27 fevereiro, 2007

Ofuscado pelo Sol

Tenho este hábito estranho de olhar directamente para o sol e ficar depois ofuscado com tanta luz, passando a ver o mundo de uma forma diferente (talvez mais luminosa?). Os mais sábios dirão que isso faz mal aos olhos, mas eu acho que faz bem ao cérebro…



A Música
Os Broken Social Scene são outra super banda (não só pelo número de elementos, mas também por esses elementos serem, mais ou menos conhecidos de outras bandas) vinda do Canadá, esse país tão neutro e aborrecido que, no entanto, consegue criar algumas das melhores bandas do mundo... Curioso...


Looks just like the sun
Looks just like it
Looks just like the sun
Looks just like it
But it looks just like the sun
Looks just like it
But I'm breathing, thinking one...

Heart is pounding in his chest
Reaches suddenly for his gun
Should be sailing in the west
Flower that could be his fun

Tree of families on his head
Weary red, split open eyes
I'm on the corner, thinking 'bout my bed
Ain't just in store and signifies

Looks just like
And it looks just like it
Looks just like the sun
Looks just like it
Looks just like the sun
And it looks just like it
But I'm breathing, thinking one...

Gold and red the colors change as you can't forget
Turning back, you know I thought I knew, thought I knew someone
You better check your watch
I think it's time you left

To he, darkness - still it's obvious to everyone
Darkness, still - it's obvious to everyone
Still it's obvious to every

Well it looks just like
Looks just like it
Looks just like the sun
Looks just like it
Looks just like the sun
Looks just like it

Looks just like the sun

 

 
     

24 fevereiro, 2007

O melhor contador de histórias do mundo, o meu Avô

- Quando eu era mais novo - disse-me o meu avô enquanto cortava duas fatias de chouriça com a sua velha e fiel navalha (a qual ainda guardo cuidadosamente numa pequena caixa) - havia um penedo ali em cima - e nisto apontou para os montes que nasciam lá para trás das casas - que se chamava o penedo da sereia - meteu uma rodela à boca e deu-me a outra preparando já a mão livre para agarrar o copo por esta altura cheio (e quando digo cheio quero mesmo dizer a transbordar, mas sem nunca o fazer) de um líquido vermelho que mais tarde vim a saber ser vinho tinto – Os mais velhos, os meus pais… Os teus bisavós, diziam que aquele penedo estava enfeitiçado, que quem se aproximasse de lá e ouvisse a voz da sereia iria ficar amaldiçoado para o resto da vida. – Deu mais um golo no copo enquanto observava os meus olhos atentos, porque os nossos olhos, como ele dizia, são o espelho dos ouvidos, quanto mais abertos, mais ouvimos – Mas como deves adivinhar, eu e os outros moços da minha idade… da idade que tu vais ter um dia… Bom, nós tínhamos que lá ir porque queríamos ver essa misteriosa sereia. - Olhou em volta à procura de algo – Sabes como é que isto ficava bom? – Perguntou sabendo que eu não sabia a resposta e, por isso, respondendo logo a seguir – Era com um bocadinho de água ardente. Mas não digas nada à tua avó, ouviste? – Fingi um abanar de cabeça sincero quando o que realmente queria era ouvir o resto da história, mas ele, como qualquer bom contador de histórias, fazia uma história que se contava em dois minutos durar duas horas para o grande regozijo da criança gorda e solitária que se apresentava à sua frente. Colocou a água ardente num prato e acendeu-a com um dos fósforos em miniatura que guardava sempre e inevitavelmente no bolso direito das calças, fossem elas quais fossem. Depois colocou lá a chouriça e começou a assá-la com aquele sorriso malandro que de vez em quando também deixo escapar.

- Mas então e a sereia? Conta! – Perguntei eu debruçado sobre a mesa e deliciado em partes iguais pela história em suspenso e pelo fogo que nascia do prato. Estava tão absorto que até o tratei por “tu”, o que ele considerava ser uma gravíssima falta de respeito, mas naquele dia acho que nem reparou. – Ó Bú, conta lá!

