2008 não foi um ano de grandes revoluções musicais, não se inventou nada de novo. O que não quer dizer que não tenham havido bons álbuns. Eu costumo ser adverso a listas com os melhores, porque é sempre tão difícil e injusto fazer uma listinha tão insignificante quanto arrogante. Este ano não foi muito difícil fazer a lista dos 10 melhores, à falta de melhores músicas, aqui vai a minha tirada dos 10 melhores álbuns que ouvi este ano, por ordem alfabética, apenas por ordem alfabética. Para mais tarde lembrar.
Ponham-me um gorro vermelho na cabeça e façam de mim Pai Natal. Já estou por tudo. Quero sentir um bocado daquele espírito natalício que tinha quando era criança e o mundo era tão maior, e as pessoas tão mais pequenas.
A única minha preocupação era saber se ia ser esse ano que ia receber o tão desejado balde de Legos, mas não, não era, nunca era, todos os anos era a mesma desilusão, mas era isso, afinal, a magia do natal.
Agora não há magia, nem familiar disfarçado de velhote de barbas brancas e um depravado robe vermelho, por uma razão estranha que toda a gente parece desconhecer. Há uns poucos embrulhos rascas com nomes, a lareira na cozinha, os filmes na sala e a mesa dos doces, que por outra razão qualquer que me foge à razão, também só aparecem por esta altura.
Por mim podiam adiar o Natal por mais uns dias, pelo menos até aos saldos, visto que não vou ter tempo para comprar prendas para ninguém antes do dia 25. As minhas mais sinceras desculpas a todos os afectados! E também àquele senhor sem um braço que insiste em meter-se à minha frente nos semáforos dos Aliados. Não ando mesmo com trocos...
Qualquer dia levanto 10 euros no multibanco, vou ao banco troca-los por moedas miudinhas e depois distribuo-os por toda a gente que tenha uma mão estendida, até mesmo os senhores de aspecto estranho que inventam histórias macabras que só parecem acontecer a senhores de aspecto estranho.
A Música Eu sei, eu sei, não é nada original meter aqui músicas de anúncios que estão a passar na TV (ao menos não é o da Vodafone), ainda por cima quando um individuo vai a descobrir que a música é de uma miúda que ficou em segundo lugar nos ídolos australianos. Valha-nos ao menos que eles lá parecem levar a música e o casting a sério. A cachopa ainda não tem nenhum álbum editado, apenas dois EPs, e é de um desses, Welcome to the Afternoon, que saiu esta música. E eu gosto da música, gosto mesmo! (Infelizmente as outras músicas dela parecem ser uma valente m...)
You go on i'll be okay I can dream the rest away It's just a little touch of fate It'll be okay It sure takes its precious time But it's got right and so have I
I turn my head up to the sky I focus one thought at a time I do not let the litte theives Under my tightly buttoned sleeves You couldn't be a longer time I feel like i am walking blind I have nowhere I'll have time
There are no legible signs There are no legible signs
I like the way that you talk I like the way that you walk It's hard to recreate Such an individual gate You wait your turn in the queue You say your sorries and thankyou's I don't think you're ever A hundred percent in the room
You're not in the room You're not in the room
Deepest of the dark nights Here lies the highest of highs Neopolitan dreams, stretching out to the sea You wait your turn in the queue You say your sorries and thankyou's I don't think you're ever A hundred percent in the room You're not in the room You're not in the room
----------------------------------------------- Não Cortar Por Aqui -----------------------------------------------
Fabuloso é também o vídeo, feito num único plano sequência (plano longo, sem cortes, num único take). Adoro o ambiente criado, quase floresta encantada, um capuchinho vermelho numa interpretação moderna para crianças crescidas que ainda esperam o velho simpático de barbas brancas.
Tenho umas certas saudades daqueles tempos a sós que passava em viagens inúteis a descobrir os álbuns novos que adquirira no fim-de-semana anterior. Não era tanto pela solidão ou pelo prazer de conduzir (sendo que conduzir em auto-estrada nunca poderá ser um verdadeiro prazer de condução), nem tanto pela música. Era o tempo em que falava comigo próprio. Pensava, reflectia, sonhava.
Agora dou comigo a fazer viagens mais curtas, e de tão curtas que são, quero que ainda sejam mais curtas, e apresso-me porque tenho onde chegar, tenho a quem chegar, um objectivo de viagem. Antigamente não era assim, viajava pelo prazer de me deixar ir...
Quando isto acabar vou-me deixar levar por uma viagem qualquer algures, sem destino, por estradas secundárias com curvas, sem mapas, sem tempo, nem passado nem futuro. Apenas umas músicas novas, uma muda de roupa, água e bolachas q.b. e a outra metade daquela coisa vermelha que bombeia o sangue (ou não, conforme lhe apeteça).
A Música Frida Hyvönen é uma singer-songwriter sueca caracterizada pelos sons minimalistas, na verdade, apenas piano e voz, e que voz! De perder o fôlego só de ouvir.
