25 março, 2008

Danceteria RockEmRól (1988)

Apertou o cordão da sua bota esquerda e pousou os dez quilos de borracha no chão, sem, no entanto, abalar um milímetro do seu penteado moldado a laca roubada às escondidas à sua mãe. Vestiu o casaco de cabedal preto com abas que desafiavam a altura do seu pescoço e, com o Walkmen já devidamente encaixado num dos bolsos, encaixou os auscultadores gigantes na cabeça.

Consultou o seu Cassio preto com riscas vermelhas, “10:33PM”. Alguém buzina da rua e ele afasta as cortinas brancas rendadas para ver a velha cátrel (Renault 4L) branca com mais pessoas dentro do que era suposto transportar e pronta a carregar mais um peso morto de cabedal e borracha.

Isolado na pequena multidão do carro, no colo de uma rapariga vestida de ganga da cabeça aos pés, ele, indiferente àquilo tudo, abanava ligeiramente a cabeça ao ritmo das baterias ritmadas que pareciam ecoar e dos cada vez mais populares sintetizadores que haveriam de moldar o som daquela época.

Nas ruas, passando a passo por eles a velocidade de passo, caminhavam várias grupos de indivíduos exactamente iguais, os que abusavam da ganga, os que abusavam do cabedal e, mais raramente, os que abusavam das cores quentes. Quase comum a todos eram os cigarros em abundância, até nas orelhas chegavam a estar pousados, e os calçados exuberantes que aumentavam em alguns centímetros a altura média daquela geração.

A cátrel pára mesmo em frente à danceteria RockEmRól para deixar sair parte da multidão, incluindo ele, que se dirige imediatamente à entrada, ignorando a longa fila de jovens com pinturas estranhas que gritavam insultos ao vê-lo entrar depois de cumprimentar o porteiro com um moderníssimo cumprimento de mão encurvado.

Já lá dentro, e sob o som ensurdecedor de música africana vinda dos bairros de Nova York e retocada em Manchester, passa por um sujeito como qualquer outro e simula um cumprimento, trocando uma nota de mil paus por um pequeno saco que continha o que aparentava ser um godo estreito, daqueles que se encontram na praia. Enrolou um cigarro com aquela inóspita substância para segurar na orelha, fumando já um para compensar o trabalho.

As mulheres olhavam-no ao passar e ele olhava-lhes as pernas enfeitadas por meias rosa-choque vestidas por cima das calças. Uma delas vem ao encontro dele, com o seu cabelo vermelho-forte acabadinho de pintar em casa com a loucura do momento que são as tintas de supermercado. Arrasta-o para dançar e começam as suas manobras ao estilo anúncio-da-TV-Shop-para-um-vídeo-VHS-de-aeróbica-e-ginástica-em-casa com os braços dobrados levantados à altura da cabeça e abertos ao máximo.

À medida que os escudos iam desaparecendo dos bolsos, o suor ia transpirando as roupas quentes e o sol ia nascendo lá fora, a pista de dança ia-se esvaziando e o fumo ia-se dissipando, dando agora para distinguir as caras das pessoas.

"É feia!", pensou, "Vou-me embora."

O regresso à terra era marcado pela habituação dos olhos à luz e dos ouvidos à falta de som. Com os olhos meios fechados e um zumbido permanente nos ouvidos, ia caminhando o caminho que havia percorrido inicialmente de carro, mas agora a pé e sem sentir os pés.

Deita-se finalmente exausto na sua cama para não conseguir adormecer logo. Tenta fechar mais uma vez a persiana, só para reparar mais uma vez que não fecha mais. Os vizinhos começam a acordar, a ligar os chuveiros e a arrastar cadeiras. Não deve faltar muito até o seu próprio despertador tocar.



As Músicas
Mais uma banda canadiana com estilo (e eu continuo perplexo como é que raio é que um país tão neutro e aborrecido como o Canadá consegue ter algumas das melhores bandas do mundo, seria como se a Bélgica tivesse alguns dos melhores chocolates do mundo, ou como se a Suíça tivesse alguns dos melhores queijos do mundo... hum...). Os Crystal Castles já eram minimamente conhecidos dentro do meio indie/electrónica à conta de algumas remisturas bem sucedidas, mas este primeiro álbum está a ser recebido com euforia tanto por críticos como pelas pessoas em geral. Vá, ouçam-nos enquanto estão quentinhos, antes que as danceterias os passem à exaustão e à memória do saudoso verão de 2008. A electrónica voltou a ser sexy!






