31 março, 2007

Coisas banais (que guardo cuidadosamente numa caixa desorganizada)

Existe uma caixa qualquer que guardo algures num sítio que agora me foge à memória onde guardo algumas coisas que a maioria das pessoas chamaria de “lixo”. Aliás, desconfio mesmo que, se alguém conseguisse encontrar essa caixa que guardo algures, a deitaria fora sem pensar duas vezes. De vez em quando encontro a caixa (ou ela é que me encontra a mim) e ficamos a conversar durante horas enquanto eu vasculho o seu interior repleto de pequenos papéis rasurados com palavras cheias de significado, CDs estranhos com músicas antigas, fotografias gastas pelo tempo, balões velhos ainda com ar, artefactos de madeira/metal/plástico e uma sempre intrigante pequena caixa de madeira que guardo dentro da caixa maior com as coisas banais.

Não é preciso ser um génio para ver coisas de valor onde as outras pessoas vêm coisas banais. Não é preciso ter uma visão artística para ver beleza nas coisas mundanas. Não é preciso estar perto da morte para afinal repararmos como o mundo é complexo e como vamos sentir falta de tudo, até daquele senhor mudo que todos os dias parece pedir esmola com um cartaz que nunca ninguém lê e que diz: “Não estou a pedir dinheiro, mas amigos”. Basta apenas abrir os olhos para ver essas coisas todas, apenas isso. Mas por favor, não me chamem tolo por tentar guardar tudo isso numa caixa desenformada que guardo algures num lugar que agora me escapa…



A Música
Não existe pessoa mais banal que a Laura Veirs, a menina com aspecto geek com voz de menina com aspecto geek e uma forma especial de contar histórias, típica de quem anda na rua de olhos esbugalhados a devorar todos os pormenores, como se nota nesta Secret Someones, um verdadeiro hino às coisas banais (lê a letra, mas não te limites a ler, abre os olhos, vê para além das cores faiscastes e das coisas fascinantes em movimentos monótonos. Se olhares bem, és capaz de me ver cá em baixo a cumprimentar o senhor mudo que não está a pedir dinheiro).


I’m climbing up the stairs
I’m circling the waves
The broken ceiling paint
The broken windowpane
O a smile would melt
Me to an asphalt strip
Where all would travel
Where all would tread and trip

Where all the rolling rollers roll
And all the secret someones go
And all the roving rovers ramble
Down my back, down my track…

The horizon disappears
Like a windswept trail
Gone from wind and rain
Blurred like a charcoal stain
Smearing your face
Your shins are skinned again
You can soak up my heat
Sweat your beaded jewels to the street

Where all the rolling rollers roll
And all the secret someones go
And all the roving rovers ramble
Down my back, down my track…

(Hey hey hey hey)

Tell me, did you make it to the show?
Tell me, what did you make of the drummer’s hair?
Tell me, about the atmosphere
Tell me, about the faces that greeted you there

Where all the rolling rollers roll
And all the secret someones go
And all the roving rovers ramble
Down my back, down my track…
 

 
     

21 março, 2007

Especial Primavera: Recorte o cupão e habilite-se a ganhar uma viagem ao infinito

É oficial, a primavera chegou! Preparem essas narinas, essas pupilas, esses músculos, esses tímpanos e essas gargantas. Vá, tudo para a rua, não há nada para ver aqui...

Máquinas fotográficas numa mão, alguém especial noutra, rolos e cartões de memória para a mochila, auscultadores para os ouvidos, os relógios ficam em casa, os telemóveis ficam sem som, os óculos de sol no porta-luvas e as únicas emissões de CO2 permitidas serão as necessárias para dizer coisas parvas ao ouvido!


As Músicas
Os Someone Still Loves You Boris Yeltsin são uma banda indie de Springfield (mas que apropriado), certamente candidatos para o nome mais original dado a uma banda, juntamente com os Godspeed You! Black Emperor (derivado do filme japonês Goddo Supiido Yuu! Burakku Emparaa), os And You Will Know Us By The Trail Of Death, os Death From Above 1979, ou Oh, Alice! You Should’ve Told Me That Before I Fell In Love With You.