Like when you told me that my love was just aesthetic And I fell into the beauty of another And it was in the summer Confusion was a-bloom in every little corner Oh don't you understand don't you understand don't you understand don't you understand?
How lonely it gets How lonely it gets How lonely it gets How lonely it gets?
And then you said to me that I was cold and stern And said it like you meant I wasn't a woman And then you intellectualized my emotion And called me baby baby baby baby in a wrong way, Oh Such a lack of taste Such a lack of taste Such a lack of taste Such a lack of taste Such a lack of taste lack of taste Such a lack of taste lack of taste!
I never wanna see your pretty face again I don't think I'll be your lifelong friend I don't wanna carry any of your pain I'm never gonna talk to you and I'll never explain 'cause You never get me right Never get me right Never get me right Even if you'd try You'd never understand You never get me right You never listen tight You never get me right Oh
Estou cansado de queimar neurónios com coisas tão inúteis. Só espero não precisar deles mais à frente na minha vida.
Apetece-me meter Belle And Sebastian em repetição no estéreo, abraçar-me a ti debaixo de uma manta pequena demais para nós os dois e deixar que me aqueças os pés e as mãos que estão sempre tão frias.
E depois, a meio de uma frase desastrada, meio romântica meio coração aberto ao meio, num daqueles momentos de sinceridade em que me sinto mais nú que nú, fico à espera que me interrompas com algum assunto à parte, totalmente despropositado que já não me irrita, só me faz gostar mais de ti (Espera? Escrevi bem? Mais? Ainda mais?? Isto daqui a pouco mais parece um daqueles arranha-céus infinitos do Dubai, só que maior!)
A Música Os Belle And Sebastian fazem-me querer usar camisola de gola alta e calças à boca de sino. Acho sinceramente que eles são mais daquela época que as próprias pessoas que a viveram. Esta música foi retirada do disco BBC Sessions que reúne as sessões que eles foram fazendo para a rádio britânica. Fabulosos!
I was surprised, I was happy for a day in 1975 I was puzzled by a dream, stayed with me all day in 1995 My brother had confessed that he was gay It took the heat off me for a while He stood up with a sailor friend Made it known upon my sister's wedding day
I got married in a rush to save a kid from being deported Now she’s in love I was so touched, I was moved to kick the crutches From my crippled friend She was not impressed that I cured her on the sabbath So I went to confess When she saw the funny side, we introduced my child bride To whisky and gin
The priest in the booth had a photographic memory For all he had heard He took all of my sins and he wrote a pocket novel called "The State I Am In" So I gave myself to God There was a pregnant pause before he said ok Now I spend my day turning tables round in Mark's and Spencer’s They don’t seem to mind
I gave myself to sin I gave myself to providence And I’ve been there and back again The state that I am in
Oh, love of mine, would you condescend to help me Because I’m stupid and blind Desperation is the devil’s work It is the folly of a boy's empty mind Now I’m feeling dangerous Riding on city buses for a hobby is sad Lead me to a living end I promised that I’d entertain my crippled friend My crippled friend
É sempre bom reencontrar amigos, especialmente quando é assim, quando o tempo não parece ter passado, quando parece que foi a semana passada que estávamos todos na esplanada do tio Chico, mesmo quando sabemos que estamos todos diferentes, todos crescemos e amadurecemos.
As bebedeiras de vinho rasca de antigamente dão agora lugar ao saborear de um bom vinho, as moelas já não são servidas em pão do grande tacho amolgado, mas antes em travessas e em pratos para comer de faca e garfo.
As conversas já não são tão fúteis, sobre qualquer coisa parva na tv, ou sobre qualquer coisa parva que alguém fez. Agora conversa-se seriamente sobre o futuro, os planos ou a ausência deles. As conversas sobre os amores de desamores no plural dão agora lugar ao amor no singular, ou ao desamor, também ele tão singular.
Tudo isto parecia tão maçador aqui há uns meses, mas agora, neste contexto, com uma boa música de fundo, a tv tão baixo quanto possível e uns bons dedos de conversa (mais que as mãos), sabe bem estar ali rodeados do radiador a óleo, com aquele vista sobre a cidade que é de toda a gente, mas nunca é de ninguém.
P.S.: Já tinha saudades daquela preocupação galinha do: “manda um toque quando chegares para saber que chegaste bem”, que antigamente tanto desprezava mas que agora sei ser só aquela preocupação maior que se não se sabe descrever.
A Música Em Dezembro de 2005, o Iron & Wine e os Calexico (de California + México, mesclagem que, de resto, se nota nos sons), juntaram-se numa casa aquecida a lareira, na verdade não tenho essa informação, mas a julgar pelos sons resultantes dessas sessões, só podem ter sido feitos com uma lareira de fundo.
