O Que É Que Há Nessa Bossa?
A varanda não era verdadeiramente digna desse nome, mas lá conseguiu albergar os dois humanos adultos que observavam o nascer do primeiro dia do ano fixados na pequena linha do horizonte desenhada pelo mar, por entre os prédios rústicos de três andares e as dezenas de árvores que enfeitavam as ruas tão características daquela zona da cidade.
Lá dentro outros dois humanos dançavam descalços, colados em si mesmos, matando a saudade que nasceu naquele espaço que os separou.
No chão, o velho gira-discos fazia o que podia para ler em voz alta aquilo que o cansado vinil de 64 lhe dizia à agulha. E depois havia aquele som que nos parava o coração, sempre que o saxofone do Stan Getz entrava pela bossa do João Gilberto era como se o saxofone e a bossa fossem dois velhos amantes que se reencontravam em cada nota musical, em cada passo de dança.
Cá fora o frio começava a fazer-se sentir, agora que as ervas já eram mais cinza que verde. Um ou outro humano embriagado começava a regressar das festas caríssimas que lhes deram a falsa sensação de popularidade por quanto a noite durou. Agora cantarolavam, ou melhor, gritavam uma música outrora bonita e calavam-se mesmo a tempo de voltar a entrar o saxofone.
Um copo de vinho na mão tão pequena em comparação com aquele objecto de design, e umas palavras que saíram tão baixinho que quase não se faziam ouvir, provocando um sorriso forçado em alguém embriagado pelas horas da manhã.
Lá dentro um beijo começava no sofá e terminava no tapete com gargalhadas e ambos de olhos fixados no tecto e uma sensação de bem estar que nascia daquele vinil já riscado por tantas agulhas, cada qual com a sua história.
Fechou-se a janela e fez-se do tapete sofá para o ponto de situação: as cusquices, as situações da noite, a Constança e o Prijinho, a primeira parte do segundo melhor filme de sempre, a festa “cócó” dos “cócós”, o espumante reserva 1973 na praia, a bossa.
Não faltaram muitas mais coisas para a noite ser perfeita, talvez apenas aquele pequeno desejo pedido a um qualquer fruto seco que se fez passar por uva passa.
A Música
Em 1943 Ary Barroso criou um samba que seria transformado em bossa nova em 1963 quando um jovem saxofonista americano chamado Stan Getz contactou um também jovem músico brasileiro associado a esses novos sons que nasciam no Brasil por essa altura. O músico era o João Gilberto e os sons ainda desconhecidos eram a Bossa, a Bossa Nova. Dessa união nasceu o album de jazz mais vendido de sempre em todo o mundo, aqui numa edição tardia da Verve, em formato digital.
Tá fazendo um ano e meio, amor
Que o nosso lar desmoronou
Meu sabiá, meu violão
E uma cruel desilusão
Foi tudo que ficou
Ficou
Prá machucar meu coração
Quem sabe, não foi bem melhor assim
Melhor prá você e melhor prá mim
A vida é uma escola
Que a gente precisa aprender
A ciência de viver prá não sofrer
Lá dentro outros dois humanos dançavam descalços, colados em si mesmos, matando a saudade que nasceu naquele espaço que os separou.
No chão, o velho gira-discos fazia o que podia para ler em voz alta aquilo que o cansado vinil de 64 lhe dizia à agulha. E depois havia aquele som que nos parava o coração, sempre que o saxofone do Stan Getz entrava pela bossa do João Gilberto era como se o saxofone e a bossa fossem dois velhos amantes que se reencontravam em cada nota musical, em cada passo de dança.
Cá fora o frio começava a fazer-se sentir, agora que as ervas já eram mais cinza que verde. Um ou outro humano embriagado começava a regressar das festas caríssimas que lhes deram a falsa sensação de popularidade por quanto a noite durou. Agora cantarolavam, ou melhor, gritavam uma música outrora bonita e calavam-se mesmo a tempo de voltar a entrar o saxofone.
Um copo de vinho na mão tão pequena em comparação com aquele objecto de design, e umas palavras que saíram tão baixinho que quase não se faziam ouvir, provocando um sorriso forçado em alguém embriagado pelas horas da manhã.
Lá dentro um beijo começava no sofá e terminava no tapete com gargalhadas e ambos de olhos fixados no tecto e uma sensação de bem estar que nascia daquele vinil já riscado por tantas agulhas, cada qual com a sua história.
Fechou-se a janela e fez-se do tapete sofá para o ponto de situação: as cusquices, as situações da noite, a Constança e o Prijinho, a primeira parte do segundo melhor filme de sempre, a festa “cócó” dos “cócós”, o espumante reserva 1973 na praia, a bossa.
