Discussões Sem Dó Menor (Nem Lógica De Maior)
Parte I
À conta de mais um azar com o carro, um vidro partido, ou lá o que foi desta vez, tive uma enorme e profunda discussão com a minha mãe. Não me lembro da última vez que tinha discutido com ela, tal é a raridade dos nossos desacatos, e esta discussão foi por tudo menos pelo que a originou.
Quando discutimos, dizemos coisas que não queremos dizer, penso que será o nosso mecanismo de auto-defesa, quando nos sentimos atacados: atacamos. No fim saímos todos magoados, e ninguém sai vencedor.
À conta de mais um azar com o carro, um vidro partido, ou lá o que foi desta vez, tive um longo dia com a minha mãe, tentando resolver o problema do vidro, é certo, mas também e sobretudo, a resolver problemas bem menores, como a cor das novas toalhas da casa de banho. Noutra qualquer circunstância, não teria qualquer prazer em escolher as novas toalhas da casa de banho, mas hoje foi diferente, o prazer de passar o dia com a minha mãe, com quem tivera uma enorme discussão no dia anterior, fez-me apreciar a loja de senhora, a simpatia do homem que trabalha numa loja frequentada quase na sua exclusividade por senhoras, e a falta de jeito da mulher que trabalha numa loja frequentada quase na sua exclusividade por senhoras com artigos que só interessam quase na sua exclusividade a senhoras, para as senhoras.
Foi bom passar o dia de um lado para o outro num carro com o vidro partido, com tanto calor que esteve, mas acima de tudo foi bom passar o dia com a minha mãe. Bem sei que não lhe dou o devido valor e que só sou capaz de lhe dizer que é a melhor mãe do mundo por escrito, porque sou cobarde demais para o conseguir dizer...
Parte II
À conta de mais uma semana em que vou estar sem ver a Joana, tive uma espécie de uma discussão com ela. É fácil ser infantil e estúpido quando se gosta mesmo muito de alguém, porque é sempre difícil entender os motivos de uma separação, por mais válidos que os argumentos sejam. Penso que seria mais estúpido e absurdo da minha parte se, ao saber que não a iria ver por mais uma semana, tivesse reagido: “Ah, ya! Ok, na boa!”.
Não me vou desculpar, nem pedir desculpa, porque continuo a não ententer os motivos, por mais válidos que os teus argumentos sejam. Gosto demais de ti para os conseguir entender, e as saudades que tenho de ti ofuscam qualquer raciocínio válido que pudesse sair desta minha cabeça tonta.
Parte III
À conta da minha falta de jeito para as palavras, tropecei nas palavras do Eugénio de Andrade. O livro chamava-se "O Outro Nome Da Terra" e, a julgar pela forma como a mulher da biblioteca me olhou, era valioso. Escrevi-o com a minha letra mais fraca, aquela que até a mim me custa a ler, num papel fosco e já escrito do outro lado. Queria lembrá-lo para, assim que houvesse coragem e um pouco de tempo a sós contigo, to pudesse ler, na sombra de um jardim povoado por árvores feitas por crianças. E logo hoje, que te queria falar um poema dele, pois que não sei proclamar poemas. Guardei o papel já bem amarrotado no bolso e proclamei para um ecrã um poema que guardei na memória:
ESPERA
Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.
Eugénio De Andrade
As Músicas
Há músicas complexas, e depois há músicas como as do americano J. Tillman, uma simplicidade tocante que se quer assim tão mínima e honesta quanto possível. Uma excelente escolha para as pausas da euforia do verão.
I jumped out my first floor window
Before I booked it for Monument Park
I made it as far as Evans and Falls
And I heard you call "Joshua, it's not my fault,
The devil took sway of my heart"
I couldn't believe the next thing I saw
She was outside in only a bathrobe and scarf
My mother took sway of my heart
À conta de mais um azar com o carro, um vidro partido, ou lá o que foi desta vez, tive uma enorme e profunda discussão com a minha mãe. Não me lembro da última vez que tinha discutido com ela, tal é a raridade dos nossos desacatos, e esta discussão foi por tudo menos pelo que a originou.