- Eu e o Zé Botas, o filho da Ser’Olívia… Aquela que mora ali em baixo – Se o ali em baixo fosse um local verdadeiro, então toda a gente morava lá – Íamos para o monte, numa tarde de folga e encontramos o… - Encorrilhou a testa e franziu um dos olhos azuis inclinando muito levemente a cabeça ( como eu faço ) – ah! Era o… - e disse um nome qualquer que a memória agora não me deixa lembrar, mas vamos-lhe chamar de Zé do Monte só para esta história, porque um bom contador de histórias nunca deixa o público suspenso numa imprecisão – Era o Zé do Monte! – Afirmou com toda a certeza do mundo. – Então lá íamos nós monte acima quando o Zé Botas disse que tinha ouvido a voz de uma mulher a chamar por nós. Eu não ouvi nada mas o Zé do Monte também insistia que estava uma mulher a chamar por nós. Depois de algumas voltas pelo monte à procura da mulher, ele finalmente disse que o som vinha de uma gruta pequena que se escondia debaixo de um penedo sinistro. O Zé Botas, que era um destemido – Ele levou novamente o copo à boca enquanto as chamas se extinguiam no prato –quis logo entrar e o Zé do Monte foi atrás dele, mas eu pensei cá para mim: “Não! Deixa-te estar aqui que estás bem!” – E enquanto dizia isto, o meu avô apontava com o dedo indicador para um dos olhos – Quando eles voltaram – continuou – o Zé do Monte vinha a tremer, parecia que tinha visto um fantasma. O Zé Botas não dizia nada, só olhava em frente, nunca o tinha visto assim. Eu perguntei-lhes o que é que eles tinham visto lá dentro mas eles não responderam. Nunca vim a saber o que é que eles viram lá dentro, nunca me chegaram a dizer. Não sei se foi uma sereia ou se foi uma bruxa, mas a verdade é que eles nunca mais foram os mesmos depois daquele dia. O Zé do Monte uns anos mais tarde enforcou-se e o Zé Botas emigrou, dizem que foi para França, mas eu tenho cá na minha ideia – disse ele no seu ar de sábio a abanar o dedo indicador no ar – que ele não foi nada para França. Eu acho que é ele que vive naquela casa abandonada à entrada do monte.

- Nunca o foi procurar? – Perguntei, intrigado.

- Chamei pelo nome dele, mas ele não reagiu.

- E tu, bú, não te aconteceu nada de estranho?

- No dia a seguir conheci a tua avó. – Nisto ouvimos o portão a bater lá em baixo – É ela, rápido, guarda isso – Disse-me, passando-me a garrafa de água ardente para a mão, com preocupação nos olhos e um sorriso regalado de quem acabou de passar um bom momento. Ele amava-a mas nunca soube se ela o amava.


O meu avô não falava. Teve um problema na garganta por causa dos cigarros e, desde que o conheci, apenas conseguia sussurrar muito baixinho, mas como era delicioso passar as tardes a ouvir aquele sussurrar com os barulhos típicos da aldeia no fundo e aquele sorriso que nunca se desvanecia…

( Se estiveram atentos à história, então não a perceberam e, se assim foi, então peço desculpa pelo tempo que vos fiz perder. A verdadeira beleza de todas as histórias que o meu avô me contava não estava nas histórias em si, mas na forma como ele as contava. É por isso que ele é, e será sempre para mim, o melhor contador de histórias do mundo )




A Música
Os The Memory Band são uma super banda (com 10 elementos) de folk vinda da Inglaterra. Não consigo explicar porquê, mas adoro estes sons e tenho a certeza que, se o meu avô estivesse aqui, iria querer dedicar esta música à minha avó (Raios! Porque é que tive que sair a ele e ser um romântico à moda antiga? Podia gostar de coisas supérfluas ou ser um desses Emos que gostam de… sei lá de que raio é que eles gostam, não devem gostar de nada).


I want you to know you make me happy
I want you to know you make me glad
You are the Best Thing I’ve ever had

 

 
     

23 fevereiro, 2007

Enquanto estou parado no trânsito

Sexta-Feira é dia de regresso a casa, o dia em que percorro um terço do país a bordo do meu fiel companheiro vendo passar os quilómetros como quem vê passar o tempo num banco de jardim.

