04 novembro, 2008

Sala De Espera, Espaço Em Branco

Umas escadas curvilíneas e escuras levavam ao primeiro andar, um enorme corredor de salas exactamente iguais com escritos nas portas a distinguir todo o tipo de profissões, desde advogados, carniceiros, pediatras, ferreiros, contabilistas e canibais. Parei em frente a uma porta exactamente igual a todas as outras, mas com uma placa preta com letras brancas com um nome e uma legenda: “Médico Dentista”. Ri-me com a prepotência desta classe de gente que querem ser médicos a toda a força, apesar de os próprios médicos não os reconhecerem como tal (sendo mesmo proibidos em alguns países de usar o título Dr.).

Entrei e deparei-me com um balcão minúsculo abandonado. Olhei e não vi ninguém, só ouvia o barulho inconfundível e assustador de uma broca a meter medo a uma criancinha, provavelmente. Segui para a sala de espera, um enorme salão apenas com quatro cadeiras tão dispersas que o pareciam tornar maior.

De um dos lados, separadas por três metros uma da outra, estava uma senhora e a sua filha. Olhavam a televisão com o maior ar de aborrecimento das suas vidas. Escolhi uma das duas cadeiras livres e olhei para a televisão, tentando abstrair-me da dor de dentes, à espera que o nimed fizesse efeito, ou então que o dentista me injectasse a porcaria da anestesia de vez.

Não surpreendentemente, a televisão estava na RTP 1. Penso mesmo ser uma obrigação maçónica de todas as salas de espera do país ter a RTP como televisão única, para aborrecer ainda mais as pessoas, entre as montanhas de revistas com mais de três anos. Na televisão, um senhor que antes andava aos saltos com um macaco a ouvir música pimba, agora tentava dar um ar sério, por entre piadinhas leves de carácter sexual para a co-apresentadora, como que a provar de vez a sua homossexualidade.

Virei-me para as revistas estranhamente actuais, entre as quais algumas revistas femininas de mulheres jovens urbanas que querem estar na moda e aprender novas posições sexuais, a contrastar com as revistas para mulheres de meia idade em pré-menopausa com cusquices dos “famosos”, a descrição detalhada do próximo episódio da novela (porque as mulheres gostam sempre de ver a sua novela a saber já o que vai acontecer) e, sim, adivinharam, novas posições sexuais para apimentarem a vida sexual com o marido de bigode e barriga de cerveja que prefere ver futebol com os amigos que ter que passar o aborrecimento de uma noite com a mulher.

Rio-me com a capa da revista que a senhora em frente a mim está a ler, ela pensa que estou a sorrir para ela e ri-se de volta, não sem disfarçar que está a ler a secção de perguntas sexuais parvas de gente que não sabe o que é a internet, na revista Maria.

A menina por esta altura estava já com mais chiclete nas mãos e no cabelo que na boca, mas isso parecia não a preocupar, enquanto olhava lá para fora, para o fim de dia de inverno, uma imagem tão fabulosa que parecia de filme. Mesmo abaixo do céu azul escuro carregado de nuvens, por entre telhados carregados de antenas a negro, reluzia um néon vermelho gigante que anunciava tapetes.

Juro que se tivesse a câmara comigo, tirava a melhor fotografia da minha vida, como não a tinha, deixei-me ficar com a fotografia mental que se ia gravando na minha memória e no meu sorriso.

Se calhar é por as salas de espera serem tão aborrecidas que a paisagem ganha uma vida extraordinária, às tantas até é uma boa técnica que só dê a RTP e só hajam revistas parvas, para as pessoas olharem lá para fora e verem os sítios por onde passam todos os dias, mas nunca reparam.





As Músicas
Sub-valorizados na sua época (segunda metade dos anos 60), os Velvet Underground viriam a tornar-se uma das bandas mais influentes de sempre e os seus membros objecto de culto, especialmente Lou Reed e John Cale. Som excelente, ainda para os parâmetros de hoje!


What goes on in your mind?
I think that I am falling down.
What goes on in your mind?
I think that I am upside down.
Baby, be good, do what you should, you know it will work alright.
Baby, be good, do what you should, you know it will be alright.
I'm going up, and I'm going down.
I'm going from side to side.
See the bells, up in the sky,
Somebody's cut their string in two.
Baby, be good, do what you should, you know it will work alright.
Baby, be good, do what you should, you know it will be alright.
One minute born, one minute doomed,
One minute up, one minute down.
What goes on in your mind?
I think that I am falling down.
Baby, be good, do what you should, you know it will work alright.
Baby, be good, do what you should, you know it will be alright.






Inspirados na folk psicadélica dos anos 60 (não, não tem nada a ver com transe nem raves, nem nada dessas mariquices pós-modernas), os The Coral têm um som fabuloso para descontrair num dia frio e chuvoso (como o de hoje?).


Shut the bedroom window in the morning
Go to the shop, make plans to be leaving
In the morning...
Thought I was sleeping, it was just a dream
An alleycat chewing on dead leaves
In the morning...

Out of the dark and into the light
When the morning comes
I will be alright

When I leave I try not to wake her
Tea and a toast to yesterday's capers
In the morning....

She wrote my name on the red telephone box
When I got there she'd already rubbed it off
In the morning....

Out of the dark and into the light
When the morning comes I will be alright

And all this time I've watched it change
But it's still the same

In the morning...
In the morning...
In the morning...
In the morning...






Completando a série de sons de inspiração 60s, os Little Barrie são um trio inglês caracterizado pela fusão blues/funk, tudo num ambiente de sala de concertos repleta de fumo (coisa aparentemente fora de moda, à conta de leis e jovens rebeldes que parecem não querer ir contra a lei, sobrando daqueles ambientes de antigamente apenas máquinas de fumo mal cheirosas)


Hook a little trick right past the sleeve,
Because the truth just can't be told
Looking for the passport that you need,
To stop the truth fron breaking your soul


Better leave no clues
To tell him what the hell you want
You know it's only late or soon
Before the truth starts rushin' in

Better keep your head down while you wait,
You wanna keep yourself alive
Put a single ball out at the gate,
Then drag your head right up the track

Better leave no clues
To tell him what the hell you want
You know it's only late or soon
Before the truth starts hittn' home

Well if it's sentiments that you want,
Is there anything that i can do?
You got a sunrise bt you don't,
Quit lookin' for a free salute

Better leave no clues
To tell him what the hell you want
You know it's only late or soon
Before the truth starts rushin' in

Yeah, well if it's sentiments that you want,
Is there anything that i can do?
You got a sunrise bt you don't,
Quit lookin' for a free salute

Yeah, be my enemy
Yeah be my enemy
Yeah, is there anything that i can do?

You got a sunrise bt you don't,
Quit lookin' for a free salute