We did what we could
To save this house from falling
But it burns because it's wood
And now you’ll never call me darling

I coughed your name
I smoked all day
And I slept myself sleepy
I was sleeping it away

Don't let it burn
Don't get confused
Don't let it get to you

We did what we could
To save this car from crashing
Your pretty face is soaked in blood
You know, I still find you dashing

Airbag suffocates
You need a little space
The rain on the windshield
I watched you limp away

Doesn't it have to hurt?
Don't get confused
Don't let it bother you
Don't try to call
You'll lose it all
You get used to her bad news,

It's just bad news



Antes de mais, devo dizer que adoro o trocadilho do nome, por ser quase parecido com Sun Kill Moon, ou Sun! Kill the Moon! Trocadilhos à parte, os Sun Kil Moon são a nova banda do Mark Kozelek depois dos Red House Painters e este álbum Tiny Cities tem a particularidade de ser composto apenas por versões de músicas dos Modest Mouse, uma banda que tem um som muito mais "pesado" e complexo. Acho genial a forma como ele conseguiu despir as músicas ao máximo. De referir também o nome da editora formada por ele, a Caldo Verde Records! Não é adorável? É o nosso Caldo Verde!




You're in the back seat and you say to yourself
"OK it doesn't matter anyway"
It's weeds pulling weeds and your Blaming yourself
Ok we're all indifferent in our own ways
You're in trouble now and you say to yourself
"Ok my baby clean conscience anyways"
You're in the back seat and you say to yourself
"OK it doesn't matter anyway"
It's weeds pulling weeds and you're blaming yourself
Ok we're all indifferent in are own ways
You're in trouble now and you say to yourself
"Ok my baby clean conscience anyways"
Four fingered fisher man alright
finger four fisher man so uptight
Hello
You're getting on no one
You're both right
Four fingered Fisher man all night long
Four fingered Fisher man so uptight though
So uptight though



E agora uma banda de Boston também com um nome original: Pants Yell!, uma banda com fortes influências dos The Smiths. Aliás, referência essa também reflectida no título do álbum: '83 in '05. É ao som de músicas como estas que se fazem danças parvas... Mas que raio! E lá estou eu a fazer danças parvas com a cabeça e com os dedos e as mãos… Pára! Não quero!




Sometimes I
Turn in early
And sometimes I
Stay out with my friends
It all depends
In the mood I am in
And it all depends on you

Walking in these streets
It's the winter you were bored
You wrote your name in blue
Outisde your neighbor's door
So what's the story
What's new
What the fuck are you gonna do
When those kids come
Through with their threats



Já aqui tinha metido uma música dos Broken Social Scene, desta vez para o álbum Broken Social Scene (estes não vão receber o prémio de originalidade para o melhor título de um álbum). Não sei se já referi isto, mas adoro o som deles e especialmente nesta música a voz bastante sensual da Feist (nota para mim próprio: meter uma música dela aqui... ah! E pagar aquela conta que já passou do prazo há muito antes que nos cortem a electricidade)





I was
Waiting for you
I was
Standing around
I was
Getting older
I was
Going down

If you always get up late
You'll never be on time
If you always make it after lunch
ba ba dada

I've done work
Oh, the day never comes
And I stand up
Waiting on

I saw you down there
I know you were tired
I saw you
You looked like a swimmer

I wanna be with you
All of the time
Why can't you satisfy?

You look good
But you sound better
You were the best I had

If you always get up late
You're never gonna be on time
If you always get up late
You're never gonna be on time

And that's a shame
Cause I like you
I never see you.
 

 
     

18 março, 2007

Se eu quisesse uma remistura teria pedido, não achas?, Parte II

Todas as manhãs é assim: Eu tento passar a rua que não tem passadeiras e vejo o autocarro já perto da paragem. Começo a correr, o motorista prepara-se para fechar a porta para seguir para a próxima paragem mas vê uma criatura estranha a bater nos lados do autocarro, como quem diz: "espera por mim, senão... senão... apanho o próximo autocarro! Ah, Hãh! E não ias gostar disso, pois não?".

Já lá dentro um grupo de senhoras de cabelos brancos e sacas de um qualquer supermercado da zona, enquanto refasteladas nos seus bancos, olham-me com indignação enquanto tento encontrar o passe que nunca está onde o deixei (sim, ele não gosta do bolso da frente, esconde-se sempre lá atrás).

Se acordasse cinco minutos mais cedo, seria tudo muito mais calmo, mas para quê?



