) e Amnesiac, era muito dificil estar à altura das expectativas, e Hail to the Thief foi o álbum ideal para resfriar os ânimos. Não, In Rainbows não está à altura do revolucionário Kid A, mas tem algumas músicas do melhor que se faz no mundo na actualidade, como é o caso desta All I Need. (À parte, ou não: É difícil ouvir uma música nova dos Radiohead e dizer: “Hei, isto é Radiohead!”, porque tirando a voz inconfundível do Tom Yorke, a evolução e inovação de album para album é notável e impressionante).


I am the next act waiting in the wings
I am an animal trapped in your hot car
I am all the days that you choose to ignore

You are all I need
You are all I need
I am in the middle of your picture
Lying in the reeds

I am a moth who just wants to share your light
I’m just an insect trying to get out of the night
I only stick with you because there are no others

You are all I need
You are all I need
I am in the middle of your picture
Lying in the reeds

It's all wrong
It's all right
It's all right
It's all wrong
It's all right
It's all right
It's all right





A australiana Sia ficou famosa principalmente pelas suas vocais nos dois geniais primeiros álbuns dos Zero 7 (sim, também participou no terceiro, mas esse não foi genial), mas tem-se destacado sobretudo pela consistência dos seus álbuns a solo, como é o caso deste novíssimo Some People Have Real Problems que tem algumas agradáveis surpresas.


Pick me up in your arms
Carry me away from harm
You’re never gonna put me down
I know you’re just one good man
You’ll tire before we see land
You’re never gonna put me down

Oh I’ve been running all my life
I ran away, I ran away from good
Yeah I’ve been waiting all my life
You’re not a day you’re not day too soon

Honey I will stitch you
Darling I will fit you in my heart
Honey I will meet you
Darling I will keep you in my heart

You’ll risk all this for just a kiss
I promise I will not resist
Promise you wont hold me down
And when we reach a good place
Let’s be sure to leave no trace
Promise they wont track us down

Now I’ve been running all my life
I ran away, I ran away from good
Yeah, I’ve been waiting all my life
You’re not a day, you’re not a day too soon

Honey I will stitch you
Darling i will feel you in my heart
Honey I will meet you
Darling I will keep you in my heart

I’ve been running all my life
I ran away, I ran away from good
Yeah I’ve been waiting all my life
You’re not a day, you’re not a day too soon

Oh honey I will stitch you
Darling I will feel you in my heart
Honey I will meet you
Darling I will keep you in my heart





Em 2006 alguém se lembrou de juntar num álbum (Exit Music: Songs with Radio Heads) algumas covers de músicas dos Radiohead por artistas mais ou menos conhecidos. A Sia fez esta maravilhosa recriação da Paranoid Android.


Please could you stop the noise, I'm trying to get some rest
From all the unborn chicken voices in my head
What's that, what's that

When I am king you will be first against the wall
With your opinion which is of no consequence at all
What's that, what's that

Ambition makes you look pretty ugly
Kicking squealing Gucci little piggy

You don't remember, you don't remember
Why don't you remember my name?
Off with his head man, off with his head man
Why don't you remember my name?
I guess he does

Rain down, rain down, come on rain down on me
From a great height, from a great height, height
Rain down, rain down, come on rain down on me
From a great height, from a great height, height

That's it sir, you're leaving
The crackle of pig skin
The dust and the screaming
The yuppies networking
The panic, the vomit
The panic, the vomit
God loves his children
God loves his children, yeah

2 COMENTÁRIOS:

Anonymous Anónimo disse...

Lindos, tu e o texto

Adoro-te adoro-te adoro-te adoro-te!!!

Não sabes as saudades que vou ter de ti

(ao bocado o ricardo perguntou aquela classica "não te esqueceste de nada?" e eu "esqueci-me de meter o joão na mala, será que o posso levar na bagagem de mao?" :)


Beijo mesmo grande que não cabe aqui!!!!!!!

Despedimos-nos daqui a nada, mas jáaestou lamechas. será que vai ser uma daquelas coisas à filme em que tu apareces no aeroporto a correr a gritar para eu não ir?

24/4/08 16:23  
Blogger João Esquimó disse...

és uma tonta.

tenho saudades tuas!

29/4/08 03:39  

Enviar um comentário

<< Voltar