Agora não vejo passar nada. À minha frente tenho três mil carros, cheios de pessoas ansiosas por chegar a casa, completamente parados no meio da estrada. Lá ao longe um homem saiu do carro e ficou pendurado na porta a olhar para todos os lados. Imagino que será um português à moda antiga, daqueles de bigode que sempre que o trânsito pára saem do carro e ficam a conversar com o homem do carro ao lado a perguntar o que terá acontecido.

O português moderno não faz isso. O português moderno fecha-se no carro com o aquecimento/ar condicionado ligado, aborrecido e irritado, normalmente com a mão no volante não para conduzir mas para buzinar.

E eu aqui a cantar no carro, com uma alegria estranha que parece surpreender os carros vizinhos, a julgar pelos olhos colados aos espelhos retrovisores.



A Música
Toda a gente é fã do Jon Brion, mas ninguém sabe quem ele é. Aqui vai uma pequena introdução, foi ele que fez algumas das melhores bandas sonoras de sempre, como por exemplo: Hard Eight, Magnólia, Punch-Drunk Love, Eternal Sunshine Of The Spotless Mind e também do I Heart Huckabees, de onde foi extraída esta música. Adicionalmente também produziu alguns álbuns da Aimee Mann, Rufus Wainwright e da Fiona Apple.


It’s something unattainable
That you can’t live without
And now the unexplainable
Has you riddled with doubt

Things begin Things decay
And you’ve gotta find a way
To be ok
But it you want to spend the day
Wond’ring what it’s all about
Go and knock yourself out

Why we were put in this mess
Is anybody’s guess
It might be a test or it might not be anything
You need to worry about
But if you’re still in doubt
Go and knock yourself out

 

 
     

20 fevereiro, 2007

Jogar às escondidas com o tempo

Eu sempre fui muito esquecido. E quando digo muito esquecido refiro-me a ter dificuldade em decorar coisas básicas como: a tabuada, onde deixei o carro, onde deixei as chaves, qual o caminho para regressar, o que é que comi hoje ao almoço, esse tipo de coisas. Mas há coisas que não consigo esquecer, coisas pequenas como olhares, sorrisos, locais, segredos que não era suposto serem revelados, esses momentos guardo-os todos como se tivesse memória de elefante (ou então é o meu cérebro que descarta o que não é essencial para a minha sobrevivência).



A Música
Tenho dedicado estes últimos dias a degustar o álbum Woke Myself Up da canadiana Julie Doiron. Não sei se será apenas a beleza da música dela ou as lembranças de alguém especial que de vez em quando vêm ao de cima. Seja como for não quero nem parar de ouvir nem parar de lembra…


Me and my friend, we are not friendly anymore
We have not talked for so long
And if we had to talk, what could we say, sitting side by side
So long ago, we were dancing and singing
We could be together saying nothing
So long ago, it all meant much more than this
The pond, it seems so quiet tonight
And the swans are all huddled together
Well I sound alone here on my way home, again when no one is there waiting
So long ago we were dancing and singing
And it all meant something
So long ago, mean and my friend we were friendly
And now we don’t see each other no more.

 

 
     

18 fevereiro, 2007

Se eu quisesse uma remistura teria pedido, não achas?, Parte I

Agora que tenho que me levantar todos os dias às 9 da manhã (meu Deus, estará o mundo perto do fim?) tenho optado por uma banda sonora um pouco mais energética nas longas viagens de um autocarro recheado de senhoras de idade impacientes para chegar ao posto médico local e de um pequeno grupo de estudantes que se aconchegam aos bancos do autocarro como se fosse a cama da qual acabaram de sair.

Porque as manhãs não têm que ser aborrecidas, uma compilação com algumas das melhores remisturas que se têm feito por aí!



