Os dias de chuva são sempre bons para recordar outros dias de chuva
Era uma velhota que adorava ler livros. Dizia-me, sentada no comboio, perto da janela, que chegava a ler um livro por dia em certos dias. Eu fiquei fascinado. “Quem me dera ter tempo para ler tantos livros!” – Disse com um sorriso parvo de quem está prestes a levar uma estalada na cara. “Ai, filho! Não digas isso…” – falou ela, visivelmente abalada com as minhas palavras tontas – “Foram os tempos mais tristes da minha vida!”
Fiquei intrigado. Olhei para o chão, olhei para a janela, vi o bebé mulato a aconchegar-se ao colo da mãe e a filha mais velha a usar o braço dela como se fosse um cachecol. A mulher nunca me disse porque é que aqueles foram os tempos mais tristes da vida dela. Também não lhe perguntei. Deduzi.
Quando saímos na estação ela foi ter com um senhor que aparentava ter a sua idade. Ele estava a ler o jornal com indiferença, mas quando a viu, aí todo ele estremeceu e só não a olhou nos olhos porque tinha medo que o seu coração não conseguisse aguentar a emoção para a qual não estava treinado.
Ela beijou-o. Na cara, claro, como qualquer mulher respeitada. Ele respondeu com um beijo na sua bochecha esquerda por esta altura rosada. Ela entregou-lhe um dos dois livros que trazia na mão, o que estava mesmo por cima, onde tinha conseguido ler momentos antes: “Cem Anos de Solidão”. Ele ofereceu-lhe uma flor seca que tem o nome dela.
( A senhora era famosa e respeitada em toda a cidade. A sua biblioteca privada era conhecida como sendo uma das maiores de toda a região. Tinha conseguido atingir todos os objectivos da sua vida, menos um: o amor. Dizem que era a solteira mais apetecida de todos os homens da altura em que era nova. Todos suspiravam por ela, mas ela não suspirava por nenhum. Esperou a vida toda pelo amor verdadeiro e agora, aos setenta anos, quando toda a gente dizia que era mais uma velha condenada à solidão, encontrou-o finalmente. Conheci-a por acaso quando tinha o carro avariado e tive que me deslocar de comboio. São fabulosas as coisas que acontecem por acaso. )
A Música
O álbum Love Is Hell do Ryan Adams está dividido em duas partes porque a sua editora achava que o álbum era triste demais para poder ser vendido todo de uma vez. Provavelmente será verdade, mas não o torna menos fabuloso por isso. Para efeitos de compreensão, o álbum foi escrito quando a sua ex-namorada morreu.
God, please bring the rain
Yeah, and bring it soon
Let it flood right through the houses
Into Judy's room
With a father on amphetamines
Her mother hides the pearls
Reach out into the darkness
And find my little girl
'Cause she's angry like a salesman
That couldn't make a sale
Threw her wedding ring in the sewer
And damned them all to hell
Please lead her to the mountain
That you fashioned out of sand
While the roaches climb the walls
From the hotel where he calls
Most people never find a love
Most people never find a love
Sometimes you just can be a man
Sometimes you just can be a man
When your living in the darkness
Of the shadowlands
The shadowlands
The shadowlands
Fiquei intrigado. Olhei para o chão, olhei para a janela, vi o bebé mulato a aconchegar-se ao colo da mãe e a filha mais velha a usar o braço dela como se fosse um cachecol. A mulher nunca me disse porque é que aqueles foram os tempos mais tristes da vida dela. Também não lhe perguntei. Deduzi.
Quando saímos na estação ela foi ter com um senhor que aparentava ter a sua idade. Ele estava a ler o jornal com indiferença, mas quando a viu, aí todo ele estremeceu e só não a olhou nos olhos porque tinha medo que o seu coração não conseguisse aguentar a emoção para a qual não estava treinado.
Ela beijou-o. Na cara, claro, como qualquer mulher respeitada. Ele respondeu com um beijo na sua bochecha esquerda por esta altura rosada. Ela entregou-lhe um dos dois livros que trazia na mão, o que estava mesmo por cima, onde tinha conseguido ler momentos antes: “Cem Anos de Solidão”. Ele ofereceu-lhe uma flor seca que tem o nome dela.
( A senhora era famosa e respeitada em toda a cidade. A sua biblioteca privada era conhecida como sendo uma das maiores de toda a região. Tinha conseguido atingir todos os objectivos da sua vida, menos um: o amor. Dizem que era a solteira mais apetecida de todos os homens da altura em que era nova. Todos suspiravam por ela, mas ela não suspirava por nenhum. Esperou a vida toda pelo amor verdadeiro e agora, aos setenta anos, quando toda a gente dizia que era mais uma velha condenada à solidão, encontrou-o finalmente. Conheci-a por acaso quando tinha o carro avariado e tive que me deslocar de comboio. São fabulosas as coisas que acontecem por acaso. )
A Música
O álbum Love Is Hell do Ryan Adams está dividido em duas partes porque a sua editora achava que o álbum era triste demais para poder ser vendido todo de uma vez. Provavelmente será verdade, mas não o torna menos fabuloso por isso. Para efeitos de compreensão, o álbum foi escrito quando a sua ex-namorada morreu.
God, please bring the rain
Yeah, and bring it soon
Let it flood right through the houses
Into Judy's room
With a father on amphetamines
Her mother hides the pearls
Reach out into the darkness
And find my little girl
'Cause she's angry like a salesman
That couldn't make a sale
Threw her wedding ring in the sewer
And damned them all to hell
Please lead her to the mountain
That you fashioned out of sand
While the roaches climb the walls
From the hotel where he calls
Most people never find a love
Most people never find a love
Sometimes you just can be a man
Sometimes you just can be a man
When your living in the darkness
Of the shadowlands
The shadowlands
The shadowlands
2 COMENTÁRIOS:
Já te tinha ouvido falar dessa senhora mas acho q não tinha prestado atenção pois agora também eu estou fascinada com ela. Mais um belo post como sempre, a muscia é excelente, a história fantástica e a fotografia linda!!!
Ahhh! É a dona Belinha, nao é?
Ai, ai, uma conversa entre vocês os dois deve ser uma coisa do outro mundo..
A música é triste de mais..
bjinhos!!
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