Os Hercules and Love Affair são uma banda de Nova York liderados pelo DJ Andy Butler que já andam a fazer mexer meio mundo com o seu single Blind. Mas como os ritmos desta Athene são bem ao estilo dos anos 80, levam antes com ela!






E de onde é que são os No Kids? Um chocolatinho ou um queijinho para quem acertar. Sim! São do Canadá também. Depois da experiência inicial como P:ano e especialmente após a partida de um dos membros desta banda com muito pouco material editado, os restantes elementos decidiram formar uma nova banda com tantos estilos musicais diferentes, que é difícil atribuir um rótulo à banda. Apenas de referir que nenhuma das músicas tem a ver com a outra, mas que é perfeito para relaxar quando, digamos, estão a regressar a casa, a pé, depois de terem estado horas com a vossa gaja num sítio mal frequentado e mal iluminado (cóf cóf).


 

 
     

19 março, 2008

La Doute

Os vidros estavam enevoados por causa da chuva que ainda teimava cair, mas mal se notavam no cenário cinzento de filme a preto e branco. No cinzeiro, um cigarro pousado ia enchendo partes do ambiente com fios de fumo dificilmente imitáveis com as modernas máquinas de fumo.

Na parede, um poster de um filme presumivelmente francês, com a torre Eiffel em fundo, proclamava em letras itálicas: "à cause de ton silence". Num velho rádio com duas grandes rodas para seleccionar a frequência e o volume, Edith Piaff choramingava qualquer coisa que o acordeão transformava em algo romântico. Ao lado de tudo isto, pálidos e serenos, estavam centenas de livros devidamente organizados alfabeticamente numa parede forrada de estantes. No chão, caído sobre o tapete redondo de aspecto fofo, estava um livro que se auto intitulava de "Le Malentendu".

Um homem de gabardina cinzenta parou a dois passos da porta para colocar o chapéu e olhou de relanço para trás de si, onde uma mulher de cabelos claros (em contraste com o preto do fundo) dormitava, aborrecida, sobre uma das mãos.

Voltou a olhar em frente e levou a mão esquerda de encontro à maçaneta da porta. O barulho que se seguiu foi o da maçaneta a desprender-se da porta, deixando a porta fechada e a forma de a abrir despedaçada.

A mulher acordou com o estrondo da pesada maçaneta de ferro a cair em queda livre sobre o chão de madeira.

-Pourquoi faites-vous cela?



A Música
Ainda antes de laçar este álbum, a Adele já estava a receber um Brit Award da escolha da crítica e o rótulo Sound Of 2008 da BBC. Com uma voz fabulosa, prova que as vozes Soul continuam em alta. Ah, adoro também a simplicidade e a forma como o vídeo transmite a mensagem: Youtube.


I've made up my mind,
No need to think it over,
If i'm wrong I aint right,
No need to look no further,
This ain't lust,
This is love but,

If i tell the world,
I'll never say enough,
Cause it was not said to you,
And thats exactly what i need to do,
If i'm in love with you,

Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even If i knew my place should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere

I'd build myself up,
And fly around in circles,
Wait then as my heart drops,
and my back begins to tingle
finally could this be it

Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere,
Or would it be a waste?
Even If i knew my place should i leave it there?
Should i give up,
Or should i just keep chasing pavements?
Even if it leads nowhere


(Irritam-me profundamente pessoas cobardes que têm medo de dizer as coisas e que se deixam ficar em silêncio à espera da quebra da outra pessoa para depois poderem dizer: “não fui eu, foste tu”. Cresce!)
 

 
     

15 março, 2008

Bichos Estranhos

Eu não sei que bichos estranhos são esses que andam a povoar a tua cabeça, mas espero que sejam daqueles divertidos com dezenas de olhos e sorrisos fanados!

Vá lá, desce dessa árvore que quero contar-te as histórias aborrecidas do meu mundo e arrastar-te pela mão para sítios escondidos onde possamos estar só os dois... hum... e triliões de estrelas também.

E a Primavera está mesmo à porta, até já lhe sinto os espirros!



As Músicas
Cheira-me (pequena referência idiota ao cheiro a Primavera que me atinge as narinas... e os olhos) que 2008 vai ser um ano excelente em termos musicais, bem ao estilo de 2004. As pequenas bandas indie estão de volta com os seus sons estranhos e a atitude bem disposta e despretensiosa que marcou o início dos anos 00. Os Throw Me The Statue são uma dessas bandas.