A Música
Os LCD Soundsystem ficaram conhecidos com o fabuloso single (e vídeo) Daft Punk Is Playing At My House e aqui mostram porque são realmente um dos nomes maiores da electrónica actual remisturando os Le Tigre de uma forma original: Abrandando-os… Agora imaginem o original (não, não precisam, a segunda música é a versão original :) ).





Who took the bomb?

Every day and night
Every day and night
I can see your disco disco dick is sucking my heart out of my mind
I'm outta time
I'm outta fuckin time
I'm a gasoline girl with a vaseline mind, but
Wanna disco?
Wanna see me disco?
Let me hear you depoliticise my rhyme.
One! Two! Three! Four!
You got what you been asking for.
You're so policy free and you're fantasy wheels and everything you think
and everything you feel is alright, alright, alright, alright, alright.

I take you home, now watch me get you hot
You're just a parrot and you're screaming and you're shouting
More crackers please, more crackers please
You want what you want but you don't wanna be on your knees
Who does your... who does your hair?

Who took the bomb from the bombpalompalomp?
Who took the ram from the ramalamadingdong?
Who took the bomb from the bombpalompalomp?
Who took the ram from the ramalamadingdong?

How are you?
Fine, thank you.
How are you?
Fine, thank you.

You bought a new van the first year of your band.
You're cool and I hardly wanna say "not" because I'm so bored
That I'll be entertained even by a stupid, fucking linoleum floor, linoleum floor
Your lyrics are dumb like a linoleum floor
I'll walk on it
I'll walk all over you
Walk on it, walk on it, walk on, One, Two!

Who? Who? Who? Who?

Who took the bomb from the bombpalompalomp?
Who took the ram from the ramalamadingdong?
Who took the bomb from the bombpalompalomp?
Who took the ram from the ramalamadingdong?

See you later
See you later
See you later
See you later




 

 
     

11 fevereiro, 2007

E daquela vez em que o crocodilo caiu a um poço?

De vez em quando ponho-me a pensar em todos os pormenores que me passam ao lado por ter sempre a cabeça longe do meu corpo num sítio qualquer onde ainda ninguém ousou chegar. Nunca fui daquelas crianças que diziam que queriam ser astronautas (apesar de ter sempre a cabeça na lua), a terra sempre me fascinou muito mais que o universo infinito porque, mesmo sendo finita, nunca lhe vi o fim...

A todas as pessoas que ainda não se cansaram de explorar a terra, seja na África profunda ou nas suas próprias vidas porque, apesar de sermos frágeis demais, não nos podemos fechar em jaulas, por mais confortáveis que elas sejam. (Mas não liguem ao que digo, as palavras para mim estão tão distantes como a estrela mais próxima da terra, sou apenas um curandeiro de aldeia que não consegue curar ninguém, um mágico sem magia, um cão que nem ladra nem morde)



A Música
A Ingrid Michaelson é uma singer/songwriter de Nova Iorque que me embala com aquela voz mágica de anjo que não sabe que o é. Podem encontrá-la no álbum Girls And Boys.


Have you ever thought about what protects our hearts?
Just a cage of rib bones and other various parts.
So it's fairly simple to cut right through the mess.
And to stop the muscle that makes us confess.

We are so fragile,
And our cracking bones make noise,
And we are just,
Breakable, breakable, breakable, girls and boys.

You fasten my seatbelt because it is the law.
In your two ton death trap I finally saw.
A piece of love in your face that bathed me in regret.
Then you drove me to places I'll never forget.

And we are so fragile,
And our cracking bones make noise,
And we are just,
Breakable, breakable, breakable girls and boys.

And we are so fragile,
And our our craking bones make noise,
And we are just,
Breakable, breakable, breakable girls,
Breakable, breakable, breakable girls,
Breakable, breakable, breakable girls and boys.

 

 
     

09 fevereiro, 2007

O Ser Português

Esta coisa de ser português e de se viver neste cantinho de terra junto ao mar tem que se lhe diga. Primeiro porque, por sermos poucos, partilhamos demasiadas características uns com os outros, depois porque são essas características que nos definem e que nos influenciam até nas coisas mais pequenas e insignificantes do dia-a-dia.

