28 agosto, 2007

Enigma

A vida é feita de pequenos nadas colados com uma fita-cola que por vezes se descola para revelar nadas ainda mais pequenos.

Por vezes gostava que a fita-cola não se descolasse e que mantivesse escondidos esses nadas mais pequenos até um dia mais tarde quando a memória já tivesse esquecido todos os outros grandes nadas relacionados com esses tão pequenos e quase ilegíveis.

Desta vez gostei que a fita-cola se tivesse descolado mais cedo, revelando aquele nada que para alguém é só mesmo isso, mas que para outro alguém é mais que nada, é um tudo pequenito, do tamanho do chão.

Faltou-me perguntar: “Gostaste?”
Mas estou certo que a resposta seria: “É-me indiferente”



A Música
Bob Schneider é um cantautor (singer-songwriter) americano criado na Alemanha e que tem uma visão muito cómica da vida, especialmente em músicas como Jingy, Wiggle My Dizzy Stick ou a hilariante Hangin Out With Horny Girls. É por isso estranho ver uma música mais séria no meio desta loucura toda e deve ser por isso mesmo que esta Moon Song sabe tão bem! Num mundo de loucuras e de hiperactividade, sabe ainda melhor acalmar e caminhar pela areia em vez de ir pelo passadiço de madeira que faz barulhos estranhos.


I like the sun
When it shines
On the moon
At night

I like the way
That you smile
When you feel
Just right

La la la la

I like the wind
When it blows
You close
To me

I like the way
That you hold
Me the way
You do

La la la la

I like the way
That you say
You'll always
Stay

I like the sun
When it shines
On the moon
This way
 

 
     

15 agosto, 2007

Beach House Party (porque em inglês tem mais estilo? lhac!)

Estava cansado de um dia longo e a última coisa que me apetecia era ir aturar uma cambada de meninos riquinhos cada um mais convencido que o outro numa pseudo-festa numa casa de praia que é certamente maior que a minha própria casa.

Tal como esperava, a rua estava cheia de carrões dos papás, cada um maior que o outro e não foi difícil arranjar um espaço entre eles para o meu carrinho de mão. As luzes e a música viam-se e ouviam-se ao longe numa visão quase cinematográfica, por momentos pareceu-me que estava na Califórnia, sentimento esse que não se desvaneceu quando vi as raparigas munidas de um loiro falso e bronzeado esturricado que se empoleiravam já bem bebidas nos portões.

Um “olá” aqui, outro “olá” ali, um “estás por aqui?” ou um “já viste as horas? Isto não são horas de chegar!” davam-me as boas-vindas enquanto procurava desesperadamente por caras conhecidas. O Dj era um puto convencido que se julgava o maior do mundo por estar a passar os Justice que ouviu na MTV. Ah, e era loiro também... Go figure...

Quando finalmente me consegui desenrascar das crianças de 16 anos que se agarravam a mim como se fosse a melhor coisa desde que o Prince mudou o nome para O Artista Anteriormente Conhecido Como Prince, fiz-me ao bar e às caras conhecidas que faziam uma segunda festa lá fora, abrigados da chuva.

O tema de conversa era a recordação dos tempos em que éramos nós que andávamos lá por dentro nestas festinhas, a pensar que o pessoal mais velho que estava cá fora é que era fixe porque se estava a (alerta: realismo na linguagem!) cagar para nós e que se estavam certamente a divertir muito mais que nós. Bom, parece que aquele pessoal que estava cá fora na altura afinal estava a recordar como era bom ter 16 anos. É engraçado, nunca ninguém está bem...

Por fim a canalhada lá começou a render-se com o nascer do sol, fosse pelo álcool a que não estão habituados ou pelo cansaço da noite e a festa lá-se começou a compor... hum... à maneira do pessoal de 20 e tal anos: com uns petiscos improvisados, umas garrafas de tinto antigas e com aspecto caro (parece-me que alguém vai ficar de castigo) e uma música ambiente a condizer.

"Pois, pois, já estou a ver, indie rock calmo, certo?"

Errado!

As Músicas
Uma música do Justin Timberlake aqui? Mas o mundo já acabou e ninguém me disse nada? Calma! Em primeiro lugar, o homem tem estilo. Em segundo lugar, esta tem um toque dos Justice, o duo francês que tem feito sensação com o seu som pós Daft Punk, a mítica banda que começou todo este movimento da electrónica francesa (vejam também os Air, Cassius ou Dimitri Fom Paris para terem uma ideia).