A Música
Continuando a farsa do “acordar cedo não é assim tão mau”, aqui vai uma música e remistura de uma das minhas bandas favoritas, a dupla Death From Above 1979 (Inicialmente apenas Death From Above) e uma remistura feita pelos MSTRKRFT (master craft) o novo projecto de um dos elementos da banda que entretanto já não existe. Como presente de despedida eles decidiram editar o álbum de remisturas Romance, Bloody Romance! com resultados bastante sexys (ãh!? Gostaram? Um trocadilho com o título da música: Sexy Results… Ouçam lá a remistura e, como habitual, a versão original no final).


Sexy girl meet me in the bathroom
Sexy girl call me on the phone
Women friend take me to your bedroom
Let me show how I'm full grown

Sexy women call me to your office
Sexy women meet me after work
I wanna show you how I handle business
I wanna show you how the mail-boy flirts

My man wants to buy you something
He wants to take you out for dinner and dancing
My friend wants to take you out then home
Then home alone



 

 
     

06 março, 2007

Os dias de chuva são sempre bons para recordar outros dias de chuva

Era uma velhota que adorava ler livros. Dizia-me, sentada no comboio, perto da janela, que chegava a ler um livro por dia em certos dias. Eu fiquei fascinado. “Quem me dera ter tempo para ler tantos livros!” – Disse com um sorriso parvo de quem está prestes a levar uma estalada na cara. “Ai, filho! Não digas isso…” – falou ela, visivelmente abalada com as minhas palavras tontas – “Foram os tempos mais tristes da minha vida!”

Fiquei intrigado. Olhei para o chão, olhei para a janela, vi o bebé mulato a aconchegar-se ao colo da mãe e a filha mais velha a usar o braço dela como se fosse um cachecol. A mulher nunca me disse porque é que aqueles foram os tempos mais tristes da vida dela. Também não lhe perguntei. Deduzi.

Quando saímos na estação ela foi ter com um senhor que aparentava ter a sua idade. Ele estava a ler o jornal com indiferença, mas quando a viu, aí todo ele estremeceu e só não a olhou nos olhos porque tinha medo que o seu coração não conseguisse aguentar a emoção para a qual não estava treinado.

Ela beijou-o. Na cara, claro, como qualquer mulher respeitada. Ele respondeu com um beijo na sua bochecha esquerda por esta altura rosada. Ela entregou-lhe um dos dois livros que trazia na mão, o que estava mesmo por cima, onde tinha conseguido ler momentos antes: “Cem Anos de Solidão”. Ele ofereceu-lhe uma flor seca que tem o nome dela.

( A senhora era famosa e respeitada em toda a cidade. A sua biblioteca privada era conhecida como sendo uma das maiores de toda a região. Tinha conseguido atingir todos os objectivos da sua vida, menos um: o amor. Dizem que era a solteira mais apetecida de todos os homens da altura em que era nova. Todos suspiravam por ela, mas ela não suspirava por nenhum. Esperou a vida toda pelo amor verdadeiro e agora, aos setenta anos, quando toda a gente dizia que era mais uma velha condenada à solidão, encontrou-o finalmente. Conheci-a por acaso quando tinha o carro avariado e tive que me deslocar de comboio. São fabulosas as coisas que acontecem por acaso. )



A Música
O álbum Love Is Hell do Ryan Adams está dividido em duas partes porque a sua editora achava que o álbum era triste demais para poder ser vendido todo de uma vez. Provavelmente será verdade, mas não o torna menos fabuloso por isso. Para efeitos de compreensão, o álbum foi escrito quando a sua ex-namorada morreu.


God, please bring the rain
Yeah, and bring it soon
Let it flood right through the houses
Into Judy's room

With a father on amphetamines
Her mother hides the pearls
Reach out into the darkness
And find my little girl

'Cause she's angry like a salesman
That couldn't make a sale
Threw her wedding ring in the sewer
And damned them all to hell

Please lead her to the mountain
That you fashioned out of sand
While the roaches climb the walls
From the hotel where he calls

Most people never find a love
Most people never find a love
Sometimes you just can be a man
Sometimes you just can be a man
When your living in the darkness
Of the shadowlands
The shadowlands
The shadowlands

 

 

 

Arquivo
setembro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
novembro 2008
dezembro 2008