Porque me orgulho de ser português, seis músicas do melhor que se tem feito nos últimos anos por terras de D. Afonso Henriques na minha muy humilde opinião, juntamente com seis fotografias de uma das minhas fotógrafas favoritas, Cristina Ferreira.


O Ser Português, Parte I: A Necessidade de Partir
Não sei de onde nasce esta nossa necessidade de fugirmos de tudo, de dar uma volta e visitar o mundo entretanto. Talvez sejam ainda restos da ousadia que foram descobrimentos.



A música é uma favorita pessoal, feita a partir de um poema de um dos maiores poetas de sempre (em todo o mundo, não só em Portugal), Fernando Pessoa aqui como Álvaro de Campos, interpretado pela Margarida Pinto.


Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranqüilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a véspera de não partir nunca!


O Ser Português, Parte II: A Saudade
Como é certo e sabido não existe nenhuma outra palavra em qualquer outra língua de qualquer parte do mundo equivalente à nossa saudade. Será porque as outras pessoas nunca a sentiram ou porque nós somos viciados nela?



Davide Balula é um artista plástico português radicado em Paris que em 2006 lançou o fabuloso Pellicule cheio de músicas experimentais, algumas das quais cantadas em português, como é o caso desta Íris em Arco.




O Ser Português, Parte III: A Ausência Do Tempo
Porque fazemos tudo à última da hora e porque o tempo (excluindo o passado) não nos mata a cabeça.



Os Coldfinger são uma dupla portuguesa de trip-hop composta pela inevitável Margarida Pinto e pelo Miguel Cardona. Podem encontrar esta Para Um Poema no álbum Lefthand de 2000.


Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã
Levarei a manhã a
pensar
Em depois de amanhã
E assim será possível,
Mas hoje não, hoje nada, hoje não posso...

A
persistência confusa
Da minha subjectividade objectiva,
Sono da minha vida real,
Intercalado, o cansaço
antecipado e infinito...

Tenho já o plano traçado,
mas não,
Hoje não traço planos
Amanhã é o dia dos
planos,
Amanhã sentar-me-ei p'ra conquistar o
mundo,
Depois de amanhã

Amanhã te direi as
palavras, ou depois de amanhã
Sim, depois de amanhã

Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã
Sim, depois de amanhã

Depois de amanhã, sim, só
depois de amanhã
Levarei a manhã a pensar
Em depois
de amanhã
E assim será possível,
Mas hoje não, hoje
nada, hoje não posso...
Mas hoje não, hoje nada, hoje não
posso...
Mas hoje não, hoje nada, hoje não posso...
Mas hoje não, hoje nada, hoje não posso...
Não
posso...


O Ser Português, Parte IV: A Metaforização do Pensamento
Dizer o que se pensa e o que se quer não tem tanta piada como escondê-lo em metáforas abstractas e namorar as palavras num acto de sedução não intencional.



Balla é um dos projectos de Armando Teixeira (o outro é Bulllet), o músico multifacetado que nos envolve em várias atmosferas distintas com toques de Electrónica e até, nesta música, dois ou três toques de Jazz.


Procuras a mudança
Passas à terceira
Travas suavemente
Aceleras de repente

Os cabelos do motor
Estão sempre ao teu dispor
É um silêncio que seja potência
Sem te desviares da trajectória

Quero ser, quero ser
O teu Volkswagen

Desperta os Instintos
Reage aos movimentos
E responde com sucesso
Às ordens do teu braço

Escolhes a velocidade
E o grau de suavidade
Sem excesso de rotação
Com brandura na aceleração

Quero ser, quero ser
O teu Volkswagen

Direcção assistida
Conforto na auto-estrada
Segurança garantida
Quilometragem ilimitada

Quero ser, quero ser
O teu Volkswagen



O Ser Português, Parte V: A Forma Subtil de Amar
Os americanos abusam do I Love You, os franceses romanceiam o Je T'aime em demasia, os italianos cantam o Ti Amo a toda a hora até que a frase deixe de ter significado por se ter tornado tão vulgar. Nós usamos o Amo-te em ocasiões especiais, aliás, quando um português diz amo-te é porque realmente é isso que sente, mas não o dizemos com toda a força do nosso ser para que todo o mundo saiba, dizemos apenas ao ouvido da pessoa amada.