Não faltaram muitas mais coisas para a noite ser perfeita, talvez apenas aquele pequeno desejo pedido a um qualquer fruto seco que se fez passar por uva passa.
A Música
Em 1943 Ary Barroso criou um samba que seria transformado em bossa nova em 1963 quando um jovem saxofonista americano chamado Stan Getz contactou um também jovem músico brasileiro associado a esses novos sons que nasciam no Brasil por essa altura. O músico era o João Gilberto e os sons ainda desconhecidos eram a Bossa, a Bossa Nova. Dessa união nasceu o album de jazz mais vendido de sempre em todo o mundo, aqui numa edição tardia da Verve, em formato digital.
Tá fazendo um ano e meio, amor
Que o nosso lar desmoronou
Meu sabiá, meu violão
E uma cruel desilusão
Foi tudo que ficou
Ficou
Prá machucar meu coração
Quem sabe, não foi bem melhor assim
Melhor prá você e melhor prá mim
A vida é uma escola
Que a gente precisa aprender
A ciência de viver prá não sofrer
5 COMENTÁRIOS:
sim,já nao dizia nada aqui à muito,mas as minhas palavras têm sido escassas nos últimos tempos,e para não dizer barabaridades,fico me pelo silêncio ;)
o texto,está repleto de açucar como sempre ;) revejo nele noites passadas,carregadas de cumplicidade e boa música de fundo.
já essa música é que me deixou um pouco k.o.
hoje não é 1ano e meio que faz,mas 1 ano em que...bom,em que essa música explicaria perfeitamente aquilo que vivi.são as tais coincidencias (se é que as há...) surpreendentes que me deixam sempre a pensar se a minha vida não daria um verdadeiro filme...
bom,já falei muito.
desejo-te um óptimo 2008 joão,com tudo de bom que ele te poderá oferecer :)
beijinho*
Que coisa tão linda, não te sei explicar
Obrigaste-me a ir buscar uma embalagem nova de lenços de papel
Estou sensível, tá?
Acho que este é dos teus melhores textos de ultimamente, muito melhor até que os textos sobre a Lua, que são sempre melancólicos
Não estou nada melhor, acho que vou ter que ir a um médico privado. Que merda de sistema de saúde, o Sócrates havia de ser enrabado pelos seguranças do gang da ribeira. Oh, ele até gostava disso...
Beijos que são sempre poucos para ti!
como é que consegues transformar em poesia coisas tão banais?
"era como se o saxofone e a bossa fossem dois velhos amantes que se reencontravam em cada nota musical, em cada
passo de dança"
a parte em que entra o saxofone é mesmo sublime
ai aiiii
não queres casar comigo?
Mmmm... Esta música já me trás boas recordações. Se bem que todas as recordações contigo são boas recordações. A bossanova foi só um final de noite perfeito, quase perfeito para ti.
Espero que 2008 te corra muito melhor que 2007! Comigo ao teu lado vai correr!
lol
Beijo*******!
Cris,
E tu dizes lá barbaridades? Para isso estou aqui eu...
Na verdade essa música acho que foi a primeira que meti aqui não pelo conteúdo da letra, mas só pelo que a música me faz lembrar, só pelo simples facto de ser a que estava a tocar no momento que tentei descrever neste post. De qualquer forma, eu acho que esta é das músicas em que toda a gente se revê um bocadinho. É triste, mas também é muito positiva: "Quem sabe, não foi bem melhor assim", ou a minha preferida: "A vida é uma escola / Que a gente precisa aprender / A ciência de viver prá não sofrer"
Não temos falado muito (ou nada, pronto...) mas um dia metemos a conversa em dia (óps, desculpa a redundância irónico), talvez com o tal café que ficou perdido no tempo?
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Marta,
Tu põe-te mas é boa, rapariga, a vida é uma seca sem ti. De quem é que eu vou falar mal agora?
Os meus textos são um bocado melancólicos, não são só os da Lua, mas eu não sou melancólico, o que é estranho...
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Ana,
lol
Eu não faço poesia, apenas descrevo o que se passa à minha volta, e muito mal, diga-se...
Olha, assim de repente, pode ser! Só tem é que ser em regime de bens adquiridos, que eu não quero ter que ficar com um dos teus implantes mamários se a coisa correr mal.
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Lara, Larinha, Larocas,
É engraçado, não é? Ainda foi há tão pouco tempo e já temos assim recordações como se tivesse sido há mais tempo.
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Beijos e que 2019 vos traga a alegria... da estrela do natal... hum... que encaminha os reis... até ao bolo que ninguém gosta mas que está sempre lá!!
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