One more drink tonight as your gray stallion rests Where he lays in the reins For all of the speed and the strength he gave
One more kiss tonight from some tall stable girl She’s like grace from the earth When you’re all tuckered out and tame
One more tired thing the gray moon on the rise When your want from the day Makes you to curse in your sleep at night
One more gift to bring we may well find you laid Like your steed in his reins Tangled too tight and too long to fight
(Ups, isto ficou perdido como rascunho. Pensava que tinha publicado. As minhas mais desastradas desculpas)
Acordei com uma dor de cabeça que tem sido familiar nos últimos tempos e que era suposto desaparecer hoje de vez para todo o sempre. Há algumas dores de cabeça que adoram ficar por mais tempo do que o necessário.
Liguei o rádio (vulgo, iTunes), rodei a roda grande das frequências à sorte (vulgo, liguei o aleatório) e meti o volume no máximo (sim, o volume no máximo é uma linguagem universal e intemporal).
De repente dei por mim aos saltos a cantar: “Hei! Não quero ir pró céu, Hei! Hei! Hei! Só quero twistar-te!”.
Foi preciso os auscultadores voltarem a avariar de um só ouvido para redescobrir os prazeres de ouvir música nas alturas, sem estar preso a um fio e sem algo enfiado pelas orelhas adentro. E sabem que mais? É genial! Ouve-se desde o quarto ao chuveiro, do corredor à cozinha.
E foi então que a minha avó chegou a casa para me ver a fazer uma dança parva, pseudo anos 80, com os braços no ar e a toalha enroscada à cintura.
Preciso mesmo de arranjar uma casa!
Malditos homenzinhos dos serviços académicos...
A Música Andava eu entretido a tentar nascer e estes senhores andavam a tratar de "rócar" o país. Excelente som para esta banda com múltiplas vidas, mas que não seria nada sem o carisma do senhor Rui Reininho. Um verdadeiro senhor rock star: "estou-me a cagar para vocês todos!" (Ah, o ano é 1984, data deste single dos GNR, Twistarte)
Dito num aparte Uso-te à la carte Até que me farte
Atiro-te uma tarte Depois ponho-te de parte
Vê a minha sorte (um autêntico corte) Agora odeio-te de morte Agora odeio-te de morte
Hey! Não quero ir pró céu Só quero twistar-te Uma relação tão forte Logo que aborte É bússola sem norte
Uma relação tão forte E não ficaste a rir-te Nem tive que mentir-te É que pra sentir-te Escusas de despir-te
Abri os olhos num tempo perdido. Devia ser de manhã, já era tarde, de tarde, escuro, quase noite. Não quis olhar para o relógio, sabia que ela já estava atrasada. Os relógios têm uma tendência doentia para me entristecer, nem sei bem porque é que ando sempre com um no pulso, acho que é por causa da animação divertida, quase geek.
Desviei o olhar uns graus para a direita, e ali estava ela, nos meus braços, com a cabeça pousada no ombro. Que visão mais bela e apaziguadora. Lembro-me de ter pensado: "dêem-me uma melodia de fundo e não preciso de mais nada para ser feliz". Mas não tive uma melodia, tive antes uma sinfonia com cada respirar dela, na forma coordenada como o seu peito subia e descia com cada inalação e exalação do ar que parecia tão leve à nossa volta, na forma como mexia lentamente os lábios num sorriso inocente, e na forma como o seu nariz parecia imitar o cantar de um passarinho.
Não sei bem que bem terei feito ao mundo numa anterior encarnação para merecê-la, talvez tenha sido um herói,um rei, um príncipe, um soldado anónimo que desistiu de lutar para ajudar o inimigo, ou um simples livreiro que escondia livros da censura numa cave obscura, atrás das pipas de vinho do Porto.
Sussurrei-lhe tão baixinho quanto pude, com todo o cuidado de não a acordar, passando os dedos por aquele caminho tão perfeito que liga o ombro ao seu ouvido: "és tão bonita".
A Música Há qualquer coisa dos homens com barba e violas, vão tão bem leite e chocapic, como ter a cabeça no colo da pessoa amada e levar com migalhas na cabeça. Excelente descoberta ao calhas no myspace (http://www.myspace.com/bfachada) de um excelente músico, B Fachada. Mas que grande projecto, a fazer-me acreditar que afinal ainda há coisas novas a descobrir na música portuguesa.
Quando em fins de Março o céu começa a abrir Dos campos cheira-se a vontade de florir Começa a caça, os bichos voltam do além E toda a malta desta praça vê o corpo ver também Do mar o vai e vem, maestro a dirigir
Os melros cantam: "birds do it" Os homens cantam: "birds do it" Viúvas cantam: "lets do it" Let's fall in love
Quando a orquestra brota toda da estação E o marinheiro, o marinheiro lembra o Mário com paixão O tom do velho grego cai no esquecimento Impera o grande deus manchebo, fogo forte do momento Pelo mar o bom do vento marca o tempo da canção
Os pombos cantam: "birds do it" Os homens cantam: "bees do it" E tu já cantas: "let's do it" Let's fall in love