Cristina Branco prova que há Fado para além do tradicional e da Mariza com a sua voz doce, por vezes propositadamente frágil e os arranjos também eles com algumas pitadas de Jazz. Aqui canta um poema de Chico Buarque que já tinha sido cantado por Maria Bethânia mas sem a subtileza e a beleza arrepiante da voz da Cristina Branco.


O meu amor tem um jeito manso que é só seu
E que me deixa louca quando me beija a boca
A minha pele toda fica arrepiada
E me beija com calma e fundo
Até minh'alma se sentir beijada

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
Que rouba os meus sentidos, viola os meus ouvidos
Com tantos segredos lindos e indecentes
Depois brinca comigo, ri do meu umbigo
E me crava os dentes

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me deixar maluca quando me roça a nuca
E quase me machuca com a barba mal feita
E de pousar as coxas entre as minhas coxas
Quando ele se deita

O meu amor tem um jeito manso que é só seu
De me fazer rodeios, de me beijar os seios
Me beijar o ventre e me deixar em brasa
Desfruta do meu corpo como se o meu corpo
Fosse a sua casa

Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz
Meu corpo é testemunha do bem que ele me faz



O Ser Português, Parte VI: A alma salgada de mar
Sabem aquele sentimento quando saímos da praia já depois do pôr-do-sol e nos parece que temos sal agarrado ao corpo, depois de seca a água do mar? Acho que a nossa alma tem também ela sal agarrado...



O álbum Sede do Jorge Cruz foi para mim uma das grandes surpresas de 2004. Confesso que não esperava nada tão bom e com tanta qualidade deste ilustre desconhecido. É fundamental descobrir para quem não conhece!


Olha se eu ficar
Em ti para sempre
Suave, suave
Suave, suave

Menina que a noite
Torna ausente
Foge pró mar
Até passar

Sou a tua vez

E olha se eu for só
Um passatempo
Suave, suave
Suave, suave

Menina que a lua
Torna presente
Corre pró mar
Vem-me buscar

És a minha vez

E olha se houve um mar
No nosso templo
Suave, suave
Suave, suave
 

 
     

02 fevereiro, 2007

Manda-me postais de Itália

Sem querer entrar em alarmismos Dantescos, o facto é que o mar vai engolindo cada vez mais os pedaços de terra a que chamamos casa, qual criança mal educada que come a sobremesa antes do jantar. É só triste pensar que um dia algumas pessoas nunca vão chegar a saber o que é o Porto, Lisboa, Veneza, Amesterdão, Nova Iorque tal como elas são hoje. Sinais dos tempos? Também nunca chegámos a saber como era a Atlântida...

Quanto a nós, ainda podemos aproveitar todas estas cidades enquanto elas existem, mesmo que elas continuem a existir mas num futuro de muros de betão que tapam a vista para o mar numa tentativa inútil de o travar. (E eu aqui muito bem sentadinho nesta cadeira velha, torta e com apenas um braço a ver o mar a deliciar-se com a sobremesa antes do jantar. Acho que vou também comer um bocado de sobremesa antes do jantar com este som magnífico em loop nos ouvidos!)




A música
Não houve lista digna desse nome que não tivesse incluído este Gulag Orkestrar como um dos melhores discos de 2006. Zach Condon, um Americano de Santa Fé (Novo México) é Beirut, uma one-man band que mistura música do leste da europa com a folk europeia. É uma grande mistura multicultural, bem ao estilo do mundo em que vivemos.



The times we had
Oh, when the wind would blow with rain and snow
Were not all bad
We put our feet just where they had, had to go
Never to go

The shattered soul
Following close but nearly twice as slow
In my good times
There were always golden rocks to throw
at those who admit defeat too late
Those were our times, those were our times

And I will love to see that day
That day is mine
When she will marry me outside with the willow trees
And play the songs we made
They made me so
And I would love to see that day
Her day was mine
 

 

 

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