She's freaky and she knows it
She's freaky and I like it

Listen

She grabs the yellow bottle
She likes the way it hits her lips
She gets to the bottom
It sends her on a trip so right
She might be goin' home with me tonight

She looks like a model
Except she's got a little more ass
Don't even bother
Unless you've got that thing she likes
I hope she's goin' home with me tonight

Those flashing lights come from everywhere
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned
Man I swear she's bad and she knows
I think that she knows

She's freaky and she knows it
She's freaky, but I like it

She shuts the room down
The way she walks and causes a fuss
The baddest in town
She's flawless like some uncut ice
I hope she's goin' home with me tonight

And all she wants is to dance
That's why you'll find her on the floor
But you don't have a chance
Unless you move the way that she likes
That's why she's goin' home with me tonight

Those flashing lights come from everywhere
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned
Man I swear she's bad and she knows
I think that she knows

Those flashing lights seem to cause a glare
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned from everywhere
She's bad and she knows
I think that she knows

Now dance
Little girl
You're freaky, but I like it
Hot damn!
Let me put my funk on this one time

Those flashing lights come from everywhere
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned
Man I swear she's bad and she knows
I think that she knows

Those flashing lights seem to cause a glare
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned from everywhere
She's bad and she knows
I think that she knows

Those flashing lights come from everywhere
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned
Man I swear she's bad and she knows
I think that she knows

Those flashing lights come from everywhere
The way they hit her I just stop and stare
She's got me love stoned
I think I'm love stoned
She's got me love stoned

I think that she knows, think that she knows, oh, oh

Those flashing lights come from everywhere
The way they hit her I just stop and stare
I'm love stoned from everywhere and she knows
I think that she knows
Think that she knows, oh, oh

And now I walk around without a care
She's got me hooked
It just ain't fair, but I
I'm love stoned and I could swear
That she knows
Think that she knows, oh, oh
She knows, she knows, oh, oh


O que é que faz uma banda australiana chamada Riot In Belgium com letras em francês? La musique! É, parece que o francês é o novo japonês (Sorry, Ayumi! Oh and don't be so cocky about it, Angela!).




Oh my God, there's a riot in Belgium!


(Ai, tenho mesmo que ir dormir mas não tenho mesmo sono nenhum)
 

 
     

05 agosto, 2007

Cortar o bem pela raiz

(estava a tentar contar isto da mesma forma subjectiva de sempre, mas vou contar tal e qual se passou)

Sabem aquela música do Frank Sinatra, a Something Stupid? Pois é, foi algo mais ou menos assim, o ambiente era perfeito, acolhedor, não estava frio nem um calor excessivo, nós estávamos retirados da confusão, ela olhava-me nos olhos, eu fingia dançar uma melodia de guitarra que vinha de longe, e foi então que ela estragou tudo. Não, perdão, eu estraguei tudo!

Ela disse as palavrinhas mágicas e eu segui com um lacónico e confuso sorriso. Não respondi. Não disse nada, não consegui. O momento com que tanto sonhara nos últimos tempos estava finalmente a acontecer da forma mais perfeita (e quem me conhece sabe que estes meus momentos nunca são perfeitos porque sou um desastrado) e no momento certo, quando só faltava dizer umas palavrinhas não menos mágicas, sorri um sorriso falso e calei-me. Desta vez não foi por falta de coragem nem por falta da mesma auto-confiança que nunca vi na vida (nem sei o que isso é), desta vez foi porque não estava a sentir o que era suposto sentir e a hipocrisia não entra nesta minha ideia absurda de romântico à moda antiga.

Como é que eu posso ser tão estúpido? Ela é bonita, inteligente e gosta de história, de política, de arte, sei lá eu, é perfeita, não tem nada de mal, a não ser isso, talvez, não tem nada de mal. Onde é que está a fricção, onde é que está o receio de que algo corra mal, de que os nossos encontros sejam um fracasso, de que eu não esteja à altura, de que ela não esteja à altura, de que diga algo desinteressante, de que as piadas não tenham piada, de não saber o que dizer a seguir? Onde é que está tudo isto? Com ela não está e isso assusta-me quase tanto quanto me aborrece.