Two young sensualists got off the plane and got the gist
We took a car to town together
And as the week set in we glued like newly kin
You were an honest pal and i wasn't always right somehow

We would smoke and drink and laugh and sing of foreign things
We bought clever hats and umbrellas
If it wasn't quite my style and you felt semi-wild
You'd snatch it up and add it to your aesthetic dumb luck

There was patty who you liked and who i liked too
And as things played out you felt cheated
So when the sun shone in and showed my lusty sin
You were angry then and maybe still and won't be friends

But you were an honest pal and i wasn't always right somehow
Yeah, you were an honest pal and i wasn't always right somehow


Este Seventh Tree dos britânicos Goldfrapp caiu que nem uma bomba entre fãs e críticos, não por ser demasiadamente excêntrico, mas exactamente por não ter nenhuma dessa excentricidade que era característica da banda e fazia parte do carisma da Alison Goldfrapp. Aparentemente a ideia para fazer algo mais downtempo, com sons quentes e delicados, terá surgido após um concerto acústico para uma rádio. Resultado? Como sempre há quem adore e quem deteste. Eu, já refeito do choque, estou a adorar!




Some people kill for less
Some people find it hard to get dressed
Some people will
Ask how old I am

Some people livin' the life
Some people need more than a slice
But when it fades, when the glitter's gone

You know it, you owe it to yourself
I won't let it make you mad it's already crazy

Oh we're lonely one Mercedes down
The brighter lights & their smiles, their empty hands

Some people don't get much
Some people feel in their touch
With spirit worlds talking to you now

Some people just can't say
Some people just wanna play
They get a kick when it's all messed up

You know it, you owe it to yourself
I won't let it make you mad it's already crazy

What you thought you'd lost was just mislaid
All the poems written in your skin

You know it, you owe it to yourself
I won't let it make you mad it's already crazy

And what you thought you'd lost was just mislaid
And all the poems written in your skin
 

 
     

10 março, 2008

Chove Dentro Das Pessoas E Eu Não Consigo Perceber Porquê

A praça tinha um ar triste, carregada de um cinzento mais cinzento que o habitual. Pelos seus cantos (e nunca pelo meio deserto de carros ao fim-de-semana, por decreto municipal, e por força do hábito, não fosse o diabo tecê-las numa malha beterraba, tão na moda) iam circulando aquilo que o rapazinho pequeno supunha serem pessoas, grupos delas, talvez famílias.

Por esta altura, uma gota minúscula, ainda mais pequena que a unha do dedo mais pequeno do pequeno rapaz, soltava-se da enorme nuvem cinzenta que assombrava toda a cidade, qual nave extraterrestre povoada por dois ou três seres minúsculos prestes a invadir a terra, vá-se lá saber porquê.

A pequena gota, apoiada pela gravidade, ia caindo em queda livre em direcção à praça, ao centro da praça, perto da estátua do cavalo, mesmo no sítio exacto onde naquele preciso milésimo de segundo se encontrava o nariz do rapazinho.

Pluc!

A chuva gastava os últimos cartuchos de um inverno que deveria estar a acabar, mas que se prolongava por dias incertos, inundando não só as ruas mas também o interior das pessoas apanhadas sem guarda-chuva.

No meio da praça, perto da estátua do cavalo, o rapazinho dava pulos e gritava como podia: "Chuva! Chuva! Ó mãe, está a chover! Adoro chuva!!".

As pessoas estranhas estranhavam o rapaz e a sua mãe tentava arrastá-lo como podia para a beira de um edifício centenário, onde ficariam guardados da chuva, mas o rapazinho lá conseguiu fazer deslizar a sua mão pela da sua mãe e lá continuou a sua dança da chuva, ficando tão molhado quanta água a sua roupa conseguiu absorver.

No meio da multidão que se amontoava nas bermas dos edifícios, um homem de bigode gritava por entre o seu sotaque moldado por dois ou três dentes que já lhe faltavam: "Ó moço, sai da chuva que ainda te constipas!"

O rapazinho parou, inclinou ligeiramente a cabeça e ditou de cor o que tinha aprendido na aula de ciências naturais: "71% da superfície da Terra é água, entre 60 a 70% do nosso corpo é composto por água, a nossa pele é impermeável, se não fosse a água não havia vida na Terra. Porque é que estão tão tristes? Têm as duas próximas estações para se fartarem do sol!"



As Músicas
Não fiquem aí vocês também tristes a olhar para a chuva a cair! Vai uma ajudinha?