Quando discutimos, dizemos coisas que não queremos dizer, penso que será o nosso mecanismo de auto-defesa, quando nos sentimos atacados: atacamos. No fim saímos todos magoados, e ninguém sai vencedor.
À conta de mais um azar com o carro, um vidro partido, ou lá o que foi desta vez, tive um longo dia com a minha mãe, tentando resolver o problema do vidro, é certo, mas também e sobretudo, a resolver problemas bem menores, como a cor das novas toalhas da casa de banho. Noutra qualquer circunstância, não teria qualquer prazer em escolher as novas toalhas da casa de banho, mas hoje foi diferente, o prazer de passar o dia com a minha mãe, com quem tivera uma enorme discussão no dia anterior, fez-me apreciar a loja de senhora, a simpatia do homem que trabalha numa loja frequentada quase na sua exclusividade por senhoras, e a falta de jeito da mulher que trabalha numa loja frequentada quase na sua exclusividade por senhoras com artigos que só interessam quase na sua exclusividade a senhoras, para as senhoras.
Foi bom passar o dia de um lado para o outro num carro com o vidro partido, com tanto calor que esteve, mas acima de tudo foi bom passar o dia com a minha mãe. Bem sei que não lhe dou o devido valor e que só sou capaz de lhe dizer que é a melhor mãe do mundo por escrito, porque sou cobarde demais para o conseguir dizer...
Parte II
À conta de mais uma semana em que vou estar sem ver a Joana, tive uma espécie de uma discussão com ela. É fácil ser infantil e estúpido quando se gosta mesmo muito de alguém, porque é sempre difícil entender os motivos de uma separação, por mais válidos que os argumentos sejam. Penso que seria mais estúpido e absurdo da minha parte se, ao saber que não a iria ver por mais uma semana, tivesse reagido: “Ah, ya! Ok, na boa!”.
Não me vou desculpar, nem pedir desculpa, porque continuo a não ententer os motivos, por mais válidos que os teus argumentos sejam. Gosto demais de ti para os conseguir entender, e as saudades que tenho de ti ofuscam qualquer raciocínio válido que pudesse sair desta minha cabeça tonta.
Parte III
À conta da minha falta de jeito para as palavras, tropecei nas palavras do Eugénio de Andrade. O livro chamava-se "O Outro Nome Da Terra" e, a julgar pela forma como a mulher da biblioteca me olhou, era valioso. Escrevi-o com a minha letra mais fraca, aquela que até a mim me custa a ler, num papel fosco e já escrito do outro lado. Queria lembrá-lo para, assim que houvesse coragem e um pouco de tempo a sós contigo, to pudesse ler, na sombra de um jardim povoado por árvores feitas por crianças. E logo hoje, que te queria falar um poema dele, pois que não sei proclamar poemas. Guardei o papel já bem amarrotado no bolso e proclamei para um ecrã um poema que guardei na memória:
ESPERA
Horas, horas sem fim,
pesadas, fundas,
esperarei por ti
até que todas as coisas sejam mudas.
Até que uma pedra irrompa
e floresça.
Até que um pássaro me saia da garganta
e no silêncio desapareça.
Eugénio De Andrade
As Músicas
Há músicas complexas, e depois há músicas como as do americano J. Tillman, uma simplicidade tocante que se quer assim tão mínima e honesta quanto possível. Uma excelente escolha para as pausas da euforia do verão.
I jumped out my first floor window
Before I booked it for Monument Park
I made it as far as Evans and Falls
And I heard you call "Joshua, it's not my fault,
The devil took sway of my heart"
I couldn't believe the next thing I saw
She was outside in only a bathrobe and scarf
My mother took sway of my heart