20 maio, 2008

"Apareçam Ao 3D"

É difícil imaginar um lugar tão comum a tanta gente como o 3D (3º Direito da Carlos Seixas, junto ao Arco). Por aqui já terão passado centenas de pessoas em algumas dezenas de festas, em algumas milhares de recordações que haverão de encher o ar de nostalgia nos jantares de reunião dos antigos habitantes e amigos que haverão de existir.

Aqui confrontamos os vizinhos (o vizinho de cima com a sua colecção de t-shirts de Benidorm ou a vizinha de baixo que não pára de chatear a cabeça ao filho), bebemos litros de bebidas comuns ou bebidas inventadas à falta de ingredientes (o Bagamel terá sido a melhor = bagaço + mel), fizemos festas temáticas (a clássica festa de Bonga com decoração à altura), ou festas improvisadas (no andar de baixo da garagem, no fim dos jantares), os pequenos-almoços reforçados ao voltar da queima (ou almoços cozinhados às 9 da manhã, quando já não havia Caldo Verde no Alentejano), aqui fomos vendo o lixo acumular até pontos ridículos em que alguém (cóf cóf) tinha que se impor e gritar: “Assim não dá para viver aqui!”, e as longas limpezas à casa em que se vira tudo às avessas e até a televisão fica com a imagem mais brilhante, retirada a camada de sujidade do ecrã. Aqui fomos falando das relações uns dos outros como se fossem as melhores e as piores coisas do mundo (à margem das calamidades no extremo asiático), fomos cuscando a vida dos outros e a nossa própria, fomos tentando reconciliar relações falhadas e criar novas, fomos falando mal dos professores, estudando em grupo na mesa grande da cozinha, sentados nas cadeiras do Itália, fazendo pausas aqui e ali para estudar. Fomos tornando carros descapotáveis na garagem e fazendo deste o ponto oficial e tradicional da partida do carro da latada. Fomos aprendendo a cozinhar, por entre comidas extremamente salgadas, ou extremamente picantes, fomos aprendendo a lavar a louça à mão, organizando-nos muito desorganizadamente em turnos informais para levar o lixo e para ir ao ecoponto (especialmente as clássicas idas ao vidrão, fazendo jus ao estereotipo do estudante de Coimbra). Fomos aprendendo a ver as contas acumular e a resmungar com o gajo que liga o chuveiro e vai ler blogues enquanto espera que a água aqueça. E fomos vivendo tantas, mas tantas outras coisas que a minha memória já armazenou em caixotes para levar para o sótão. Enfim, fomos aprendendo a crescer, a viver. Não é fácil dizer adeus.


(A propósito de mais um episódio à 3D em que ficamos presos dentro de casa à conta do descuido de alguém a arrancar a maçaneta da porta (cóf cóf). Se calhar foi este pequeno pedaço de cimento suspenso no ar a ganhar vida e a querer ficar connosco para todo sempre. Medo!)






As Músicas
Como se não bastasse os londrinos Hot Chip fazerem grandes músicas a solo (o mais recente Made in the Dark é um grande exemplo disso), ainda sobra um grande talento para fazerem remisturas, como esta In The Morning dos canadianos Junior Boys prova. Não desistam do início apimbalhado, faz parte de todas as remisturas, vá-se lá saber porquê.


Too young
Oh, too young

Girl, the night's not over,
We're not getting older
They can't chase forever.

Cos in the morning
There's a million years to choose from.
You don't care
Just take one.
Leave a place to rest on.

Because you're too young
Oh, you're too young
Oh, too young

There goes another morning
Just wrap it up
We own it
This night's so scared we own it
And in the morning
Why'd you tell me
That it's over?
You think you'd do better
To stick with someone older.

Because I'm too young
Too young

Oh yeah, we're too young
(In the Morning)
Too young



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Esta última semana não deu para parar um bocadinho, sempre a correr de lado para lado para lugares exóticos para conhecer pessoas estranhas, ou apenas extravagantes, desde o senhor que não quer um site, apenas um letreiro, ao homem que vive numa casa moderna isolada no meio do nada, ou a rapariga brasileira que fala com sotaque de emigrante francês ou a histérica que acha piada a tudo o que eu faço, como se eu fosse um palhaço que faz o truque da flor que esguicha água uma e outra e outra vez, ou até mesmo a rapariga que adormece de aborrecimento quando está comigo.



Depois do frenesim do ano passado de bandas com inspiração de música cigana e báltica, os DeVotchKa, apesar de andarem nisto desde 97, foram dos que mais se realçaram pela qualidade e originalidade das músicas. Estão de regresso em 2008 com A Mad & Faithful Telling onde se esconde esta pérola. Influências de Arcade Fire e Beirut? É mais ao contrário, mas são todos amigos.


You better mean what you say.
Why don't you say what you mean?
I never get anywhere,
I get the space in-between.
Beautifully mutilated,
Insanely antiquated,
I will admit I almost always underestimate it