Os Los Campesinos! são uma banda descontraída do País de Gales (Reino Unido, dah!) com uma mistura de sons a fazer lembrar o punk “pop” rock dos anos 90, bem ao estilo de bandas como os Blink 182, mas com duas ou três pitadas de modernismo, atitude indie q.b. e duas colheres de sopa de tudo o que tiverem à mão de estilos musicais. Hold On Now, Youngster... é o título do novíssimo-íssimo-íssimo álbum, uma excelente escolha para o verão de 08 (que é que foi? Não falta assim tanto... mais ou menos...).


I was sick in my mouth because of the fear of the scent of the next girlfriend
And there were conversations about what Breakfast Club character you'd be
I'd be the one that dies (no one dies)
Well then what's the point?

You should have built have a statue, and so I did of you
And you were ungrateful, and slightly offended at the dimensions of the thing
You said you looked less like the Venus de Milo, and more like your mother in a straightjacket
I think it's great that you're doing fine now, but enough is enough
And I've had enough

Since we became accelerated readers, we never leave the house

You should have built a wall
You should have built a wall

And I'm not Bonnie Tyler, and I'm not Toni Braxton
And this song is not gonna save your relationship
Oh, that's shit
And this sentimental movie marathon has taught us one thing
It's the opposite of true love is as follows-
Reality!

You should have built a wall, not a bridge
(Since we became accelerated readers, we never leave the house)
You should have built a wall, not a bridge

Since we became accelerated readers, we never leave the house
Since we became accelerated readers, we never leave the house



Ainda no Reino Unido, da Escócia chegam os Sons And Daughters, sérios candidatos ao prémio de pior título alguma vez escolhido para uma banda, na primeira linha com os Irmãos Verdades (-> sim, com s no fim), Trio Odemira, D'ZRT ou Tony Carreira. Nomes à parte, eles têm um álbum novo, This Gift, depois de terem tido aparentemente algum sucesso radiofónico com o álbum anterior (encolho os ombros enquanto leio alguém descrevê-los com grande entusiasmo).


Match, the rope, wires
Tied up in twine
Corkscrew, dictionary, time
Paint, paper, pillows
Ink the hangman
Tape recording, postcard, sign
Stamp it 'evidence of life'
Tomorrow tracks the three-four line

Oh-oh, oh-oh
Oh-oh, oh-oh-oh

Alarm clock fights
Sedentary life
'Days of the week' wine
Mapping, water-tight
Needles in the night
Plastic, chequebook, rhyme
Paper, paint, the kitchen knives
Safety pins and iodine

Oh-oh, oh-oh
Oh-oh, oh-oh

Iodine, iodine, iodine, iodine
Iodine, iodine, iodine, iodine
Iodine

Oh-oh, oh-oh
Oh-oh, oh-oh

Iodine, iodine, iodine, iodine
Iodine, iodine, iodine, iodine
Iodine

Iodine, iodine, iodine, iodine
Iodine, iodine, iodine, iodine
Iodine




Aquando da vaga da bandas "The2 no início da década, surgiram várias bandas com o som crú do rock de garagem e o prefixo "The" no nome. O duo dinamarquês The Raveonettes não foi excepção a essa regra, mas para além de juntarem elementos do Rock dos anos 50/60 a essa fórmula, entraram para a história com o pé direito, com o single Attack of the Ghost Riders cujo vídeo foi censurado pela MTV (YouTube). Agora que passou a febre do garage rock, eles estão de volta com novo álbum e um som mais próprio, mais nórdico, e um vídeo mais ao gosto da MTV (YouTube). No entanto esta música ainda é do álbum Pretty In Black de 2005.


If you touch that girl, you know it's okay
People say she's a whore anyway
I think she looks like a nice vamp
Looking for love in a trashcan

If you kiss that girl, you won't be caught dead
She's the coolest girl you think you ever met
I think she fits right into my life
On the road 'til the end of time
On the road 'til the end of time

Now the time is right, and you feel the need
To go down low and receive a treat
The jukebox churns out songs about sex
Come on baby, you're my best fix
Come on baby, you're my best fix

Love, love in a trashcan
Love, love in a trashcan
 

 

 

Arquivo
setembro 2006
novembro 2006
dezembro 2006
janeiro 2007
fevereiro 2007
março 2007
abril 2007
maio 2007
junho 2007
julho 2007
agosto 2007
setembro 2007
outubro 2007
novembro 2007
dezembro 2007
janeiro 2008
fevereiro 2008
março 2008
abril 2008
maio 2008
junho 2008
julho 2008
agosto 2008
novembro 2008
dezembro 2008