Estou certo que os próximos meses seriam perfeitos ao lado dela, mas também sei que me iria aborrecer ao fim desses meses e que iria tudo acabar como já tinha acabado no passado, com aborrecimento e falta de emoção. Por isso mesmo decidi fazer o que os homens normalmente não fazem, que é cortar o bem pela raiz antes que se torne mau. Sou um burro, eu sei, mas ao menos não me podem acusar de fingir ser algo que não sou.



A Música
Não, não é a Something Stupid do Sinatra mas antes uma Bossa Nova de um par improvável: um americano Smokey Hormel e uma japonesa Miho Hatori que formam os Smokey & Miho.


This long world, like my thoughts
I can change this path, where I'm going
You'll be far away
Put my finger on the spot
And up above, show the way to the ocean so far away
On the road to a paradise
I can look back, there's nothing left for me, anyway

Your eyes so big
When you look at me
Don't ask me why
There's nothing left for me to stay

Tell me, can you hear me now?
Tears are falling into the air
Almost like a clear blue breeze
Can you feel my broken heart?

You're a child, not a man
If I told you why I must stay
You wouldn't understand
Loneliness is a dealers sweep
But it feels good to me
Like the sand on my feet

Tell me, can you hear me now?
Tears are falling into the air
Almost like a clear blue breeze
Can you feel my broken heart?

All I want to say
Nothing but goodbye
All I want to see
The ocean in your eyes

All I want to say
Nothing but goodbye
All I want to see
The ocean in your eyes

Sitting on a secret beach
Like this, smelling through the sea
The ocean takes my fear away
Can you hear my heart?

All I want to say
Nothing but goodbye
All I want to see
The ocean in your eyes
 

 
     

01 agosto, 2007

O trovador

O que eu queria mesmo era ser um trovador, andar sempre com uma guitarra às costas, escrever letras em guardanapos de papel e fazer serenatas a janelas bem frequentadas.

Não sou um trovador, se fosse seria um trovador sem guitarra que nem sequer sabe cantar. Não sei também escrever poemas, nem proclamá-los bem alto de cá de baixo para uma janela lá em cima. Não sei sequer dizer coisas bonitas a um ouvido atento, disfarçadamente ausente. Não ando a cavalo e por vezes ligo o ar-condicionado.

Não sou trovador mas sinto-me um trovador, o pior trovador do mundo está certo, mas um trovador!



As Músicas
Eu não sou trovador, mas estes dois senhores são, sem dúvida. O primeiro chama-se Nuno Prata e os seus sons e forma de cantar fazem-me lembrar os inícios dos Ornatos Violeta. Podem encontrar esta música no seu primeiro álbum Todos os dias fossem estes/outros.

(atenção às entrelinhas)


Nada é pior do que não te ter
E ver que outros braços te dispensam
Beijos falsos, fáceis rimas de prazer

Nada é tão mau quanto não te ter
E saber que o teu riso é o aviso
Que de ti preciso para viver

Não preciso de te explicar
Que ideia é essa que as palavras falam aos ouvidos
Melhor que os olhos ao coração

Mas assim eu não te vou ter
Porque é à custa de palavras, mesmo erradas
Que aprendemos a quem queremos conhecer

Sem afirmar eu não vou crescer
Que faço, posso dar quando errar
Porque ninguém ouviu o que eu não quis dizer

Eu vou ter de te falar, deixar explodir, explicar
Que o que te mostro é tão menos do que me obrigo a calar





Já toda a gente conhece este senhor, seja deste seu trabalho a solo ou de outros projectos como os Quinteto Tati ou os Belle Chase Hotel. Relativamente a este 1970, "apenas" de referir que é um dos melhores álbuns portugueses de 2007!

(atenção às entrelinhas)


Falar de amor,
Uivar em vão.
O trovador
É uma espécie em extinção
Quando se extinguir o amor.

No chão, sem paz
Sem massa, nem pulmão
Cantando vai
Já nem sabe bem porquê
Mas insiste e não retrai

Houve tempos onde
Cantou, cantou
Até ficar tonto
De amor

Dispensa maravilhas o cantor
Cuspindo no comércio da nação
A sua dor
Não tem grandes condições
Para se instalar botões

De tanto sanatório e prisão,
Lavagem cerebral e televisão,
O trovador
Devotou-se muito a Deus
Que era o nome do seu cão.

E ao sair de cena
Cantou, cantou,
Disse a quem ouvisse.

Eu vou, ver o meu amor,
Vou no vapor das seis
Para onde o sol se põe:

Ficou o cão
A ladrar aos camiões
 

 

 

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